Viagem ao fundo do fundo

Memórias.

Ah, a memória. Dizem que é a base do conhecimento. A forma que temos de conectar fatos e coisas. Armazenar nossas informações mais íntimas como também as mais superficial e triviais, por exemplo: lembrar quantos eram os números de azulejos na parede do box do banheiro.
Sim, eu contava. Acho que era por isso que a conta de água e luz vinham tão caras enquanto eu morava com meus pais.
Lembrar é uma coisa automática pra maioria das pessoas, cheiros, cores , músicas nos transportam para exatos momentos no tempo como se tivéssemos entrado no DeLorean com o professor Brown, mas isso pode ser uma coisa incomoda, pois você não tem controle de quando vai fazer essa viagem. Ainda mais agora com adventos tecnológicos que nos ajudam a recordar, somos lembrados involuntariamente de coisas que talvez fossem melhor deixar naquele canto escuro dentro da nossa cabeça. Maldito app Fotos e suas recordações de dias e anos atrás, que me transportam para momentos em que eu desejei que nunca tivessem acabado, outros nem tanto assim. Mas de uma coisa tenho certeza, assim como a memória é a base de todo conhecimento, queria conhecer o poder de controlar o esquecimento. Acordar um dia e não saber meu nome, como dormi ou acordei. Não reconhecer lugares, pessoas e piadas. Ver tudo como o vislumbre de uma primeira vez, poder rever meus filmes e animes favoritos. Poder não me emocionar com canções que me foram arruinadas. Será que esquecer de tudo muda o caráter de alguém? Ou estamos eternamente fadados a ser quem somos indiferentemente dos conhecimentos que adquirimos ao longo da vida? Será que eu teria dito sim aquele dia em novembro de 2020? Será que eu beberia menos? Pensaria menos, reclamaria menos? Que eu teria comido aquela pizza? Não sei. Só sei que eu gostaria de lembrar menos e me distanciar de coisas que me fazem viajar pra épocas recentes. Enquanto eu escrevo, me livrei de tudo no app Fotos. E minha parede tinham 56 peças de azulejos.