II. milkshake

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"I've been trying to fix my pride
But that shit's broken
Now I lie, I try to hide
But now you know it"
All Time Low, Jon Bellion

ANGELINE, point of view
saturday, spain

— BOM DIA — ouço ele sussurrar ainda meio aérea sem certeza se era um sonho.

Esfreguei as costas de minhas mãos nos meus olhos respirando fundo enquanto me deixava ser abraçada pelos cobertores. Um sorriso cresce em meus lábios quando sinto algo me abraçar por trás e uma trilha de beijos de meus ombros até minha bochecha.

Sinto meu coração acelerar com as recordações da noite passada, deitados no sofá. Seu toque me confortando, suas palavras assegurando minha satisfação sendo suavemente ditas em meu ouvido. Entrelaço seu pescoço com meus braços sentindo meu corpo ser prensado contra o dele, deletando as distâncias entre nós. Eu arrepio. Seu toque exerce um efeito diferente de tudo que eu já experienciei na minha vida. Percebendo meu nervosismo, ele beija minha testa e pergunta se há algum problema, se algo está me incomodando.

— Não — me aconchego em meu ombro e, num piscar de olhos, a noite passada passou em pequenas cenas em minha memória e o quanto ele se preocupa com meu bem estar. — Só estou feliz por você estar aqui.

Seu braço me abraça e repousa em meu braço, acariciando-o lentamente.

— Eu também... — ele suspira e ficamos em silêncio por um instante.

— Algum plano para hoje? — indago, levantando minha cabeça para encará-lo. — Porque eu não planejei bem o que fazer depois da festa...

Ele retira algumas mechas de cabelo de meu rosto para me observar com mais cautela e escorrega as mãos pelas laterais da minha silhueta.

— Ficar aqui — Nick curva os lábios.

— E perder este dia lindo? — digo. — Nunca.

— Então o que você acha... — ele se detém para me abraçar — de irmos tomar café da manhã na antiga cafeteria de quando éramos crianças?

— Ótima proposta — digo, sorrindo.

Empurro Nick para me soltar dele, expulsando-o da minha cama. Ele cai duro no tapete ao lado da cama.

— Ah! — ele solta um grunhido de dor, seguido de um suspiro.

— Vamos, levante-se! — puxo seu braço, ajudando-o a se erguer do chão.

— Eu senti falta desse lugar — comento, virando outro gole do meu milkshake de morango.

— Esse daqui está muito bom — Nick diz, indicando seu milkshake de chocolate e caramelo.

— Deixa eu beber — peço, e ele desliza a taça para o lado oposto da mesa, onde eu estou sentada.

Puxo o canudinho para cima e dou um gole, sentindo o sabor refrescante e doce do chocolate, meus dentes quebrando os fragmentos das pequenas bolinhas de caramelo que dão ainda mais sabor à bebida.

— Algumas coisas nunca mudam, não é? — Nick suspira, apoiando o queixo na mão e me encarando fixamente. Ele dá uma pausa e continua: — Quer dizer, eu ainda me lembro dos tempos em que costumávamos vir aqui todos os dias para pedir a mesma coisa. Você sempre pedia esse milkshake de morango e ainda assim insistia por um gole do meu. Nada mudou.

Dou um sorriso quando os fragmentos de memória de quando éramos crianças se mostraram claras na minha mente.

— É mesmo — digo, mexendo distraidamente no canudo da minha taça de milkshake, que já passou da metade.

Nick fica em silêncio por alguns instantes, apenas fitando um ponto específico no meu rosto, e diz:

— Sinto saudades de você naquela época.

Arqueio as sobrancelhas, incrédula.

— Por quê? Eu estou pior agora?

— Não! Não! — ele se interrompe, desajeitado, e ri. — Não foi isso que eu quis dizer.

— Então o que você quis dizer?

— É só que...

Ele se detém.

— O quê?

— É que... você mudou. Você cresceu, eu cresci. Nós estamos diferentes, não é? Tudo parece diferente.

Inclino a cabeça, confusa.

— Por que você está dizendo isso? Está tudo bem? Você está bem?

Ele dá de ombros, com os olhos um pouco fechados e um sorriso fraco nos lábios. Ensaia e hesita em falar, mas não responde nada. Eu solto uma risada sincera.

— Você é muito esquisito — digo.

Ele estende o braço e bagunça meus cabelos no topo da minha cabeça. Eu me desvencilho, rindo. Nick dá um sorriso. Terminamos de tomar nossos milkshakes e fomos passear no parque, conversando com muito entusiasmo. Nick contou algumas histórias engraçadas da semana e, quando nos sentamos em um banco debaixo de uma árvore, ele se virou para mim:

— Ei — chama, e eu me viro para ele. — Tem certeza que está bem com o incidente da festa? Sabe que ainda não é tarde para me pedir para quebrar a cara do Ronnie ou do Lorenzo.

Eu faço um gesto de dispensar com a mão, indiferente.

— Nah, eu estou bem. Sério. E o Lorenzo é seu amigo, não vou te pedir para fazer isso.

— Eu não me importo com o Lorenzo. Mas eu vi que você ficou muito desconfortável quando as taças caíram. Quer falar sobre isso?

— Não — digo, rapidamente, mas respiro fundo e continuo calmamente: — Eu estou bem.

Nick dá um sorriso e assente.

Mais tarde, ele me deixou em casa no final da tarde, rindo e contando piadas no caminho.

Já faz uma semana desde o incidente na festa do Lorenzo, e eu ainda não falei com Nicholas desde então. Ele está agindo diferente, e eu não estou gostando disso.

Quando nos encontramos no jardim, e eu acenei para ele, vi que ele me encarou de forma peculiar e desviou o olhar, entrando no carro e saindo disparado de sua casa. Nesses últimos dias, eu mandei algumas mensagens e liguei, mas ele não me responde. Quando liguei para a casa dele e Martin me atendeu, ele passou o telefone para William, que me informou, com um tom de voz preocupado, que Nick esteve ficando bastante no quarto, mas que ele foi à uma festa ontem. Ela não deu mais detalhes, mas foi estranho.

Naquele mesmo dia, eu estava estudando para minha prova final e escutando música quando Isabel me ligou. Isabel, aquela amiga da festa. Eu atendi a ligação e ela logo chegou falando:

— Garota, por que você não foi na festa ontem?

Solto um longo suspiro.

— Ah, eu... eu acho que só não estava afim de ir.

— Eu pensei que você viria com o Nick.

Meu coração errou a batida diante da pronúncia desse nome. Arregalo os olhos, e não consigo disfarçar a confusão em minha voz quando digo:

— Nicholas? Ele estava lá?

— Sim, e ele parecia estar procurando por alguém.

Sim, eu sabia da festa de ontem. Mas não pensei que William estivesse falando dessa festa. Eu deveria ter imaginado.

— Eu não sei o que está acontecendo com ele.

— Ninguém sabe o que está acontecendo com ele.

De repente, sinto uma ânsia consumir meu corpo. Meu estômago se embrulha, e eu não me sinto bem.

— Desculpa, Isa, eu preciso desligar. Falo com você mais tarde, tudo bem?

Desligo a ligação antes que ela pudesse responder, e minha cabeça começa a latejar de ideias e perguntas. Uma coisa me intriga.

Tem algo de errado com o Nicholas.

STARBOY, nicholas leisterOnde histórias criam vida. Descubra agora