4. Eu sou sua

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Por que eu não posso dizer que estou apaixonada?

Eu quero gritar dos telhados

Eu gostaria que pudesse ser assim

Por que não podemos ser assim?

Pois eu sou sua.

A Secret Love Song II



As férias de primavera haviam sido tranquilas – monótonas, meio baixo astral... mas tranquilas. Sem a tristeza infinita ou dias inteiros prostrada em sua cama.

Algumas seções de boxe com Vander, passeios pela cidade com Powder, e alguns generosos centímetros de tatuagens em suas costas e braços eram uma boa forma de resumir essas férias – que para o desgosto de Violet, foram curtas demais.

Durante todo esse tempo, ela realmente acreditou que estava bem; que havia encontrado o equilíbrio e a superação e toda essa merda necessária para seguir em frente. Bom, não era bem assim; ela estava bem – de verdade – mas, alguns dias após o retorno das aulas, o coração de Violet começou a acelerar quando ela precisou passar pela sala de música para chegar na aula de cálculo e se deparou com uma melodia triste de piano.

Violet não precisou olhar para saber que era Caitlyn quem estava lá, tocando lindamente. Algo dentro dela – seus instintos talvez – berravam o nome da Kiramman. E se havia alguma pontinha de dúvida, ela se foi no momento em que o perfume frutado e doce de Caitlyn chegou até Violet, deixando suas pernas bambas como varas de bambu.

Violet esticou os ombros, pronta para seguir em frente, mas quando começou a andar, seus pés se moveram para a sala de música, onde a melodia lenta do piano florescia como um sonho melancólico.

E então ela finalmente a viu.

Os olhos de Caitlyn estavam baixos, compenetrados, havia um pequeno risco entre as sobrancelhas negras e perfeitas. Ela ficava ainda mais linda assim, concentrada ao ponto de esquecer o mundo ao seu redor.

Por um momento, Violet também esqueceu do mundo fora desta sala com cheiro de cupcake. Ela deixou de lado a mágoa para observar Caitlyn, e se permitiu admirá-la, lembrar dos meses que passaram juntas – do quanto se davam bem apesar das diferenças – e sentiu tanta saudade que o choro pressionou sua garganta, trazendo seu coração quebrado junto.

Violet impediu as lágrimas de escorrerem, e fungou, sem conseguir se conter. Ela praguejou após deixar o som escapar, e quando olhou para Caitlyn novamente, se deparou com os olhos turquesa virados em sua direção.

Caitlyn inclinou a cabeça, a olhando como se esperasse algo. Então Violet se deu conta de que ela quem havia invadido o espaço da Kiramman, então meio que devia alguma explicação – mesmo que não tivesse uma que não fosse vergonhosa.

– Ah... – Violet gaguejou, e deveria ter parado por aí antes de dizer, estupidamente: – Fazia tempo que não te via tocar.

– Faz tempo que você não me vê de jeito nenhum – ela resmungou, e parecia incomodada com algo, talvez com presença de Violet.

Não sabia como respondê-la. E honestamente, precisava mesmo dizer algo? Poderia simplesmente marchar para fora daqui e rezar para não voltar a ser estúpida ao ponto de entrar no campo de visão de Caitlyn – propositalmente. Já era doloroso demais lidar com a expectativa ruim de encontrá-la pelos corredores. Falar com Caitlyn ultrapassava os limites que Violet havia imposto a si mesma no início do verão.

A Secret Love SongOnde histórias criam vida. Descubra agora