chapter four | i shouldn't be jealous, you aren't even mine

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Quando Kim acordou no dia seguinte, não viu nem rastros de Porchay pelo seu quarto. Apenas o lugar vago na cama ao seu lado e um sentimento taciturno de vazio. Ainda gastou alguns minutos entre os travesseiros, encarando o teto preguiçosamente. Mas sua cabeça já estava a mil, pensando no beijo que aconteceu equivocadamente na noite passada. 

Para qualquer um, poderia não parecer nada demais, mas para Kim, significava se apaixonar ainda mais. 

Ainda perturbado após tudo o que ocorreu, levantou-se antes que tivesse outra ereção indesejada com o vislumbre matador das curvas acentuadas de Porchay que continuava vivo em sua mente. Dessa vez, tomou um banho gelado que o ajudou a despertar devidamente.

Desencorajado como nunca para começar o dia e encarar Porchay, Kim estava pateticamente nervoso antes de sair do quarto e escondeu as mãos trêmulas e suadas nos bolsos do moletom que vestia. Ele gastou alguns minutos parado ao pé da porta, depois andou de um lado para o outro, aumentando ainda mais o seu próprio nervosismo. 

Quando já era demais, cruzou a porta do cômodo e de cara encontrou Porchay na cozinha. Ele já estava perfeitamente arrumado para mais um dia exaustivo na faculdade e tomava seu café na mesa serenamente, como se a ressaca não fosse párea para seu organismo. O que levou Kim a acreditar que Porchay tomou o remédio para dor de cabeça que ele deixou sobre a cômoda.

Naquele dia, Porchay trajava um suéter roxo de coloração clara que o deixava especialmente gracioso aos olhos de Kim. Os óculos arredondados, que ele só usava para estudar, estavam na ponta de seu nariz. E os cabelos escuros perfeitamente escovados. Kim percebeu que eles estavam grandes, porque já fazia um tempo desde a última vez que Porchay os cortou. E particularmente, o moreno achava-o ainda mais bonito assim, removendo a cada segundo, com pouca paciência, a franja que caia levemente sobre os seus olhos.

Kim arranhou a garganta, anunciando sua presença acanhada no cômodo. Porchay levantou o rosto e o acompanhou com o olhar. O moreno sentou-se à sua frente. Só então Porchay sorriu lindamente, fazendo Kim se perguntar se ele ao menos lembrava-se de algo, procurando indícios de alguma coisa fora do normal nas suas expressões faciais.

Entretanto, nada parecia diferente ou estranho. Provavelmente ele não lembrava e aquela possibilidade trouxe alívio ao moreno, em partes. Por outro lado, Kim decepcionou-se, com o coração pesado em desilusão. Apenas ele estava vivendo aquela situação e tentando lidar com ela.

– Bom dia! Eu estava te esperando para irmos juntos. - Se pronunciou inicialmente e como sempre, Porchay lhe ofereceu outro sorriso caloroso, que o aqueceu por dentro de imediato, fazendo-o esquecer de suas lamentações. Seu coração já batia acelerado, antes que pudesse evitar.

– Bom dia. Por que não me acordou? - Indagou, desviando o olhar para a torrada que tinha em mãos.

– Porque você estava bonitinho demais dormindo. - Respondeu-lhe, risonho. Então tomou gentilmente a torrada das mãos do moreno e passou ele mesmo a geleia sobre o pão. Kim sempre fazia mais bagunça que o necessário ao comer. – Toma.

– Obrigado. - Kim murmurou, pegando de volta a torrada estendida em sua direção.

Inevitavelmente, seu coração se maravilhou pelo gesto de cuidado consigo. Ele precisou conter o sorriso bobo que ameaçava rasgar seus lábios, porque Porchay era apaixonante em todos os sentidos e não conseguia evitar sentir-se completamente apaixonado. Era uma missão impossível.

Enquanto terminava o café da manhã, Kim se remexeu desconfortavelmente no assento sob o olhar de Porchay. Ele parecia querer dizer algo, mas estava hesitante e voltava a deixar Kim nervoso com aquela sua maneira de agir.

– Kim... - Quando finalmente decidiu falar algo, foi interrompido quando o celular tocou. E apenas um irritante era capaz de encher o saco aquela hora da matina. – É o Macau. - Porchay tencionou ao encarar a tela do celular que vibrava na mesa.

