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Os jogadores se mexiam de uma maneira muito mais rápida agora. Os ataques e jogadas combinadas acabaram pegando totalmente o ritmo no meio de campo e agora a troca de passes parecia mais natural. Como se estivessem todos conectados mentalmente.

Endou batia palminhas enquanto gritava palavras de incentivo da beira do campo. Ele não estava com vontade de tocar na bola desde que voltou do pequeno encontro que teve com Kazemaru. Sua testa permanecia eternamente franzida, enquanto ele tava dicas para um Tachimukai ansioso e enérgico. Desde que Endou começou a jogar também no meio campo, Yuuki ganhou espaço e experiência como defensor de Raimon.

-Boa, Tachimukai! -gritou Satoru, batendo palmas para a defesa espetacular do pequeno garoto Fukuoka.

-Tudo bem, Capitão? -perguntou um loiro chegando para ele.

Shuuya Goenji era o goleador estrela da equipe, sem deixar qualquer dúvida. Em campo, a velocidade de precisão dos chutes de Goenji traziam medo nos defensores e goleiros e ansiedade nos torcedores. Ele com certeza tinha um bom nome para começar com a carreira profissional. Se não fosse a promessa com a Raimon, Goenji que já era sondado por diversos clubes profissionais, já os teria deixado para alcançar o estrelato. E ele levava suas promessas muito a sério.

Enganchado nos ombros de Goenji, uma outra cabeleira loira poderia ser vista. Apesar de Endou nunca entender como Aphodi poderia jogar com o cabelo longo e solto, ele não sugeria que o outro o amarrasse desde que o ex-aluno do colégio Zeus parou de falar com ele por uma semana, afirmando estar magoado. Os olhos vermelhos e julgadores de Afuro carregavam uma pitada de malícia e entendimento para com o capitão.

-Tudo bem nada, Goenji -disse Aphrodi, sorrindo e cutucando o goleador -Ele está com a cabeça nas pistas.

-Pistas? -perguntou Shuuya, confuso -Endou joga futebol.

-Goenji... -O outro loiro suspirou para ele, cansado -O que você tem de bonito, você tem de porta.

-Porta? -perguntou o outro agora mais confuso ainda -Espera, você me acha bonito?

-Esqueça -Aphrodi bateu no ombro dele, empurrando Goenji para fora -Passeie, Shuuya. Vou conversar com o nosso capitão.

Goenji achou melhor deixar isso para outra hora e se foi, deixando os dois conversarem sozinhos. Endou deixou de perto o gol de Tachimukai para poder olhar e andar mais para longe com seu amigo atacante. Hanta, Kidou e os outros estranharam a saída repentina dos dois, mas não interromperam o treino para se meter.

-O que te preocupa? -perguntou Afuro, escolhendo a árvore da torre onde Endou costumava treinar e se reunir.

-Eu realmente não sei -disse o moreno. Endou tirou a faixa da testa e passou as mãos, tentando bagunçar o cabelo que estava permanente preso em um único corte e penteado -Eu não esperava que ele fosse aceitar mesmo, você sabe.

-Eu sei -confirmou o outro. Aphrodi amarrou um cabelo em um coque desfeito, deixando algumas mechas soltas. Fios de ouro emoldurando o rosto celestial -Eu também fiquei surpreso quando o vi. Ele tem nos evitado bastante desde que saiu dos campos.

-Ele disse que não poderia jogar, e... Se foi -disse Satoru, bufando em frustração -Eu nunca entendi isso. As pessoas podem parar de gostar de futebol assim?

-Eu não acho que o problema foi não gostar de futebol. Pra mim, ele ainda gosta e muito do esporte -Aphrodi apontou, tentando completar os pensamentos e dar uma luz a Endou -Kazemaru tem responsabilidades como um atleta. E você mesmo disse que ele foi emprestado da equipe de atletismo.

-Quando jogamos, ele disse que não largaria o futebol. Kazemaru se encontrou conosco -Satoru apontou, mexendo no chão com o dedo. Ele desenhou aleatoriamente o dedo na terra, formando um desenho de bola de futebol -Eu achei que fosse de verdade. Que ele sentia o mesmo amor que eu.

