𝕮𝖆𝖕𝖎𝖙𝖚𝖑𝖔 𝖖𝖚𝖆𝖙𝖗𝖔

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Esperei pacientemente ela passar por todos os estágios da medicação, começando por uma leve euforia,  seguido por uma sensação prazerosa e uma perda funcional das ações motoras, então desligar sua consciência e apagar. Não tirei meus olhos dela, até que finalmente estivesse em sono pesado, acho que agora consigo sair fora.

Olhei no relógio do celular, e puta merda! Já eram quase cinco horas da manhã, pensei que o efeito desse bagulho era mais rápido. Me apressei então em arrumar minhas coisas, já que havia perdido muito tempo esperando que ela finalmente dormisse. Na mesma bolsa em que eu estava arrumando antes de ir buscá-la, chequei se estava bom de roupas, de início eu iria ter que levar para nós dois, já que eu não estava levando nada para ela. Estava entretido nas roupas, até ouvir meu celular tocar, vendo na tela o nome do meu parceiro, já o atendendo de cara.

  -Fala?

Parceiro: Iae, irmão! Tudo certo pra aquele bagulho lá?

  -Tudo certo... Ela já tá desacordada, pai!

Parceiro: Suave... Só botar no jatinho e passar o cinto, vai acordar em outro país fi.

Ele ri na ligação, me fazendo suspirar.

  -Eu não sei se ainda quero fazer isso!

Parceiro: Ué mano, por que tá desistindo agora? A mina já tá dormindo, já tá tudo no esquema, vai amarelar?

  -Eu to com medo, irmão! Eu vou estar indo pra um lugar onde não conheço ninguém, pra começar do zero! Tenho medo de dar tudo errado, como vou voltar depois? A mãe dela vai estar igual um demônio atrás de mim.

Parceiro: Ixi, truta. Esse não é o Kevin que eu conheço não, tu sempre bota a cara a tapa pra tudo, tá com medo do que agora? Para com isso parça, sabe que se precisar é só me dar um salve.

  -Mano, não vai ter salve, não vai ter nada! Esse celular aqui eu vou deixar, vou levar um zerado que eu comprei, não vou colocar nem whatsapp nele. Entendeu que eu vou sumir? Eu não vou voltar mais.

Parceiro: Pera, ai tu tá se precipitando! Como tu vai sair fora, com uma mina que nem sabe o que tá acontecendo, com umas pecinhas de roupa, um celular zerado e um dinheiro que você sabe que uma hora vai acabar? Você tem que ter pelo menos uns contatos pra você falar quando precisar, irmão.

  -Cara, eu não posso confiar! Isso vai dar uma confusão da porra, então ninguém pode nem sonhar que eu esteja tendo contato com alguém daqui.

Parceiro: Ah, mano... Tu que sabe. Mas eu acho que ficar incomunicável é arriscado, você precisa de alguém que tenha a quem recorrer quando a coisa apertar. Mas beleza, não vou ficar me metendo nos seus planos, só me diz que horas você pretende ir pra lá.

Ele diz com uma voz mais séria, por um lado ele estava certo, mas por outro ele não estava entendendo a proporção que isso iria tomar.

  -Parça... Eu to terminando de arrumar as coisas aqui, mais ou menos umas cinco e quarenta eu to saindo, só que tem um porém.

Parceiro: Qual?

  -Onde é que eu vou deixar meu carro?

Parceiro: Que carro, irmão? Quer botar tudo a perder? Meu parça vai ir buscar vocês.

  -Mano, as câmeras vão pegar a placa dele, ta louco?

Parceiro: Que placa? -Ele ri- Tu acha que to moscando, Kevin? Aqui eu faço tudo por debaixo dos panos. Só deixa liberado na portaria pra deixarem ele entrar, ele vai passar o nome de Emanuel, não esquece, Emanuel.

  -Beleza...

Parceiro: Termina ai o que cê tem pra fazer, se acalma que vai dar tudo certo. E quando estiver tudo no jeito, tu me dá um salve.

  -É isso tio, vou desligar aqui.

Afastei meu celular do ouvido, encerrando a ligação. Passei as mãos pelo rosto em completa aflição, caralho o que eu vou fazer agora? Não tem como voltar pra trás, ele vai encher o meu saco!

Terminei de arrumar minhas coisas, e fui até a bolsa de (s/n), onde a abri e comecei a pegar algumas coisas dela que ela levava para o trabalho. Bolsinha de maquiagem... Produtos de higiene... Estilete? Eita bichinha bruta, esse fica, vai que ela tente me matar com ele! Escova de cabelo... RG, isso não pode faltar, na verdade nem precisaria, tenho no meu celular o rg e o visto dela. Seu passaporte estava comigo, já que umas cotinhas atrás viajamos para Miami, foi top aquela viagem, deu até uma nostalgia agora.

Peguei tudo o que seria importante e coloquei junto das outras coisas. Não era algo super bom que pudesse ajudar ela lá, mas pelo menos tem umas coisinhas pra ela. Por fim, tomei meu celular em mãos, onde comecei a desconectar minhas contas e desativar o meu whatsapp, anotei o número do meu parceiro em minha mão e apaguei o histórico de ligações, em seguida apagando também todos os meus contatos. Em sequência, resetei meu celular o deixando em modo de fábrica, como se tivesse acabado de comprar. Já o celular de (s/n), desbloqueei o mesmo, já que ela havia habilitado minha impressão digital no aparelho, a importância que eu tenho fi, esquece! Ela confia em mim pra caralho mesmo. Sem demora, desativei tudo do mesmo, Wi-fi, dados móveis, local, Bluetooth e coloquei em modo avião. Iria retirar o chip dela e levar comigo, mas vai que consigam me rastrear por ele, a tecnologia hoje em dia tá muito avançada, pai. Melhor não arriscar, deixa ai!

Após conferir e ver que estava tudo "certo", desci devagar até o telefone que dava acesso ao porteiro, ligando para o mesmo.

Porteiro: Portaria Aruã Eco Park Lagos, bom dia! No que posso ajudar?

  -José? E aí, seu Zé, bom dia.

Porteiro: Bom dia, meu jovem! O que deseja?

  -Só queria avisar que vai chegar um amigo meu aí, Emanuel o nome dele. Ele vai passar aqui em casa pra pegar umas peças do meu carro, pode liberar ele suave, não precisa nem ligar aqui pra confirmar.

Falo o mais baixo possível, para que ninguém pudesse ouvir, aliás tudo seria prova quando eu sumisse.

Porteiro: Emanuel, tudo bem. Irei liberar!

  -Obrigado seu Zé! Tenha um bom dia, falou.

Desligo o telefone respirando fundo. Agora que não posso voltar atrás mesmo, já estava tudo no esquema.

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𝕽𝖊𝖘𝖙𝖆𝖗𝖙 𝕺𝖋 𝕺𝖚𝖗 𝕷𝖎𝖛𝖊𝖘Onde histórias criam vida. Descubra agora