986 palavras.
Anos se passaram e Naim não apenas se tornou pai, como também rei. O tédio da vida monótona o torturava, passou todo o tempo procurando outras formas de amar, e sua esposa reconhecia o esforço.
Amar seu filho, suas conquistas, a família que construiu, mas acima de tudo, não se apaixonar pela própria esposa. Era incompreensível para Naim, afinal, ele poderia ter se apaixonado por ela, depois de todos esses anos, e se confortar como fazia em tempos de guerra?
Embora estivessem em trégua, não havia um vencedor, a guerra iminente conturbava sua vida. Era como quando se encontrava perdido e sem razão, e as memórias sobre o desejo feito remoíam em sua mente.
Uma nova jornada se iniciou.
"Não me procure jamais!" disse o gênio há anos, mas Naim estava confuso e apenas Jinn poderia guiá-lo por esse novo caminho. Ele estava disposto a encontrá-lo.
Viajou por diversos distritos e vilas. Atravessou campos abandonados e bairros luxuosos, mas não sentiu sequer um rastro da magia do gênio.
-- Se alguém não me procurar, jamais irá me encontrar... -- ele pensou consigo. -- ...mesmo que eu esteja no mesmo lugar.
Essa frase nunca fez tanto sentido para Naim, quanto naquele momento. Encantou seus sapatos e correu pelo ar até sua cidade, onde estava o lago que encontrara Jinn anteriormente.
Lá estava ele, tragando um fumo, no mesmo lugar e do mesmo jeito que estava anos atrás.
-- Eu avisei, e já lhe adianto, não há maneira de revogar! -- resmungou Jinn, com a voz rabugenta.
Naim cambaleou para trás e pode sentir seus joelhos irem de encontro com o chão. A peônia em seu peito parecia fincar cada vez mais em seu coração, sugando seus mais positivos sentimentos, e junto suas emoções. Ela se enraizou por todo seu corpo dessa vez e seus pulmões mal puxavam o ar.
-- Suma! -- gritou o gênio Jinn.
Ele se levantou e cresceu, inflou seu peito, então soltou todo o ar em Naim. A força de um furacão o empurrou para bem longe de seu reino, em terras temidas por humanos.
Passou dias desacordado em uma caverna na montanha, a pele fria e quase descolorida. Os olhos opacos e semiserrados se abriram, mas não como antes.
-- Há uma forma de dissolver essa maldição. -- disse uma voz suave. Um elfo. -- Vá em busca da casa do gênio.
Ele tentou suspirar, mas as raízes da peônia o impediam com uma dor latejante. Os cabelos estavam tão escuros que quase deixavam de ser loiros e a inexpressão de seu semblante incomodava o elfo.
-- Com essa pele congelante, para onde eu iria? -- tossia quando o ar lhe faltava. -- Não há forma para mim.
-- Há sim!! -- elevou a voz.
O elfo tocou o peito do rapaz, onde estava cravada a peônia, e seu vigor foi recuperado.
-- Isso é temporário. -- explicou. -- Você é um humano especial, pode conseguir dominá-lo.
Naim estava desencorajado e deprimido, não aguentava mais pensar, queria apenas descansar.
Depois de dias, retornou para o palácio, em busca de sua família, queria garantir que tudo estaria bem. Embora não pudesse se apaixonar, e tampouco desejar depois do ataque de Jinn, era indiscutível a importância da sua família em sua vida e que jamais deixaria de preocupar com o bem-estar.
Naim contou toda a história para sua rainha e filho, mas esperta como era, sugeriu que fossem para sua antiga residência, a Casa Dinni.
Os pais de Naim ainda a residiam, portanto não haveria preocupações por coisas desaparecidas ou inexplicáveis. Infelizmente não encontraram nada, nem mesmo um rastro de magia.
Seguiram para seu antigo quarto, onde nascera. Todos os móveis e enfeites bordados e talhados com os mesmos símbolos e letras, mas um símbolo deveria ser único e mágico.
No teto, apenas um enorme espelho, que ajudava visualizar todo o quarto. Naim e a rainha descobriram linhas que não pareciam aleatórias, descentralizaram todos os móveis, exceto pelo berço.
Um enorme símbolo no chão. Memórias retornavam.
"Caso não procure, jamais encontrará! Mesmo que esteja no mesmo lugar" as falas de sua mãe. "Você é um menino especial, Naim, dominará tudo ao seu alcance." nunca fizeram tanto sentido. "Lar é para onde desejamos voltar quando nenhum outro lugar nos cabe mais." quanto naquele momento.
-- Não sei como fazer isso. -- dizia aos prantos.
A esposa abraçava o corpo frio e rígido do homem sem retorno algum.
Tudo era de mais para Naim, de nada adiantava saber onde estava o selo, ou para que ele servia, se não sabia como invocar o jinn. Era como uma faca sem corte tentando fatiar o músculo.
De repente as portas foram escancaradas e seu filho adentrou a sala que ecoava os prantos de todos.
-- Papai! Deixe-me ajudá-lo!
-- Jamais! -- esbravejou com a mão tampando os olhos, tentava firmar a voz.
O garoto projetou o beiço para frente, com orgulho correu e se pôs sobre o símbolo, e em seu ato de ousadia declarou.
-- Eu sei como ajudá-lo papai! -- ele sorriu com as lagrimas escoando pelas laterais dos olhos. -- Só preciso dizer o que eu desejo e...
Uma luz surgiu no ar, acompanhada de uma fraca explosão de vapor pútrefe. E diante do menino, um homem de meia idade, com presas pretuberantes tragando um fumo.
-- Diga-me seu desejo, e eu irei concedê-lo! -- disse Jinn.
-- Eu desejo que devolva o que pegou do meu pai! -- respondeu, certo de que seu desejo ressoaria como uma ordem para o gênio.
Jinn riu e gargalhou, deixando o fumo cair.
-- A magia de Jinn é irrevogável! -- ele então olhou para o fundo dos olhos do garoto. -- Peça-me qualquer outra coisa e eu lhe farei sem preços.
-- Não confie nele filho! -- gritou Naim. -- O preço pode ser inextimável para nós humanos, mas não inexistente!
O pequeno, assustado, olhou para o pai cuja miserável postura não passava qualquer confiança.
Naim tinha diante de si, um vislumbre de seu antigo eu, mas não tinha forças para impedí-lo.
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Eu Desejo: Uma guerra entre amor e dever suprimida pelo sacrifício.
FantasíaSe você pudesse ter a chance de fazer um desejo, sabendo que ele iria se realizar, o que desejaria? No mundo de Naim desejos podem ser realizados por uma magia tão forte, que os torna irrevogáveis, a magia dos gênios. Sem saber sobre isso ele desejo...