Capítulo 3 - Ruínas

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Mateo costumava dizer que não existia história de amor mais incrível do que a história dele e de Íris. Desde criança eram constantemente mantidos separados, ela era uma princesa e ele era apenas mais um filho de nobres. Ela temia o mundo de fora e ele ansiava por conhecê–lo. Ele começava festas, ela nem sequer pisava em uma. Mas de alguma forma, os dois sempre foram extremamente próximos e apaixonados, nunca falaram em voz alta isso, sabiam que o amor que tinham não iria funcionar para nenhum dos dois, mas apenas de ouvir o nome um do outro seus corações aqueciam.

Pensar que ela estava em perigo era um dos maiores medos de sua vida.

Mateo não havia se dado conta que tinha deixado Morgana e Alice para trás até olhar para trás e ver que estava completamente sozinho e acima de tudo: perdido. Não havia pensado por onde andava, agiu muito depressa e imprudente, agora estava sozinho no meio de um castelo que nunca havia visitado até então. Tentou mapear o caminho que havia feito em sua cabeça: passou por mais um jardim aberto com três estátuas de ferro, provavelmente do rei e da rainha, depois subiu uma escadaria e agora estava em um corredor apertado.

Decidiu dar meia volta, mas agora já não encontrava mais as escadas. O castelo era qualquer coisa menos linear, vários corredores formavam um labirinto que impossibilitava Mateo de reformar o caminho que havia tomado. O primeiro corredor que passou na volta tinha apenas uma porta, em cima estava escrito "Moriata", reconheceu o nome, era um dos professores de Íris, um bom homem. A porta custou um pouco para abrir, mas depois cedeu.

O quarto era pequeno, mas aconchegante, uma cama pequena sem cobertores ficava em um canto do quarto, do outro, uma escrivaninha ao lado de uma pequena pilha de livros. Acima da escrivaninha, uma carta.

Mateo alcançou a carta, pensou se deveria ler, talvez fosse algo pessoal, mas talvez fosse algo importante, naquela situação já não importava mais, não era como se Moriata estivesse ali para lhe dar uma bronca, então decidiu ler.

" Primeiro Dia do Dragão Amarelo Filhote

Meu querido Agapi

Passamos por muita coisa juntos. O mundo de novo e de novo tentou nos separar, mas lutamos muito para continuarmos juntos, você deixou toda sua vida para trás apenas para ficar comigo, e eu sinto que eu não tenho o suficiente para te dar de volta.

E por isso eu sinto em lhe dizer que vou te decepcionar mais uma vez, pois essa talvez seja a última carta que eu lhe escreva.

Deixo todas as minhas coisas com você, meus livros e meu dinheiro, além de todo o meu amor. Eu espero do fundo do meu coração que você perdoe minha falha como marido.

Quero que quando leia essa carta, não pense nos bons tempos que tivemos, pois para você poderá ser muito doloroso relembrar os bons tempos. Pense em tudo de ruim que nosso amor te trouxe, todas as dificuldades e desafios que tivemos que passar para vivermos juntos. Pense em toda a dor que nossos corações suportaram e no quanto eu te fiz sofrer apenas para dizer "eu te amo". Pois assim será mais fácil lidar com o fato de que eu provavelmente não estou mais aqui.

Se essa carta chegou até você, eu peço para que não me espere.

Do fundo do meu coração.

Seu amado, Moriata."

Mateo sentiu o peito apertar, aquilo eram as possíveis últimas palavras de um homem para a pessoa amada. Fez pensar em Íris, em sua segurança, se ela estava ainda no castelo.

Se havia deixado uma carta.

Uma única gota de suor desceu todo o rosto até o queixo, guardou a carta dentro da própria armadura e caminhou para fora do quarto, deu meia volta fazendo o mesmo caminho de antes, dessa vez em passos mais pesados, nem chegou a notar o quão forte sua perna batia no chão toda vez que dava um novo passo.

Aéden: A Fúria da DríadeOnde histórias criam vida. Descubra agora