Todos nos encaravam sem reação. Ninguém dizia nada. Eu não olhei para Pedri. Estava com muita vergonha. A única coisa que consigo fazer é sair correndo dali. Ouço Rafa me chamar, mas eu simplesmente ignoro.
Saio daquela casa e vou para a minha. Nessa hora eu já estava chorando. Como eu ia encarar Pedri depois disso? Eu fui um idiota de ter saído correndo de lá.
A porta estava trancada e fico um bom tempo ali procurando as chaves. E ainda por cima, começou a chover.
Durante esse tempo, sinto uma mão pousar em meu ombro. Me viro rapidamente vendo Pedri. Limpo minhas lágrimas bruscamente. Eu não sabia se ele estava triste, confuso, com raiva... eu só sabia que eu não estava mais tão à vontade na sua frente.
- Me desculpa... - é a única coisa que consigo dizer.
- Eu é que tenho que pedir desculpas. Não devia ter te beijado daquele jeito - ele diz olhando para o chão - Eu só vi que você não aguentava mais beber e te obriguei a cumprir um desafio.
- Não tem problema, você só se preocupou comigo. Eu é que fui um idiota de sair correndo. Estraguei tudo - começo a chorar de novo e ele olha para mim - Eu sou uma péssima pessoa. Eu não sei fazer nada, é por isso que ninguém faz amizade comigo.
- Do que você tá falando? - ele pergunta sem entender - Você é perfeito. E eu gosto de você. Você é meu melhor amigo esqueceu?
- Esse é o problema! - disparo - Desculpa, mas... - tento conter as lágrimas. Ele tenta tocar meu rosto, mas eu desvio - Estar perto de você bagunça tudo - digo finalmente.
- Eu sou o problema? Eu te fiz alguma coisa que você não gostou? Você não gosta mais de mim?
Minha cabeça estava uma bagunça. Eu olhava Pedri ali, todo encharcado pela chuva. Lágrimas começaram a cair de seu rosto. Era horrível ver ele desse jeito. Eu amava muito dele, muito mesmo. E era esse sentimento que eu guardava dentro de mim que me fazia mal.
Rafa sempre esteve certa quando dizia que ou eu contava para ele, ou eu superava ele de vez. Eu sempre pensei qualquer uma daquelas opções iriam me fazer mal, mas guardar algo para mim, achando que vai dar tudo errado era pior.
E ainda tem o fato de eu não me assumir gay por conta disso. Eu estava me escondendo das duas formas.
Eestava cansado disso. Seja qual fosse a consequência, eu conseguiria me recuperar depois.
- Pelo contrário - respondo - Eu gosto muito de você. Aliás... eu te amo - digo sentindo um alívio enorme. Eu não sabia no que ia dar, mas sabia que estava fazendo a coisa certa.
- Você... me ama? - eu podia ver a confusão em seus olhos.
- Sim - respondo tentando conter novamente as lágrimas - Você foi o meu primeiro amor e... continua sendo. Eu guardei esse sentimento por muito tempo, e você não sabe o quanto foi e é difícil ficar perto de você sem querer te beijar e te tocar... - ele não dizia nada, apenas me olhava perplexo e sem reação - Eu sei que você não sente o mesmo, e talvez isso tenha estragado a nossa amizade mas... bem, pelo menos agora você sabe.
Pego minhas chaves que me lembrei que estavam na minha jaqueta e entro em casa, deixando Pedri sozinho lá fora. Subo correndo para o meu quarto e começo a chorar, ainda processando o que tinha acontecido.
Eu me declarei para ele. Depois de anos. Eu nem acredito que consegui fazer isso. Estou feliz por finalmente ter conseguido me declarar, mas triste por que provavelmente perdi meu melhor amigo pra sempre.
Mas agora tudo que eu preciso é dormir. Depois desse longo passo que dei hoje, amanhã era dia de dar outro grande passo: me assumir pros meus pais e ter que encarar Pedri no colégio.
[...]
Acordo com a luz do sol invadindo meus olhos. Eu demoro um pouco para me acostumar. Eu nem queria sair da cama. Queria ficar o dia inteiro ali, dormindo, sem ver ninguém. Só de pensar que vou ver o Pedri depois de ter me declarado pra ele, meu estômago se revira. Sem contar que eu estava com uma enxaqueca enorme.
