Olhar Azul | Luotto

01- Visita

Já havia alguns meses desde a morte de Marcelo, mas Luísa ainda estava se sentindo muito sozinha na Mansão D'Ávila. Otto, Poliana e Glória já haviam feito várias visitas, e até Pinóquio quis visita-la, mesmo com Otto insistindo para o Android não ir até a casa da mulher pois sabia do receio que Luísa tinha com o boneco. Luísa estava triste, fazia de tudo para não demonstrar isso para Poliana, mas a menina já tinha percebido essa mudança na tia.

(POV Otto)

Eu estava preocupado com Luísa, ela não ligava para saber de Poliana fazia uma semana, nem atendia ao telefone. Eu sabia do seu estado e estava pensando seriamente em visita-la sem avisar.

Estava tão perdido em meus pensamentos que nem percebi Poliana se aproximando.

- Oi pai, está ocupado? - Poliana pergunta.

- Oi filha, não estou não, pode falar -Respondo direcionando meu olhar para a menina, quando ela chega desse jeito é porque com certeza quer pedir alguma coisa.

- Eu queria te pedir um favor... eu ando muito preocupado com a Tia Luísa pai, ela parecia tão triste na última vez que fui lá, eu perguntei o motivo mas ela disse que estava tudo bem mas eu sei que ela estava diferente, seu olhar era tão... vazio. -Ela me diz com os olhos marejados e sentando ao meu lado no sofá, esse pedido dela só confirmou minha vontade de ir até a casa de Luísa e ver o que estava acontecendo com ela -Será que podemos ir até lá hoje?

-Claro que podemos Poli, eu também estava pensando em ir até lá e fazer uma visitinha surpresa. Vamos?

- Mas já? - Ela me pergunta surpresa

- Sim ué. -Eu queria ver Luísa o quanto antes - Te espero no carro.

(POV Luísa)

Eu estava me sentindo tão sozinha, parecia que nunca iria voltar a ser aquela Luísa de sempre, eu olhava no espelho e não me reconhecia, eu estava tão igual e tão diferente ao mesmo tempo, aos poucos fui perdendo a vontade de comer e mal dormia, eu sentia falta das visitas de Otto e Poliana, mas não queria ser um peso para eles, o momento da despedida era o mais difícil, eu queria sempre ficar perto dos dois, a necessidade de ficar perto de Otto estava me deixando confusa.

Ouço a campainha tocar repentinas vezes e me assusto - Quem é louco ao ponto de tocar a campainha tantas vezes? Quanta pressa - Digo enquanto me levanto do sofá e subo as escadas que me levam até a porta.

-Poliana! Eu já te falei que apenas uma vez é mais do que suficien- - Ouço uma voz conhecida vindo do outro lado e abro a porta rapidamente, vejo Otto e o abraço sem pensar duas vezes, eu precisava daquilo.

(POV Otto)

Vejo Luísa abrindo a porta e paro de falar com Poliana, ela estava pálida e com olheiras, com certeza não dormia a muito tempo. Ela veio correndo para os meus braços e, embora surpreso, a abracei de volta, buscando tirar todo aquele sentimento ruim dela. Percebo que minha camisa já estava molhada por causa das lágrimas da morena, e a abracei mais forte. Logo após sinto Poliana nos abraçando, e assim permanecemos por um longo tempo.

- Pode chorar Luísa, vai ficar tudo bem. - Digo acariciando lentamente o cabelo da mulher em meus braços, e sinto ela se desvencilhar devagar do abraço, e a olho nos olhos. - Luísa, você está pálida, a quanto tempo você não come? - Digo enxugando as lágrimas dela com a ponta dos dedos

-Eu não ando sentindo tanta fome esses dias... -Ela diz com voz baixa, quase que em um sussurro.

- Mas você precisa se alimentar tia Luísa! -Poliana diz enquanto abraça a tia - Você pode passar mal.

- Ela tá certa Luísa. - Digo a olhando nos olhos e encontrando um belo par de olhos verdes que também me encaravam. - Vem, vamos fazer alguma coisa pra você comer. -Falo enquanto pego nas mãos dela e ando em direção a cozinha.

- Não precisa Otto. - Ela rebate.

- Precisa sim tia! - Poliana intervém

- Eu insisto Luísa, vamos.

(POV Luísa)

Otto estava fazendo um lanche com ajuda da Poliana, eu me ofereci para ajudar mas minha sobrinha disse que eles cuidavam disso e que queria "testar as habilidades culinárias" de Otto. Após ouvir aquilo, solto uma gargalhada alto e os olhos de Otto param em mim novamente.

- Eu gosto de te ver assim Luísa. - Ele diz sorrindo.

- Assim como? - Pergunto confusa.

- Assim, sorridente, gargalhando. - Ele me responde com os olhos brilhando.

- São vocês que me deixam assim. - Eu digo e percebo Otto abrir um sorriso lindo enquanto continua me encarando com seus olhos azuis.

- Que bom tia! - Poliana diz com um grito, bem Poliana mesmo. - Nós terminamos seu lanche, fizemos seu sanduíche favorito, meu pai fez quase tudo, ele é um ótimo cozinheiro né pai? - Ela diz provocando Otto, que olha para ela e faz uma careta engraçada.

- Ela tá certa Otto, esse lanche tá uma delícia, obrigada - Digo sorrindo enquanto experimento o lanche.

(POV Otto)

Eu adorava ver Luísa sorrindo, era como uma necessidade protege-la e deixa-la o mais feliz possível, ver ela sorridente e gargalhando me deixava com uma sensação inexplicável. Eu e Poliana havíamos combinado uma "missão secreta" no caminho para cá para fazer Luísa ir lá para casa, eu não queria deixar ela sozinha daquele jeito.

- Luísa, eu preciso de um favor seu. - Digo olhando para a morena na minha frente - Eu vou precisar sair para uma reunião que vai terminar muito tarde, e não quero deixar Poliana sozinha em casa, Sara e Pinóquio estão em atualização e minha mãe está arrumando um comprador para a casa dela. Será que você poderia ficar com Poliana em casa para mim? - Continuo

- Ela pode dormir aqui Otto! - Ela responde olhando para Poliana

- NÃO! Quer dizer... não tia, eu combinei de encontrar meus amigos para... ajudar a decorar meu quarto. - Olho para Poliana e a encaro querendo rir, aquela foi uma das piores desculpas que já ouvi na minha vida, enfim, Poliana sendo Poliana.

- Ah, se é assim, eu posso ir. - Ela responde e Poliana olha para mim e pisca, era como um " Missão cumprida" - Você pode me trazer de volta depois Otto?

- Você se importaria de dormir lá? É que a reunião termina muito tarde e é longe daqui, devo voltar só de madrugada. - Digo e Luísa concorda.

- Eu só preciso pegar algumas roupas, já volto - Ela diz saindo da cozinha e subindo as escadas.

Um tempo depois...

- Pronto, desculpa a demora, vamos? - Luísa pergunta com um sorriso no rosto, parecia que ela estava animada para ir até minha casa.

- Vamos.