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O local onde ele havia marcado de se encontrar com o velocista estava vazio, se você tirasse o próprio Kazemaru, que olhava para o rio como se fosse a coisa mais interessante do mundo.

Seu casaco de esportes estava fechado até o pescoço, diminuindo completamente a circulação de vento nas áreas mais sensíveis do corpo. Ichirouta tinha os cabelos soltos também. As mechas azuis balançavam no vento, como se estivesse. Dançando em sua volta. Dançando uma melodia calma e triste, que Endou só poderia imaginar em descobrir. O corpo e olhos de Kazemaru eram banhados com o por do sol quente e a promessa uma noite refrescante.

-Você foi lento -a voz do outro entre cortou os ouvidos de Satoru, dando a ele a certeza de que estava espiando tempo demais.

Tão sem graça quanto uma piada velha, Endou de aproximou do garoto em passos arrastados. O que ele deveria dizer? É melhor começar com uma desculpa? É melhor pedir a ele que realmente volte ou time? Era melhor dizer que o pedido de antes não passava de uma brincadeira boba e que o outro não deveria aceitar qualquer proposta vindo de sua mente que só tinha bolas de futebol quicantes e nada mais.

-Não é como se eu fosse morder você! -Kazemaru brigou, agora realmente irritado com ele -Nós nos conhecemos a anos!

-Anos.. -repetiu Endou, como uma espécie de eco.

-Endou -chamou Kazemaru.

O rosto do velocista se mantinha impassível enquanto ele olhava no fundo dos olhos alheios. A franja azul ainda cobria seu outro olho castanho, como quando era criança, então Endou não poderia olhar nos seus olhos claramente. O rosto dele agora parecia mais maduro e cheio de si, como se ele tivesse envelhecido mil anos antes de ter essa conversa. Endou pensou se o tempo havia passado para ele também.

-Quando você me disse sobre o futebol -Ichirouta começou, não sabendo exatamente como iniciar aquela conversa.

-Você me chamou aqui pra dizer que vai voltar?! -os olhos de Satoru brilharam com a possibilidade -Nos estamos mesmo com carência de jogadores rápidos. Você é muito bem vindo, Kazemaru. Vou tratar de pegar a sua camisa, com o seu número de volta.

-Não estou voltando a equipe -ele respondeu, tendo que cortar a onda de felicidade alheia. Os olhos de Endou, antes brilhosos agora ficaram opacos como um dia nublado.

-O que? Porque? Porque me chamou aqui se não era para isso? -Endou questionou. Ele agora parecia mais raivoso do que triste. Kazemaru lhe dera esperanças de um retorno, quando tudo o que ele planejava era abandonar de vez.

-Satoru -Kazemaru chamou de novo. Ele precisava respirar mais que duas vezes, parte para manter as lágrimas dentro dos olhos e parte para se manter calmo -Eu estou no time de atletismo agora.

-E daí?! Você estava da primeira vez e mesmo assim largou para ajudar o time! -argumentou o goleiro.

-Certo, mas da primeira vez eu não era o capitão! Da primeira vez eu não tinha muito o que perder! Da primeira vez o meu nome não era uma promessa do esporte! -Kazemaru levantou a voz no mesmo tom de irritação que Endou lhe mostrava -Da primeira vez eu tinha motivos o suficiente para desistir do atletismo. E o que eu tenho agora? Como fica o meu futuro?

-O futebol é o seu futuro, Kazemaru! -Endou brigou de volta para ele -Eu vi você jogar e tenho certeza que qualquer time profissional se interessaria por você e pela sua habilidade!

-Que habilidade? -perguntou o dono dos cabelos azuis. Ele tinha um sorriso sarcástico e ao mesmo tempo dolorido -Correr atrás de uma bola não me fez ganhar uma medalha! Meu nome não entrou no mural de heróis da escola! Eu não era reconhecido por onde passava porque as pessoas só lembravam do Goleiro Endou, do Atacante Goenji e a Mente Kido! As pessoas não olharam pra mim e para os outros com a mesma admiração! As pessoas nem sabiam o meu nome, droga!

-Você... Era isso que você queria? -perguntou Endou, irritado com o motivo que ele considerava fútil -Você queria um prêmio por ganhar? Mais?! Eu fui atrás de você! EU quase desisti quando você foi embora! Não dava pra ser os Super Onze com apenas DEZ pessoas, Kazemaru.

-Eu não queria um prêmio! Eu queria que olhasse pra mim! -Ichirouta bateu com a mão no próprio peito. Seu rosto ardia e ele não percebeu que havia começado a chorar até agora -As pessoas não me importavam, fama não me importava... VOCÊ me importava! Você e a sua determinação, sua confiança em si mesmo e nos colegas... Sua vontade que parecia fogo! Eu queria que você tivesse olhos para mim, uma vez. Não para a minha habilidade com a bola, não meus dribles, não minhas técnicas, não minhas pernas rápidas. Eu queria que olhasse para mim! Eu, Kazemaru que sabia que você ficava frustrado e tentava levar tudo com um sorriso. Mas era o mais sobrecarregado de nós. Kazemaru que sabe que você sempre guarda algo em qualquer lugar e acaba não lembrando depois. Kazemaru que sente que as coisas estão ruins, então tenta ajudar reforçando o espírito da equipe. Kazemaru que sempre te apoiou. Porque você não pôde olhar pra mim, Endou?

-Olhar pra você? -perguntou Endou, agora confuso com o jorro de informações que ele havia recebido. Era isso o que Aphrodi quis dizer com sentimentos? Ele deveria dizer algo também? Ele deveria dizer que sempre via Ichirouta. Que prestava atenção no tique que ele tinha de mexer o cabelo na direção onde seu chute iria apontar? Que ele sabia que Kazemaru usava shampoo de orquídeas negras, que ele poderia sentir o cheiro a mil quilômetros de distância? Ele deveria dizer que sentia falta das conversas no topo da Caravana Relâmpago? Ou mesmo no tempo em que eles não precisavam falar nada, e apenas olhavam as estrelas?

Endou queria voltar para os dias em que o treinamento não era obrigação e sua presença em campeonatos não fosse esperada. Ele queria voltar para os dias em que se juntavam na loja do velho treinador Hibiki e faziam planos, desenvolviam técnicas secretas (que deixavam de ser secretas muito rápido), quando trancavam jogadas e eram apenas crianças preocupadas com o esporte favorito. Ele tinha tanta coisa a dizer para Kazemaru!

-Escute... -Endou olhou para ele, depois de muito pensar, apenas para encontrar o lugar onde o outro estava completamente vazio -Kazemaru?

Satoru revirou-se todas as formas possíveis para tentar encontrar o garoto em seu campo de visão. Para logo depois constatar que ele foi deixado sozinho enquanto pensava no que dizer. Ele nem teve qualquer chance de dizer qualquer coisa antes de ser completamente abandonado!

-Droga... -resmungou, chutando uma pedrinha para longe de seus sapatos.

AnemoiOnde histórias criam vida. Descubra agora