Me levanto sem um pingo de animação e faço tudo que tenho que fazer. Hoje foi o dia em que eu menos me arrumei. Minhas olheiras estavam horríveis. Antes de sair do meu quarto, eu apenas tomo um remédio pra dor de cabeça.
Quando chego na sala de jantar, meus pais já estão tomando café. Eu me sento na mesa sem dizer nada.
- Bom dia, filho! - meu pai diz me olhando com uma cara estranha - Que cara de enterro é essa?
- Não é nada - respondo sem ânimo colocando meu café na xícara - Só não dormi direito.
- Você voltou muito tarde da casa do Pedri? - minha mãe pergunta.
- Não, não é isso - eu estava pensando se eu contaria agora ou deixaria para depois, mas como minha mãe parecia sempre ler minha mente, ela pergunta:
- Fala pra gente o que aconteceu. Tá na cara que você não tá bem.
- Somos seus pais, podem confiar na gente - meu pai acrescenta, dou um suspiro fundo. Chegou a hora.
- Mãe, pai... eu não sei muito bem por onde começar - eles me olhavam preocupados - Eu... bem... - minha mãe segura minha mão em cima da mesa, o que me dá mais confiança - Eu sou gay - disparo.
Meus pais se entreolham quietos, o que me deixou muito nervoso. Eu não sabia o que eles estavam pensando, e isso me deixava em pânico.
- Pablo - meu pai diz e eu olho para ele. Os dois estão com sorrisos reconfortantes para mim, o que aquece meu coração - Obrigado por nos contar - ele completa me fazendo sorrir.
- Nós te amamos independente de qualquer coisa - minha mãe diz.
Meus olhos estavam lacrimejando. Eu tenho os melhores pais do mundo.
- Eu acho que a gente meio que já sabia - minha mãe continua, me fazendo olhar para ela confuso.
- Bem, nós desconfiamos - meu pai diz.
- Como assim? - pergunto sem entender.
- Bem - minha mãe começa - Nós vemos o jeito que você olha para o Pedri - ela diz fazendo meu rosto arder - Vemos nos seus olhos que você olha pra ele de um jeito diferente.
- E você também vive elogiando ele - meu pai diz - Eu fiquei até com ciúmes - ele tenta fazer um bico que fica muito engraçado, me fazendo rir pela primeira vez no dia.
- Vocês me conhecem mesmo.
- O Pedri é um ótimo garoto - minha mãe diz - Seria um ótimo namorado pra você.
- Mas infelizmente ele não gosta de mim. Não desse jeito. Ele só gosta de mim como amigo, se é que ainda somos amigos.
- Por que você acha isso? - minha mãe pergunta.
- Eu me declarei pra ele ontem. Acho que nossa amizade acabou pra sempre.
- Não diz isso - meu pai fala - O Pedri não é esse tipo de garoto. Tenho certeza que ele não vai acabar a amizade de vocês. Ele deve ter entendido.
- Eu não tenho tanta certeza - minha mãe faz carinho no meu rosto.
- Você parece muito mal, Gavi. Talvez seja melhor você não ir pra aula hoje.
- Não, eu vou. Eu vou ter que encarar isso de um jeito ou de outro. Aliás, eu já tô atrasado - bebo mais um gole do meu café e me levanto.
- Mas você não comeu nada - minha mãe diz.
- Eu não tô com fome - dou um beijo em cada um deles - Amo vocês.
Saio de casa e vejo a casa de Pedri. As lembranças de ontem me vêm à tona. Era a primeira vez que eu ia pro colégio sem Pedri. Era estranho. Mas não tinha o que fazer. Só espero que eu consiga olhar para ele sem ficar com vontade de chorar.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Meu Melhor Amigo - ᴳᵃᵈʳⁱ
Fanfic[Meu Melhor Amigo] Pedri e eu nos conhecemos desde do fundamental, ele era muito extrovertido e conversava com todos, diferente de mim, que não falava com ninguém. Mas um dia ele puxou assunto e acabamos virando melhores amigos, e não nos desgrudamo...