Capítulo 03

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Ele estava parado na porta. Olhava para mim embasbacado, como se não conseguisse acreditar no que estava vendo. Era a primeira vez que nos víamos em um ano e Steve me encarava como se seu maior pesadelo tivesse acabado de se materializar na sua frente.

Eu não sabia o que dizer também. Sonhei com aquele reencontro todos os dias em que estivemos separados, mas isso não significava que soubesse o que fazer quando finalmente estivesse naquela situação.

Ali estavam duas pessoas que anteriormente estavam dispostas a dividir a vida, a prometer passar todos os dias ao lado um do outro, porém agora não passavam de dois estranhos.

Eu o amava.

Eu não tinha a menor ideia de quais eram seus sentimentos com relação a minha pessoa. Entretanto, torcia para que por baixo de todo o ódio e desprezo, existisse ainda um pouco do amor que antes ele dirigia para mim.

— Eu sou a repórter.

Acabei falando o óbvio, estava extremamente nervosa. Minha voz parecia pertencer a outra pessoa, de tão fina que saiu. Com um pigarro acabo organizando-a de novo, voltando ao normal.

— Quer dizer... Eu sou a responsável pela matéria sobre a primeira sede da Barnes and Noble aqui no Brasil. Devo entrevistar o gerente e responsável pela livraria aqui no país.

Espero que Steve tenha alguma reação, mas ele só continuava parado lá. Ainda sem decidir se ficaria na sala ou sairia correndo. Em outros tempos não haveria hesitação antes de nos jogarmos nos braços um do outro.

Mas ele não era mais meu, eu o havia perdido a um ano atrás quando o deixei sair por aquela porta sem falar nada. Não... eu o perdi quando não o escolhi, quando preferi não arriscar.

Só que aquela era a decisão certa a ser tomada na época, sei disso.

— Fui enviada pela revista. Tenho uma coluna sobre livros e o mercado editorial como um todo. — faço outra pausa, mas pelo visto continuaria a falar sozinha — Você sabia que eu viria, certo?

E aqui fui muito além da minha posição como repórter. Claro que ele sabia que alguém da revista viria, o que queria realmente saber é se Steve ainda mantinha esperanças de que eu iria aparecer. Quando brigamos havia deixado claro que era só alguns meses, que iria atrás dele, só que o final foi diferente do que eu planejava.

Mesmo assim consegui manter a minha parte, vencer o medo da rejeição e ali estava, pronta para tentar reconquistá-lo se ele assim permitisse.

Precisava saber se Steve ainda acreditava que eu iria voltar para ele.

— Não — ele me responde sério, segurando a maçaneta da porta com força e sem fechá-la — Não sabia que você viria. Não tinha garantias disso.

A resposta dele deixava claro que tinha entendido o que havia por trás da pergunta. Também respondia para mim em que ponto nós dois estávamos. Ele não gostava de mim, ainda estava magoado e aquilo era só consequência das minhas ações.

Um silêncio recaiu entre nós dois. Desviei o olhar sem conseguir encarar o desespero estampado em seu rosto. Ele queria fugir. Não suportava nem ao menos ficar no mesmo ambiente que eu.

Ter consciência disso fez com que meu nervosismo aumentasse e meu coração acelere ainda mais. Eu teria uma parada cardiorrespiratória bem ali.

— Como quer fazer isso? Gravador, câmera, aqui dentro, na cobertura? Pode escolher, para mim tanto faz.

Desvia o olhar, colocando as mãos na cintura e suspirando audivelmente. Ele estava tão nervoso quanto eu, isso era evidente.

— Steve... — chamo, mas não surte nenhum efeito, ele continua sem olhar para mim. — Aqui dentro está bom. — resolvo me render e começar a falar da entrevista — Depois só vou precisar tirar algumas fotos sua e da livraria. Geralmente quem faz isso é outra equipe, mas pedi para ficar inteiramente responsável por essa matéria.

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