02. Boy Meets Loneliness

109 12 8
                                    

— Você acha que meus dentes são estranhos? — Hunter perguntava para Cory, que estava atirado em sua cama admirando o teto branco do quarto. — Quer dizer, eles são separados, mas não são feios, não é?

— Por que você está me perguntando isso? — Ele sentou rapidamente na cama, cruzando os braços e olhando para o amigo de forma impaciente. — Shawn, você é o homem mais lindo que eu já vi.

— Ah, para! — Shawn deu um tapinha no ar com a mão direita, enquanto colocava uma mecha de cabelo atrás da orelha com a esquerda. Cory riu antes de o responder.

— Sabe quem tem dentes lindos? — O maior inclinou o queixo para cima, em intenção de fazer com que ele termine a frase. — Topanga Lawrence. E não é só isso, Shawnie. O cabelo dela tem cheiro de lavanda. De lavanda!

   Não era novidade que Matthews era mais sensível do que Hunter, mas era algo novo o ver tão apaixonado assim. Cory não costumava sair com garotas na mesma frequência que Shawn e nem costumava falar delas tão ardorosamente. Foi nesse instante em que o maior começou a se preocupar em perder seu amigo para uma garota.

— Há quanto tempo vocês estão saindo? — Ele perguntou, saindo da frente do espelho depois de posar em frente ao objeto em diversas posições diferentes para ter certeza de que não havia nada de errado com o seu sorriso ou seus dentes.

— Nós tivemos apenas um encontro oficial e marcamos outro para daqui dois dias. — O garoto suspirou apaixonado enquanto levantava da cama e colocava as mãos no ombro do amigo, o chacoalhando. — Eu preciso ver ela, Shawn. Ela é a mulher dos meus sonhos.

— Jesus, Cory. Seja homem! — Revirou os olhos enquanto tirava as mãos dele de seus ombros. — E vê se não me liga mais durante seus encontros, por favor. — Sua súplica resultou em uma gargalhada do outro, que recordou de um Shawn gritando de raiva na noite passada. Cory nunca comentaria com Topanga sobre as primeiras impressões que seu amigo teve de Victoria. Não arriscaria ser repreendido por fofocar que seu amigo havia praguejado toda a família dela.

   Hunter estava sempre metido em brigas, — ele até se orgulhava de ter quebrado a mandíbula de um garoto mais velho quando estava na sétima série — mas essas brigas nunca envolviam garotas, especialmente garotas desconhecidas. Em suas palavras, Shawn gostava de acreditar que era um romântico incorrigível, mas isso não passava de uma mentira que ele contava para amenizar a fato de ser um grande conquistador barato. Nunca se preocupou em quebrar o coração de jovens com esperança no amor ou garotas confiantes o suficiente para acreditar que poderiam o mudar, mas ele não buscava mudança nenhuma. Ele gostava de ser assim romanticamente. Não por insensibilidade, ele apenas não queria carregar alguém para a vida miserável que tinha. Passava as noites perambulando pelas ruas e ignorava todas as correspondências que chegavam no trailer velho em que morava, esquecendo muitas vezes o fato de que não era um homem morto. Não sabia ao certo quando começou a se endividar e perder o controle de tudo, mas dívidas são como areia movediça: se você não sair rápido, acaba afundando.
Shawn Hunter nunca fora uma pessoa rápida. Demorou para se declarar para Angela Moore quando tinham dezesseis anos, demorou para sair de casa e demorou para largar o vício em cheirar pó que adquiriu aos dezessete. Agora, estava demorando demais para endireitar sua vida.

— Você quer assistir o jogo na casa do Eric hoje? — Cory perguntou, mudando de assunto por fim. Era a primeira vez no dia em que falava de algo que não tivesse relação com sua nova paquera.

— Não posso. Tenho que treinar.

— Hoje é sábado.

— Eu faltei ontem. — Era uma desculpa. Havia faltado ontem, mas o garoto se recusava a ir até a casa de Eric, porque sabia que iria encontrar seu irmão e não podia o olhar. Ele iria passar o início do fim de semana na loja de conveniência de seu pai, provavelmente bebendo algumas latinhas de cerveja para amenizar o calor.

Apricity | Shawn HunterOnde histórias criam vida. Descubra agora