Murphy. (0)

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     Lee Minho estava ferrado!

     Absolutamente tudo, tudo, que poderia dar de errado com alguém, ocorria com ele. O jovem poderia ser considerado uma pessoa com extremo azar.

      Quando ele torcia para alguém não gostar dele, esta pessoa acabava se declarando. Quando ele queria desesperadamente desejava uma companhia, a outra o desprezava. Quando ele tinha certeza de algo, a coisa se provava o contrário.

      Sua vida era assim, um infortúnio, uma eterna Lei de Murphy, um descaso! Sua vida era, com todas as letras, ordinária.

        Como toda pessoa que sofria de infortúnios, ele tentou de tudo. Tentou todos os métodos, de todas as religiões que eram conhecidas – e talvez algumas desconhecidas – para tentar se livrar deste karma que parecia eterno.

      Cada líder religioso o dizia uma coisa. Uma vez, ele recorreu a um padre, que o disse que o problema dele era ser distante de Deus. Minho fez de tudo, ia à igreja de domingo a domingo, quanse entrou em um seminário, mas nada lhe ocorria. Além disso, ele sabia que não conseguiria ficar muito tempo sem dar uns beijinhos, então entre pecar mais e largar a igreja, era melhor arriscar.

        Outra, foi em um monastério. O Monge lhe explicou que tudo que lhe ocorria nesta vida, era consequência da vida passada. Minho pensou que talvez tivesse sido alguém muito ruim, então tentou compensar seus pecados fazendo boas ações, doando boa parte do que tinha, fazendo jejuns. Tudo, ele tentou de tudo.

        Em sua vida profissional não era diferente. Minho tentou diversas profissões, mas nenhuma delas dava certo! Tentou ser educador infantil, biólogo; estudou meio semestre de advocacia, mais meio de medicina; tentou ser malabarista, carteiro, caixa de supermercado, entre muitas outras. Não conseguia ficar mais de três meses na mesma profissão, algo sempre o atormentava e o impedia de completar. A única coisa que conseguiu terminar foi a faculdade de Recursos Humanos, assim como um cursinho de dança.

       Não o levem à mal, ele estava muito grato por algo bom ter acontecido em sua vida. Mas, sinceramente... Recursos Humanos? Onde ele estava com cabeça ao decidir aceitar um emprego onde tudo que ele tem que fazer é lidar com burocracia e reclamações? Em sua vida já não tinha coisa o suficiente para reclamar?

       Ele conseguiu um emprego em uma empresa responsável por entreterimento. Constantemente sua vida miserável entrava em colisão com alguma celebridade que parecia inalcançavel. Minho não gostava de admitir, mas sentia uma imensa inveja deles, da vida deles, de como eram bem sucedidos.

      Geralmente, quando eles chegavam na empresa ou nas poucas ocasiões que Minho encontrava qualquer um deles, eram sempre muito educados. Era uma educação quase fantasiosa, podada, que dava a impressão ao jovem de que ali em sua frente haviam entidades.

      Minho se sentia constantemente envergonhado perto deles, como se todos tivessem um radar que pudesse notar o quão desafortunada a vida do mais novo era. Às vezes, tinha a impressão de que alguns realmente podiam perceber e, talvez quase sem querer, o desprezavam – ou talvez fosse o autodesprezo do jovem falando mais alto.

       O Lee tinha muitos problemas, com certeza, mas o maior deles era ele. Aquele verme.

        Han Jisung. O cara mais sortudo que Minho já conheceu. Enquanto tudo na vida deste era uma maré de azar, o oceano daquele parecia sereno e cheio de sorte.

       Tudo na vida dele era bom e parecia que ele havia sido criado para jogar na cara do Lee como tudo teria sido bom se ele não fosse um desastre total. E, como tudo que poderia dar errado na vida de Minho, com certeza, daria errado, este energúmeno era seu vizinho desde a infância. E, para piorar, seus pais eram amigos.

         Era como se a vida tivesse pregando uma peça de muito mau gosto em Lee. Eles frequentaram a mesma escola primária, secundária e o mesmo ensino médio. Se havia alguém que Minho conhecia e odiava, era aquele menino.

        Han era perfeito, sempre foi. Tinha os dentes perfeitos, não havendo necessidade de usar aparelho, sua visão era excelente, sua pele bonita, suas notas eram as melhores da classe e ele vivia rodeado de amigos e pessoas que o adoravam. Diferente do Lee, que sempre teve que usar aparelho, era um esteriótipo de nerd pois precisava de óculos também e era cheio de espinhas. Suas notas eram boas, mas nada em comparação ao seu rival. Não tinha muitos amigos também, ele parecia ser um repelente de pessoas.

       Minho fantasiava todas as noites sobre o dia que o outro se mudaria de cidade, fosse para bem longe. Ou melhor, sofresse um acidente e precisasse se ausentar da escola – cruel, eu sei, mas nem deus sabe o perigo dos pensamentos intrusivos de um pré adolescente que sofria bullying.

      Tinha a grande impressão de que todo seu azar se tornava pior por causa da sorte exorbitante do outro. Para piorar tudo, seus pais viviam os comparando; ele sentia que era um constante fardo para eles, já que ambos não tinham nada para se gabar.

       A única fase boa da vida do Lee foi quando o ensino médio acabou. Jisung se mudou, sumiu por um tempo. Minho tirou o aparelho, começou a cuidar mais da sua pele e a usar óculos que a armação combinava com o seu rosto. Na universidade de pedagogia, conheceu seu melhor amigo, Felix, que o apresentou para algumas pessoas, o ajudou a se vestir melhor. Minho até conseguiu namorar uma vez, mas não deu certo (obviamente).

      Ficou dois anos vivendo de uma forma consideravelmente boa, poderia até dizer que seu status tinha mudado de um "completo miserável" para um "quase normal".

       Concluiu a faculdade de RH, então foi aí que seus problemas começaram de novo. Quando entrou naquela porcaria de empresa, quando encontrou novamente o seu maior problema e descobriu que ele estava treinando para debutar como um solista.

       Quando se reencontraram, aquele inseto maldito abriu um sorriso. Para qualquer um que olhasse de fora, pareceria amigável. Para Minho, aquele sorriso significava o pior dos seus pesadelos; era como se Han soubesse o que aconteceria, soubesse e ficasse feliz, pois todo o azar de Lee dependia dele.

       — Bom ver você depois de tanto tempo. – foi tudo o que ele disse antes de dar as costas, deixando um jovem completamente estático para trás.

      E isso foi só o começo de tudo.

orddinary . - MINSUNGWhere stories live. Discover now