Satoru correu. Seu físico não estava na melhor forma depois de treinar um dia inteiro e seu coração mantinha um ritmo muito mais forte e rápido do que quando ele estava se exercitando. Endou queria e deveria chegar mais rápido ao encontro da única pessoa em que ele confiava para contar algo assim e tinha certeza que o Treinador Hikibi saberia o que fazer. Ele teria uma luz e uma resposta.
Ele precisava pensar em alguma coisa e ficar batendo com as mãos naquele pneu não estava ajudando em nada. Ele tentou! Na verdade, tentou até que suas mãos pareciam que iriam pular para fora do corpo e finalmente se demitirem da função. O formigamento na ponta dos dedos não tinha passado um só minuto e agora parecia se espalhar a medida que ele corria.
O que Kazemaru quis dizer sobre prestar atenção em si? O que ele quis dizer sobre olhar para o verdadeiro Kazemaru? A cena da ponte onde o outro se despediu da Caravana Relâmpago voltaram a sua mente. O momento em que ele e Kazemaru realmente se separaram para sempre, ou até se encontrarem na mesma escola e em clubes diferentes.
O sorriso de Kazemaru não era o mesmo, como se não fosse de felicidade mesmo. Quando toda a merda acabou e ele pôde voltar para a escola e fazer coisas de menino normal, ele pensou que Kazemaru voltaria. Pensou que agora que as coisas estavam calmas, eles poderiam jogar futebol de novo. Apenas por jogar.
Mas Kazemaru nunca voltou. Ele se juntou a equipe de atletismo, deixando bem claro para toda a escola onde ele pertencia. E mesmo quando Endou foi até ele, eles não se falaram. Era sempre um "acabou de sair", vindo de um colega ou "Desculpe, Endou. Treino." Do próprio Kazemaru. Ficou ridículo a ponto dele ser evitado até nas aulas que tinham juntos, com Kazemaru escapando pela porta no primeiro sinal. Eles dividiram tanta coisa juntos, para no final acabar assim?
Natsumi havia prometido uma conversa com Ichirouta antes de... Ir. Era outra que também foi tão fácil! E de repente, Fubuki estava indo também, e Tachimukai, Koguri, Tsunami. Endou pensou que poderia morrer com todos os amigos que estavam lhe deixando. Passou tanto tempo com eles que nem pensou que um dia poderiam simplesmente ir. Houve coisas boas também, já que nem tudo são perdas. Terumi Afuro se juntou a Raimon. E os "aliens" Ryuuji Midorikawa e Hiroto Kiyama. Com eles, Satoru pôde sorrir um pouco.
Mas cada vez que ele dava a volta na escola ou a bola era chutada longe demais, ele se lembrava. Ele via Kazemaru correr nas pistas, rápido como o vento. Ele sempre usava os braços para ganhar impulso, e as pernas batiam com tanta força e certeza no chão que parecia... Certo. Ver Kazemaru correr de maneira tão natural que trazia paz, como se ele tivesse sido feito para correr. As vezes, quando o treino acabava cedo e o atletismo tarde, Endou se sentava a beira do barranco para ver algumas corridas.
Os cabelos de Kazemaru ondulavam com facilidade durante os impulsos e ganhavam uma "forma padrão" enquanto ele corria e mantinha o ritmo constante. Ele via quando os outros eram ultrapassados e deixados para trás com facilidade. Kazemaru tinha um sorriso diferente quando corria, ele parecia mais sério e sem diversão. Não parecia feliz, Endou decretou.
Ao chegar na frente da porta do Restaurante de Ramen Hai Hai Ken, ele estranhou o fato de apenas a luz de dentro estar aberta e a placa dizia que o dono voltava em algum tempo. Endou pensou que talvez esse REALMENTE não era o seu dia de sorte. Ele resolveu esperar do lado de dentro, quando um soluço contido chamou a atenção das suas orelhas. Era pequeno, mas estava lá!
Endou empurrou o ouvido na porta, tentando verificar se o restaurante era realmente o lugar de onde aquele pequeno choro veio. Os passos pesados e arrastados dos treinador fizeram a madeira gemer e Endou ficou ainda mais curioso sobre o que estava acontecendo.