-Pelo futebol ou por ele mesmo? -perguntou o loiro. Ele também desenhou na terra, um pequeno par de asas. Endou lhe olhou com uma daquelas expressões confusas que só ele tinha -Endou, você ainda não percebeu?

-Perceber o que?

-Você precisa conversar com ele -afirmou o outro, levantando para tirar a poeira do corpo -Eu não posso te contar os sentimentos de Kazemaru e também não posso te mostrar os seus. Só você pode, Satoru Endou.

-Aphrodi! -chamou Goenji de longe. Ele acenou para o loiro, que acenou de volta para ele. Endou quase se esquecia que, para o treino de Shuuya dar certo, ele precisava do seu parceiro de campo -Vamos treinar algumas jogadas.

-Distribuição de passes, seu fominha! -corrigiu o atacante. Ele se virou para Endou novamente e sorriu levemente -Eu sou a representação da deusa do amor. Sei do que estou falando.

O goleiro viu a camisa do uniforme de Aphrodi de afastar enquanto ele corria para um Goenji satisfeito com ter o seu parceiro devolvido. Deixado sozinho com seus próprios botões, ele se perguntou o que Terumi queria dizer com "Sentimentos por ele"?

Endou tinha sentimos, sim. Ele sentia tanta falta de Ichirouta que parecia que olhar para a zaga do time e não o encontrar era uma dor totalmente física. Era como se a formação estivesse errada e ele não estivesse pondo Kazemaru exatamente onde ele deveria estar.

Foi um erro não correr atrás do amigo quando ele disse não sentir mais pelo futebol. Ele deveria ter gritado como sabia que o outro estava mentindo. Deveria ter dito para ele que estava apenas se enganando e como sentiria falta dele todos os dias. Ele deveria ter ressaltado a importância de Kazemaru dentro do time. Como fazia questão de ter a sua presença competitiva e cheia de espírito de equipe. Ou de como ele sempre achava um jeito para animar o pessoal a tentarem ir sempre mais longe.

Endou odiava admitir que ele não era exatamente muito confiável quando se tratava de animação. E quando a voz do velocista da equipe fazia eco com a dele, todos pareciam subitamente mais animados. As pessoas se sentiam bem apenas por estar no mesmo time que ele, e era como se fosse a cola que mantinha todo o time unido. A razão da equipe ainda se manter forte.

Sua mente o pregou várias peças, uma atrás da outra. Peças que consistiam em ver como ele parecia mais líder do que Endou em diversas situações, as vezes em que ele se sentia confiante ao ver o número de Kazemaru bordado na camisa. Número esse que era exatamente o sequencial ao seu. Dois, braço direito. Ele tinha liberdade o suficiente e confiança para trocar frases com ele, visto que era o mais perto do gol e o defensor de maior importância para Endou. Enquanto tivesse Kazemaru a sua direita, ele não precisava se preocupar com as bolas que chegavam a sua linha.

Ichirouta sempre sorria para ele quando estava se aquecendo e era o primeiro a se preocupar quando Endou não era forte o suficiente para receber uma bola. Endou sempre estava de olho no rabo de cavalo azul cobalto. Por isso o impacto de o perder foi grande. Por isso ele se sentiu perdido. Por isso ele o procurava no campo. Por isso passou a ter raiva de olhar para a lateral onde Kazemaru estava e dar de cara com Fubuki ou Tsunami. Por isso Endou evitava o gol.

Era a frustração, a falta, a perda. Era não ter que o fazia desejar ainda mais. Será que eram esses sentimentos que Aphrodi estava falando?

O sino da escola bateu, anunciando o final das aulas. Satoru correu de volta para a equipe, apenas para anunciar o final dos treinos do dia e os liberar para um banho. Sua cabeça estava a mil quando ele correu para o vestiário, estava a milhão quando ele se vestiu tão rapidamente que teve que recolocar o casaco que estava do lado errado e estava a anos luz quando Endou agarrou dua bola, correndo para fora e para longe dos olhares questionadores do outro.

"Não seja lento", Kazemaru o dissera.

AnemoiOnde histórias criam vida. Descubra agora