862 palavras.
Naim não era o único a carregar o fardo de grandes responsabilidades em suas costas, o que o ajudou a formar laços com seus companheiros.
Com a morte iminente, todos procuravam formas de escapar de todo aquele peso e fadiga. Na maior parte das vezes, se entregavam aos desejos da luxúria. Por ser jovem, Naim não se conteve e seguiu o mesmo caminho de seus amigos.
Moldado pelo pensamento dos soldados, se envolveu com diversas pessoas, experimentou diversas formas de amar e saciar seus desejos e curiosidades.
Sempre regressavam do campo quando venciam a batalha, recebidos de diversas formas. Naim se apaixonou, uma paixão tão forte quanto sua vontade de vencer. Ansiava todos os dias regressar aos braços de sua amada.
As histórias sobre o grande Naim eram um dos principais assuntos fora do campo de batalha. E cartas destinadas a ele chegavam aos montes.
Ao fim de mais uma batalha, ele se afugentou nos braços de sua amada, buscando fugir de todo o caos. Mas as águas do mar se agitaram e levaram embora a calmaria ao perceber uma estranha movimentação.
-- Naim foi escolhido! -- diziam.
-- Que cara de sorte!
Naim se vestiu e correu em busca do motivo por trás dos comentários. Todos o reverenciaram, saudando-o aos gritos, em seguida.
-- Não entendo, o que houve?
-- Lord Naim não precisará mais lutar! -- disse um dos homens o abraçando pelo pescoço.
-- Vencemos a guerra? -- enlargueceu um sorriso no rosto.
Todos riram de gargalhadas, mas não pareciam zombar.
-- Está noivo!
Palavras que quase o derrubaram. Seu semblante mudou bruscamente para um terror imensurável e seu coração desparou, fazendo-o suar frio.
-- Noivo? Impossível! -- dizia em partes, como se as palavras rodeassem sua cabeça e fizessem o mundo girar.
-- Mas está na carta do Rei para nosso grão-mestre! -- disse aquele que segurava o papel. -- Lord Naim pode ser dispensado temporariamente de seus deveres para a guerra, pois se casará com a Princesa.
-- Não pode ser! -- disse, deixando seu resplendor desaparacer.
Em parte, Naim se encontrava realizado, pois tinha a certeza que conseguira prestígio suficiente para reerguer o nome de sua família. Mas valia viver uma vida de mentiras? Não, Naim odiava mentiras.
Naim ainda era ingênuo por sonhar viver com aquela mulher que amava, aparentando desconhecer sobre seu papel naqueles campos onde os soldados podiam se libertar das correntes da ansiedade.
Devastado com o que descobrira, foi quase impossível silenciar a mente e se concentrar nos seus deveres maiores. A mente atormentada de um líder brilhante se ofuscou com a realidade além da matança e destroçou seu triúnfo.
Saber que seu destino já estava entrelaçado com o de alguém que sequer conhecia, parecia tritulá-lo lentamente a cada segundo que passava. Não havia como escapar, encontrava-se preocupado com a vida de mentiras que proporcionaria à princesa.
Entendeu que o amor era uma faca de dois gumes, e suas mãos desprotegidas eram incapazes de segurá-la.
Retirou-se do campo de batalha e procurou por três noites e três dias por uma magia que pudesse livrá-lo dessa maldição. Quando chegou na quarta noite, já acreditava que não haveria como escapar, que seria rejeitado pelo rei e sua família afundaria novamente.
Caminando pela praça do lago da capital, encontrou um homem de cabelos grisalhos, apreciando a enorme lua brilhar sobre o espelho ďágua. Pensou que poderia se juntar à ele, mas antes que desse o primeiro passo, o velho falou.
-- Há quanto tempo, criança. -- a voz não condizia com a idade. -- É estranho pensar que alguém como você procure ajuda de meros magos.
O jovem correu para o lado do senhor, incrédulo pelas palavras que ouvira. Quem era aquele homem, e como saberia tanto? Quando olhou para seu rosto, as presas inferiores eram tão grandes que sobressaíam o lábio superior.
-- Você! -- disse quase travando a língua. -- É você que eu preciso!
-- Eu sou Jinn, não sou mago. -- ressalva. -- Mas o que precisa? Alerto que se arrependerá amargamente no futuro.
-- Eu amo, mas não posso amá-la, estou fadado a viver com outra e me preocupo com ela também. -- disse, deixando escapar lagrimas invisíveis. -- Eu desejo que leve este amor embora, e não deixe brotar novamente.
-- Pelo que passa e pelo o que passará não lhe cobrarei! Apenas lhe pesso que não me procure jamais! -- esbravejou furioso. Tocou o peito do homem e ele caiu. -- Tolo!
Uma peônia vermelha cravou e enraizou por todo seu peito, cicatrizando-se em marcas. A dor intensa que sentiu o fez rolar e se contorcer no chão.
Quando tudo silenciou, ele respirou fundo e percebeu que estava curado. Aquele peso não estava mais lá, a angústia se tornou tédio e ansiava pelas futuras batalhas.
O brilho de Naim retornou como uma coroa dourada em sua cabeça. Os olhos escuros pareciam repletos de avareza e orgulho, e mesmo os que conseguiam lhe arrancar o elmo, pediam por misericódia quando os encarava.
O inimigo recorreu à trégua, e com esse pequeno tempo Naim se casou com a princesa. A família Dinni recuperou o prestígio e a honra, e tudo parecia caminhar perfeitamente para Naim.
Mas sem as batalhas, sua fonte de satisfação, seu respendor fora consumido novamente.
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Eu Desejo: Uma guerra entre amor e dever suprimida pelo sacrifício.
FantasySe você pudesse ter a chance de fazer um desejo, sabendo que ele iria se realizar, o que desejaria? No mundo de Naim desejos podem ser realizados por uma magia tão forte, que os torna irrevogáveis, a magia dos gênios. Sem saber sobre isso ele desejo...