Episódio VI: Encontros para comer

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[Notas da autora]

Boa leitura!



        ☆

O sábado abre com um contratempo primaveril: a chuva. Desde que Jungwon abriu os olhos, o céu está nublado e, deste modo, o encontro com Sunghoon fica sob risco. Após um gole de café levemente adoçado, coloca a modesta xícara branca em suas mãos na pequena e única mesa do apartamento. Suspira ao lembrar que as chuvas desta estação se iniciam ao final da tarde e estendem-se até a noite. É um tanto quanto desestimulante.

Jungwon olha pela janela da sala-cozinha, está tudo embaçado, úmido. Quando sente que engoliu todo o café na boca, pega a xícara de novo e repete o processo de antes. A vista do lado de fora é indecifrável e, com a mão no queixo, ostenta uma expressão desgostosa.

Entediado, levanta-se, indo até a janela, limpando o vidro com a mão direita e observando a rua.

O ar está gélido e as nuvens vão se juntando na paisagem como uma ameaça à espreita. É um desses dias ótimos para se ficar em casa, enrolado nas cobertas junto de outra pessoa, um namorado, quem sabe. Mas na vida de Jungwon não há, ainda, esse tal alguém.

Park Sunghoon é uma expectativa, uma chance em um milhão de Jungwon descobrir mais sobre a curiosa paixão. Um sentimento que até então nunca existiu para ele. Mas os seus planos para o futuro, aquele que lhe parece próximo e no qual Sunghoon está incluso, estão prestes a ser frustrados por causa do tempo fechado. E é complicado lidar com esta sensação de mãos-atadas, principalmente no instante em que está embriagado, não com o café quente, mas com a possibilidade deste poder ser o seu primeiro encontro.

Mas nem seria um encontro. Ou seria?

Nenhuma certeza existe para responder a esta pergunta, afinal, Jungwon nem sabe quais as verdadeiras intenções de Sunghoon com o convite. Talvez o rapaz faça apenas um tipo cortês que gosta de ajudar estrangeiros — ou pseudo-estrangeiros — a ter bons momentos na cidade. Mas isso não explica a empolgação de Sunghoon ao encontrá-lo no mercado e muito menos o fato de Jungwon ter quase certeza de que ele havia flertado consigo no dia anterior.

Se bem que Jay fez algo similar.

Ao menos, foi o que pareceu — talvez não com intenção — e depois ainda convidou Jungwon a conhecer os cantos de Seul. Para este caso, porém, Jungwon acredita poder afirmar não se tratar de um monte de encontros, mas de uma atividade do clube. Desde sexta-feira, o líder e ele estão trocando mensagens, mas não é como se isso fosse algo mais que casual ou mais que uma atitude de possíveis amigos.

O que torna então as coisas com Sunghoon diferentes?

Jungwon encosta a cabeça no vidro gelado, umedecendo a testa.

A única resposta plausível é que Jungwon está interessado nele e a ideia de que a gentileza alheia significa coisa a mais é agradável. Tudo isso ao ponto de transformar um passeio num encontro, algo facilmente projetado na mente de um jovem passando pelos últimos suspiros da adolescência.

Mas se por acaso Sunghoon tiver uma segunda intenção e marcaram mesmo um encontro, já não faz a menor diferença. Jungwon ficará preso em seu apartamento por causa da chuva.

As torrentes primaveris nem seriam capazes de imaginar o quanto são malquistas por ele, que mais uma vez se vê atrasando uma experiência importante. Logo quando Jungwon decide experimentar ao menos uma delas, o universo prefere não colaborar.

Daltônico | JaywonOnde histórias criam vida. Descubra agora