Apricity | Shawn Hunter

01. Girl Meets Boy

— Não, Victoria. Eu não vou deixar você arruinar tudo para virar uma costureira. Você tem noção do que eu e seu país construímos? – A mulher gritava enquanto gesticulava com as mãos freneticamente, movendo-as de um lado para o outro em frente à sua filha. — Você tem ideia de como você é egoísta?

— Eu sou a egoísta aqui? — A mais nova levantou a sobrancelha enquanto saia do sofá de couro que estava sentada, caminhando para fora da sala de estar e indo em direção ao corredor. Podia escutar os sapatos caros de sua mãe baterem contra o chão e tinha certeza de que estava sendo seguida por uma Carmen furiosa, que gritava algo que Victoria nem se deu o trabalho de ouvir, porque estava ocupada demais pensando em dar o fora dali o mais rápido possível.

   Topanga. A primeira coisa que passou na mente da garota de dezenove anos foi o nome de sua melhor amiga e sabia que apenas ela a poderia salvar do estresse de hoje, ou de sempre. A verdade é que Victoria podia sentir o peso de ser a filha única de um casal latino-americano cair sob suas costas. Sentia como as opiniões fortes de sua mãe, uma mulher nascida e criada em uma família tradicional do México, afetava todo o seu núcleo familiar. Seria mentira se dissesse que seu pai não fazia parte do plano de colocar Victoria na melhor faculdade do país e a deixasse por perto para sempre, mas ele sempre foi quieto e parecia mais um cachorrinho obediente.

   Com as chaves do carro em mãos, a garota não pensou duas vezes em ir em direção à casa de Topanga, que vivia há poucos quilômetros da residência dos Gomez. Victoria aproveitou o caminho em silêncio, apenas ouvindo os pneus do carro deslizarem pela rua solitária enquanto o sol querendo se pôr batia contra seus olhos. A garota estava funcionando automaticamente, ignorando a vontade de chorar, gritar e socar o volante diversas vezes para esvaziar a raiva, mas não sentia que seu ódio fosse maior do que o medo de causar um acidente de carro. Não porque tivesse medo de morrer, apenas porque a ideia de ter seu corpo recolhido e sua mãe se culpando pelo resto da vida era aterrorizante.

   Querendo ou não, ainda a amava, apesar de não entender sua proteção obsessiva. Victoria não estava pedindo para ir embora com as primeiras pessoas que aparecessem, formar uma banda de metal e ter uma gangue quando não tivesse mais dinheiro, apenas queria ir para a Europa estudar moda, mas isso iria contra o futuro já planejado de seus pais. A falta de um irmão significava que ela cresceria não tendo que brigar para dividir o último pedaço de bolo e que teria que estudar economia para assumir os negócios da família.

   Respirou fundo antes de descer o carro e percorrer a entrada florida da casa de coloração laranja de sua amiga. Era incrível como, mesmo acostumada, sempre ficava surpresa com a similaridade da decoração com a personalidade da família Lawrence. Tocou a campainha uma vez e, em questão de segundos, tinha uma garota com o cabelo desgrenhado e roupas sujas de tinta em sua frente.

— Oi. Tudo bem? – Topanga abriu um sorriso enorme e se afastou da porta, para que sua melhor amiga pudesse entrar. – Minha mãe achou que seria uma boa hora para reformar a casinha do River. - Justificou, após levar uma olhada de cima abaixo de sua amiga. – Ela não quer mais ele dormindo em cima da cama, porque a senhora Miller inventou que há uma infestação de pulgas ou sei lá. – A garota comentava enquanto subia as escadas e era acompanhada por Victoria até seu quarto, o local onde as duas costumavam ficar a maior parte do tempo desde que eram mais novas.

– Eu disse pra você que essa velha é maluca. Você lembra quando ela nos xingou por que deixamos as bicicletas na calçada dela? – Gomez esbravejou, despejando o ódio que estava sentindo na senhora Miller. Topanga riu e balançou a cabeça incrédula, como se a maior inimiga da vida de sua amiga fosse uma senhora de setenta e poucos anos que morava do outro lado da rua e fazia fofocas para passar o tempo.