13 - Especial

285 29 38
                                    

(POV Luísa)

Otto fez um chá para mim e fomos dormir. Andávamos a passos lentos em direção a sala.

- Obrigada. - Digo parando de andar, fazendo Otto parar de andar também.

- Pelo que? - Otto me olha confuso.

- Por tudo. Eu nunca pensei que fosse me sentir assim de novo. - Digo olhando no fundo dos olhos azuis de Otto, se eu pudesse eu mergulharia naquela íris.

- Assim? Assim como? - Ele continuava confuso.

- Amada. - Digo com os olhos marejados. - Otto, você é muito especial pra mim. - Desvio o olhar e olho para o lado, estava lutando contra as lágrimas. - Quando o Marcelo morreu, meu mundo desabou, eu não queria viver, eu não sentia vontade de fazer nada, tudo me lembrava ele, muitas vezes eu tentei voltar a ser feliz, ou fazer alguma coisa diferente, uma caminhada, tentava mudar aquela situação. - Respiro fundo. - Mas eu só sabia sentir culpa Otto. Culpa por ser feliz. - Me recordo da promessa feita a Marcelo. - Ele me fez prometer que seria feliz. - Volto a olhar para Otto. - E você Otto, você foi a minha base, você e a Poli. Vocês conseguiram me mostrar que eu posso ser feliz de novo, que eu posso ser amada. - Algumas lágrimas escapam. Olho para Otto e seus olhos também já estavam marejados, ele estava lutando contra o choro. - Otto, por que você fez isso? Por que você me apoiou depois de tudo que eu te fiz? Eu sei que eu te machuquei muito no passado, eu estava confusa, me desculpa. Por favor, eu sei que você sempre quis o meu bem, sempre tentou ao máximo me deixar feliz aqui. E eu... Eu só retribuia com ódio. - Começo a chorar lembrando de tudo que fiz com ele. 

- Não era ódio, meu bem. - Ele diz limpando uma lágrima com o polegar. - Eu sei que não.

- Otto... Você me perdoa? - Digo me acalmando. - Por favor. 

- Eu também te devo desculpas. Luísa, você me fez mudar. Você e a Poliana, claro. Quando assumi a paternidade da Poliana, eu sabia do seu receio. Mas ao descobrir que eu finalmente teria uma filha comigo, ao descobrir que poderia ao menos acompanhar o final de sua infância, sua adolescencia, sua vida, eu não pensei em mais nada. Eu só queria ter Poliana em meus braços. Me perdoe. Eu sei que eu deveria ter entendido o seu lado, você e ela tem uma relação tão linda. - Otto diz sorrindo entre algumas lágrimas que escorriam em seu rosto. Faço o mesmo gesto de limpar uma lágrima com o dedo polegar. Otto sorri ao sentir o toque e fecha os olhos. -  Vocês me transformaram. VOCÊ me transformou. - Fico surpresa ao ver que Otto frisou a palavra "você". - Eu era aquele homem frio, amargo, como as crianças diziam, "o vizinho misterioso". - Solto uma risadinha com o comentário. - Você trouxe o meu brilho de volta, vocês trouxeram. Mesmo com as nossas brigas diárias eu conseguia enxergar em você o meu porto seguro, mesmo não demonstrando. Eu sei que nós não éramos a melhor dupla do mundo, mas eu quero deixar claro que, se eu me afastei, foi para respeitar o seu espaço. Eu sei que você, lá no fundo, bem lá no fundo, quase achando petróleo, gostava de ficar perto de mim. - Otto diz e eu gargalho alto. - É tão bom te ver assim gargalhando. Isso me faz muito bem. - Ele diz e meus olhos brilham. Otto e eu realmente nos aproximamos muito nesses últimos tempos, mas eu não imaginava ouvir isso dele, ouvir todas aquelas palavras, ele era meu porto seguro, e sinceramente, eu não conseguiria viver sem ele. - Eu não conseguiria viver sem você. - Otto diz e beija minha testa.  - Eu te perdoo. - Ele diz quase que em um sussuro.

- Otto... - Nos olhamos em silêncio por alguns instantes. Desisto de falar e me jogo em seus braços. Ficamos daquele jeito por alguns minutos e me desvencilho delicadamente dos braços de Otto. - Você é muito especial pra mim.

- Você também Luísa. Você também é muito especial pra mim.

Depois de um tempo voltamos para a sala e fomos dormir.



Olhar Azul | LuottoOnde histórias criam vida. Descubra agora