Desconhecidas

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- Como assim você não conhecia a Valentina? Pirou? - Duda levanta da cadeira, agitada.

- Não conhecia! - Encolho os ombros. - Acredite, eu nunca esqueceria essa mulher.

- Acredito. - Põe a mão no rosto, fingindo pensar. - É, faz sentido. Valentina é realmente uma pessoa inesquecível. Até eu que sou hetero, faria coisas com ela sem pensar duas vezes. 

- Eduarda. - Abro a boca, mas rio. -  Tá, me diz. De onde eu deveria conhecê-la? 

- Da Orange, óbvio. - Minha amiga se aproxima. - Ela que faz aquelas fotos maravilhosas de lá. Sinceramente, Luiza! Todo evento ela está lá. 

- E desde quando eu estou sóbria na Orange, Duda? - Viro os olhos, escutando sua gargalhada. - Deus, eu preciso parar de beber.

- Para. Até parece que você vive saindo... Se saísse mais, teria mais equilíbrio. 

- Você esquece que eu tenho um filho pra criar.

- Jamais. Meu afilhado é uma criança consciente e cheia de lugares para ficar enquanto a mãe sai para se divertir um pouco. - Ela senta ao meu lado, puxando a cadeira para muito perto de mim. - Fala, Luiza. Quando foi a última vez que você transou? - Eu suspiro, balançando a cabeça. - Vai. Mas, transou de verdade! Numa cama, por horas...? 

- Duda...

- De que adianta você sair uma vez perdida, encher a cara, dar uns beijos, no máximo, e passar o resto da noite falando sobre o Leo? 

- Duda, são 8 horas. - Olho para o relógio. - Muito cedo para um sermão. 

- Tudo bem. -  Levanta as mãos. Eu continuo séria. - Tudo bem, me desculpe. Eu só... Fico preocupada com você. 

- Estávamos falando sobre a Valentina. - Lembro. Duda sorri grande. 

- E vocês conversaram muito? - Pergunta com expectativa. Eu mordo o lábio, desviando o olhar. Pela visão periférica, eu posso ver o sorriso de Duda diminuir. - Você falou com ela, pelo menos?

- Hmm, sim. - Esfrego o rosto. - Ela me deixou um pouco nervosa.

- Não te julgo. - Encosta na cadeira. - E quando sua mãe está pensando em ir buscar as fotos?


Antes da festa acabar, Valentina se despediu. Eu assisti a fotógrafa sorrir para meus pais, para minhas irmãs e, principalmente, eu assisti o cumprimento dela com Leo. Os dois pareciam ter criado uma certa intimidade. Depois que eu pedi para que ele fosse brincar com as outras crianças, meu filho voltou quietinho para perto da de olhos verdes, que comia o jantar em uma mesa separada. Leo sempre disse que as crianças das amigas da mamãe eram chatas. E eu sei como é isso. As filhas das amigas dela também eram. Acredito que os netos também não se salvem. Leo nunca gostou muito de ficar no celular ou em videogames. Ele só gosta de jogar, quando eu jogo com ele. Mas, prefere correr e voltar pingando de suor. Futebol é com ele mesmo. Várias vezes eu o vi tentando se enturmar com as crianças daqui, mas é sempre a mesma coisa. Ele chama para as brincadeiras, elas até vão... E logo sentam com seus brinquedos caros e colocam os dedinhos para funcionar. É mais prático para algumas mães também. Não tem o risco deles caírem na piscina.

Pelo visto, a Valentina deu a atenção que ele queria. Porque eu vi meu filho gargalhar, enquanto a mulher cobria a boca com o guardanapo, jantando. Pensei em tirá-lo de lá, pois a fotógrafa estava tentando comer e ele estava atrapalhando. Cheguei até a levantar. Então ouvi o som da gargalhada dela se misturar com a dele. Minha perna cedeu, me fazendo sentar outra vez. Ela não estava incomodada. Estava se divertindo com a presença dele. E ele com a dela. Leo nem gosta dessas festas. Eu queria ter agradecido a ela. Queria ter apertado a mão dela, como Sarah e Carol fizeram. Queria ter chamado pra sair. Queria ter pego seu número. Mas, apenas acenei de longe, vendo-a ir embora. E, espera aí! 

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