– Você vai atender? - Fechou a expressão, em desgosto evidente.

Porchay apenas deu de ombros e levantou-se da mesa, deixando um Kim chateado para trás. Enjoado, o moreno deixou de lado o restante do seu café e levantou-se em seguida, preferindo esperar Porchay do lado de fora do apartamento. 

– Vamos? - Indagou ao ver Porchay cruzar a soleira da porta.

– Desculpa. O Macau está me esperando lá embaixo, não vou conseguir ir com você hoje. - Avisou, mas não foi capaz de olhar nos olhos do moreno enquanto falava.

– Sério? - Soltou uma risada seca, beirando a rispidez. Kim não conseguia acreditar no que ouviu.

Kim teve que engolir o amargor que se espalhou pelo seu paladar quando o efeito deletério do ciúmes corroeu o seu peito por dentro. E, além disso, mordeu a língua para não deixar transparecer o sentimento nóxio que sentia.

Não deu certo.

– Por que você está me olhando assim?

A expressão de Porchay se transformou num semblante triste diante do olhar censurável que recebia, mas Kim estava bravo demais para se sensibilizar. Ele deixaria para se arrepender mais tarde.

– Eu só acho estranho esse lance de vocês. Até ontem você não queria ouvir falar no nome dele. Quanto mais vê-lo. - Pontuava, de maneira indignada. – No entanto, hoje você atendeu ele. E está voltando para ele de novo. - Tomou um suspiro, irritado. O moreno nem percebeu, mas esmagava as alças da mochila entre os dedos, deixando óbvia a sua insatisfação.

– Você não entende, Kim...

– Não, Porchay. Eu não entendo mesmo. - Interpelou, com a expressão tão dura feito uma muralha. – Eu vou nessa. - Kim deu-lhe as costas, se afastando a passos pesados.

– Espera, Kim! - Chamou, seguindo o moreno escada abaixo, mas os ouvidos dele pareciam estar tapados enquanto ignorava seus chamados. – Kim!

Fora do prédio, pronto para atravessar a rua, Kim teve o infortúnio de ver o carro de Macau chegar. Era particularmente impossível não notá-lo. Ele desceu do automóvel esportivo vermelho e tirou os óculos escuros, desfilando até a dupla de amigos. Seu jeito esnobe exalava mesquinharia, deixando Kim cada vez mais enjoado. Ele quase vomitou a pouca comida que ingeriu no café da manhã ao assistir as próximas ações do Nannakun.

Ele parou na frente de Porchay, segurou seu queixo com firmeza, como se estivesse reivindicando posse e lhe plantou um beijo nos lábios. Porchay se afastou de um ímpeto, com os olhos arregalados. 

Kim travou a mandíbula quando o cafajeste o olhou, ostentando um sorriso zombeteiro. Kim mandou-lhe o dedo do meio, sabendo que nunca conseguiria competir com o Nannakun. Ele parecia um desses idiotas de filme de romance adolescente. Participava do time de basquete da faculdade e era a pessoa mais rica com quem Kim já teve o infortúnio e desprazer de interagir. 

Macau Nannakun era perfeito. Um perfeito e exímio babaca.

– Ridículo! - Murmurou irritadiço ao se afastar a passos largos.

Kim logo sentiu a inveja azedar o seu dia que mal havia começado, desejando estar no lugar de Macau e ser ele o sortudo por poder beijar os lábios macios e vermelhos de Porchay.

Pensar nos dois juntos, enquanto seu coração quase definhava por Porchay, era doloroso. Vê-los então, era tão ruim quanto levar uma facada. E nos devaneios mais insanos de Kim, desconfiava de que nem mesmo uma lâmina afiada faria tanto estrago quanto amar sozinho.

Mas ele poderia aguentar tudo, até o Macau e a sua petulância irritante. Desde que tivesse Porchay ao seu lado, nenhum fardo era pesado demais para carregar. Pouco lhe importava o resto. No final do dia, ainda era com Kim que Porchay voltava para casa. A casa deles. Ainda era na sua cama que ele deitava e lhe abraçava. Apenas os dois jogavam conversa fora até o dia raiar. 

Essas eram as pequenas coisas que Kim nunca abdicaria.

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Friends To Some Extent × KimChay Onde histórias criam vida. Descubra agora