Reflexo

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- E acho que é isso! - Digo, batendo uma mão na outra. Meus alunos vibram, cansados. - Estamos melhorando. Passo a passo. - Sorrio, sincera. - Literalmente. Bem, até quarta. Bom descanso pra vocês.

Eles vão se dispersando aos poucos, pegando as mochilas, virando as garrafas de água, conversando. Eu amava esse momento, sempre saia com a cabeça maquinando e com uma paz no corpo indescritível. Tinha dias que eu não queria parar, pedia para os professores pra eu continuar um pouco mais nos estúdios. Na faculdade, eu podia fazer isso. Era meu refúgio. Minha fuga. E agora poder observar meus próprios alunos é muito interessante. Fico tentando imaginar o que eles estão sentindo. Às vezes eles conversam comigo, às vezes eles preferem conversar entre eles. Ou apenas... saem e seguem suas vidas. 

E eu fico morta de curiosidade.

- Luiza! - Duda agarra meu punho, me puxando. 

- Tá louca? - Levo a mão ao peito, assustada. - Quase me mata!

- Você que tá aí me matando de curiosidade desde ontem. - Reclama. - Me fala logo tudo. - Ela olha para os lados e vai trancar a porta do estúdio, agora vazio. - Todos os detalhes.

- Eu já falei, Duda. - Viro os olhos, pegando minha garrafa. Ela cruza os braços. Eu não posso evitar o sorriso. - Nos beijamos... um monte! - Suspiro.

- E...? 

- E isso. - Mordo minha boca, evitando olhar pra ela. - A gente saiu da orange, íamos ficar na área externa. Mas, acabou que saímos andando... - Encolho os ombros. - Ali pela ferinha. Conversando... Parando de andar para nos beijarmos de novo. E de novo. - Me perco nas lembranças, sentindo algo no estomago. 

- Hmmm... - Minha amiga senta no banco. - Então o date foi esse? 

- Sim. 

- E foram para casa... separadas... - Divaga. Eu respiro fundo e a encaro.

- A gente não transou, Eduarda. 

- Isso eu já entendi. 

- Então pare de ficar esperando que eu te diga isso. - Me irrito. - Saco!

- Calma. - Ela franze a testa. - Não estou esperando isso. Digo... Vocês duas juntas pareciam uma bomba relógio perto uma da outra de tanta tensão sexual, claro que eu esperava. Confesso que estou processando que foi um date mais romântico.

- Não foi romântico. - Sento no banco, pensativa. - A gente... Nossa! - Suspiro. 


- É muito bom te beijar. - Suspira, se afastando. - Difícil parar.

- Precisa parar não. - Digo, ainda de olhos fechados. Sinto seu riso contra meu rosto. - Que horas são? - Pergunto, com a testa encostada no ombro dela. 

- Hmmm... - Valentina se remexe. - São 4:50h. - Responde e eu abro os olhos, depressa.

- Sério? - Olho pra cima. - Caralho, achei que ainda fosse cedo. 

- Ainda é cedo. - Ela sorri, travessa. - É domingo.

- Fazia tempo que eu não ficava até tão tarde fora. - Admito. Valentina tira meu cabelo do rosto. 

- Onde o carinha está?  - Pergunta e eu deduzo que ela esteja falando sobre meu filho.

- O Leo ficou com meus pais. - Me espreguiço. A rua está mais vazia, mas algumas lanchonetes seguem abertas. 

- Então não precisa se preocupar. - Passa o polegar na minha mão. - Estou com um pouco de fome. - Faz uma careta e eu suspiro de alívio.

- Eu estou morrendo de fome. - Confesso. Valentina ergue as sobrancelhas, rindo mais alto. 

Outro MundoOnde histórias criam vida. Descubra agora