Dia Vinte e Seis

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Âmbar passou mais uma noite em claro, pensando se teriam encontrado o computador no armário. Enquanto Édgar em seu quarto dormia feito um bebê devido ao efeito do calmante, o qual ela exagerou um pouco por causa da pressão do esquema.

"Ele vai reclamar o dia todo quando acordar" — a doutora pensava enquanto se divertia com a ideia do amigo ralhando com ela.

Mas logo seu pensamento voltava ao problema, ela sabia que a mutação que ocorria nos corpos dos humanos antes de se tornarem Abutres era algo surreal e extremamente doloroso para a cobaia, as células extraídas do núcleo do Fênix trazia uma espécie de corrosão para as células naturais do ser humano, um vírus, se formos olhar do ponto de vista infeccioso da ciência. Ela havia o testado em tecidos diferentes e em cada um deles uma reação diferente ocorria, nos ratos a reação era similar aos humanos, mas nos porcos, macacos e outros animais o ser vivo definhava até a morte. Isso ainda não explicava como os Abutres conseguiam sugar a vida humana da mesma forma, ela precisava do acesso aos arquivos para juntar as peças.

Sarah não era como eles, se fosse compará-los seriam como opostos, ying-yang. Enquanto as células de Fênix corroíam o corpo humano, na garota havia uma espécie de trabalho em conjunto, Âmbar conseguiu encontrar alguns traços genéticos parecidos com Fênix nas células do corpo da amiga, mas isso era apenas vinte por cento do que as constituíam. As células fortaleciam seu corpo, se reuniam em ferimentos fazendo com que a cicatrização fosse cem vezes mais rápida que em um ser humano normal, se os danos fossem graves, o corpo reagia quase que imediatamente, ainda havia o risco de morte, porém com a força que o corpo de Sarah já possuía, junto com a força das células residentes, ela se tornava praticamente indestrutível. Não era algo como nanotecnologia, era biológico ao mesmo tempo em que possuía uma reação mecânica.

Ainda havia algumas perguntas pairando na mente da doutora enquanto repassava suas descobertas, as asas de Sarah não eram somente de material orgânico, parecia uma liga metálica que o corpo dela expelia para dar forma a garota alada. Não era nenhum metal existente na tabela periódica, nem mesmo uma substância orgânica como bicos, unhas e carapaças. Era algo novo, forte, leve e resistente. Algo que somente ela produzia, como se realmente tivesse sido escolhida para receber este dom. Enquanto os Abutres possuíam asas de aço retorcido implantadas em seus corpos pelos cientistas do centro, unindo corpo e metal com a ajuda do vírus de Fênix.

Uma outra dúvida que a doutora carregava era o fato do vírus ter sido extraído, supostamente, de um dispositivo encontrado a séculos atrás. Seria uma espécie de cápsula do tempo, ou um meteoro que carregava agentes extraterrestres que geravam mutação nos seres que entravam em contato com ele, ou simplesmente uma mentira para encobrir a real história daquele projeto?

Tudo estava nos arquivos criptografados, o acesso necessário aos locais classificados como confidenciais, o acesso aos laboratórios onde manipulavam o Fênix, a localização dos Abutres e o estudo de tudo que havia sido descoberto desde o primeiro contato com o dispositivo. Âmbar mal podia esperar para acessar aquele computador.

Sarah recebia o relatório da amiga em suas visitas diárias. Ao passo em que se conhecia, mais aquela coisa dentro de si crescia. Se aquilo vinha para melhorar as coisas, ainda não sabia.

...

Os livros que deixaram no quarto de Sarah lhe davam um pouco de liberdade, enquanto consumia uma história atrás da outra, ela deixava sua mente voar de lugar em lugar, o que lhe dava clareza de pensamento em meio ao cansaço constante ao que era submetida. Drogas, exames, experimentos, nos piores deles retiravam Âmbar do local com algum subterfúgio e ela não fazia questão de contar o que havia se passado no tempo em que a amiga não estava. Aquela dor seria guardada a sete chaves dentro de si. Malcam fazia-se de bom moço enquanto Édgar e a doutora estavam próximos, sozinhos ele exibia o pior da humanidade. Como seu próprio discurso, acreditava que tudo o que fazia era para o bem, todos os cortes, todos os exames invasivos, toda droga que colocava em seu corpo. Ele já havia chegado ao ponto de envenenar Sarah com veneno da cobra Taipan, a mais letal já existente no planeta. O que ele queria dela a fazia sobreviver a todos os experimentos, mas infelizmente não a poupava da dor, náuseas, febre, vômito, calafrios e espasmos.

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