-Tome aqui... -disse o treinador, com uma voz que se dividida entre o aflita e compassiva -Beba tudo... Isso. Por favor, não chore... criança. -Criança? Quem poderia estar no restaurante a essa hora? Endou se preparou para invadir o lugar a ajudar qualquer amigo seu que estivesse passando por uma situação de angústia quando o treinador falou novamente, parando-o -Kazemaru... O que aconteceu com você?
Um choramingo baixo veio da outra pessoa. Ela parecia tentar realmente se conter enquanto o técnico lhe cuidava. O coração de Endou agora era uma bagunça completa. Kazemaru estava lá dentro? Kazemaru que havia fugido da conversa que ele mesmo pediu para ter? Kazemaru havia escolhido o treinador Hibiki, treinador do time de futebol, como um refúgio? Endou acomodou o ouvido ainda mais apertado na porta, ignorando as pessoas que passavam e lhe olhavam.
-Eu... Endou... -Kazemaru balbuciou, chorando mais forte agora.
-Você e o Endou conversaram? -o treinador deu seu tempo para receber uma resposta -E como foi?... Você disse para ele?
-Disse -confirmou um Kazemaru e um barulho forte de fungada veio de dentro.
-Bem... E como ele reagiu?... Criança... -Hibiki chamou em um tom mais ameno. Kazemaru chorou mais alto, sem se preocupar com o barulho -Eu sei que da medo, mas o mundo não pode ser tão ruim como pintaram para você. Eu tenho certeza que o Endou vai entender você.
-E se não entender?! Se ele pensar que eu sou estranho e uma aberração? -perguntou Kazemaru. Endou franziu a testa com raiva, bom essa era só mais uma das coisas que Kazemaru pensava dele então? Ele poderia mesmo ser tão frio.
-Gostar de garotos... Não há nada de aberração nisso, Ichirouta -Hibiki respirou fundo. Endou pensou se ele estaria alisando costas do velocista, como fazia consigo sempre que estava aflito com algo.
Gostar de garotos? Espere, porque Kazemaru achava que ele implicaria com isso? As pessoas tem sentimentos e ele entendia isso muito bem. Goenji, o Treinador Hibiki, Kidou, Lica, Aphrodi... Todos eles tinham sentimentos e todos os sentimentos eram dos mais diversos possíveis! Ele sabia, respeitava e os amava da mesma forma. Porque Kazemaru pensou que ele o chamaria de nome tão cruel?
-Vamos... Está indo muito bem. Não precisa mais chorar -disse o treinador. O homem voltou a se mexer dentro do restaurante -Você precisa conversar com Endou, e não pode fugir dessa vez.
-Como sabe? -perguntou Kazemaru, um pouco mais calmo. Dava para ouvir os suspiros dificultosos que ele dava. Seu choro parecia ter ido embora, mas seu corpo ainda estava se acostumando com isso -Que eu fugi?
-Kazemaru, eu sou velho, não burro -disse Hibiki. Endou ouviu ele mexer nas panelas enquanto falava -Você quer uma tigela de macarrão? Depois você pode se trocar e me ajudar por aqui.
-Sim! -disse Kazemaru e Hibiki entendeu que era sobre as duas coisas.
-Então abra a porta e acenda as luzes da varanda -disse o homem, e um sonoro "Hai!" foi a sua resposta.
Desde que chegou, Endou sentiu o medo de ser pego pela primeira vez. Se Kazemaru abrisse a porta e o visse de orelha grudada ou até mesmo ele caísse para dentro, seria totalmente descoberto. Ele pensou nos sentimentos que Aphrodi comentou, pensou na conversa do treinador com Kazemaru, que ele ouviu toda. E finalmente pensou que deveria cair fora dali.
Quando Kazemaru se dirigiu a porta para acender as luzes e preparar o lugar para receber clientes, ele notou a silhueta lá. Suspirou, tentando manter a cara de choro longe dos olhos vermelhos e do sorriso "comercial" que ele tinha.
-Bem vindo! -Ichirouta cumprimentou. Um homem de meia idade estava lá, com um sorriso pequeno e prestes a tocar a campainha do lugar. Hibiki também cumprimentou o cliente, vendo que ele era um antigo frequentador do local -O mesmo de sempre para o senhor? Ótimo!
VOCÊ ESTÁ LENDO
Anemoi
FanfictionKazemaru tinha que escolher entre o coração e a razão. O que ele deveria fazer? O que ele QUERIA fazer? Como escolher entre o certo e o duvidoso? Nem tudo pode ser resolvido com futebol