Carmelia

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Era o último dia de aula do ensino médio e mais uma vez eu estava atrasada.

— Preciso chegar a tempo de pegar o metrô das 8:00, ou não vai dar tempo de chegar antes do início da cerimônia. — Vesti meu uniforme escolar o mais rápido que pude e por cima coloquei meu suéter favorito de tricô amarelo, calcei os sapatos e desci correndo os dois lances de escada do predio onde morava. Por sorte não era muito distante da entrada subterrânea do metrô, por isso levei cerca de 15 minutos para chegar até  lá.

Desci as escadas em direção ao metrô correndo o mais rápido que minhas pernas conseguiam. Passei pela catraca, e por sorte quando cheguei na área de embarque e desembarque, o metrô ainda não havia chegado.

— Hoje é meu dia de sorte.

Pensei sorrindo, sem imaginar o que estava prestes a acontecer. Alguns minutos depois avistei o metrô se aproximando, quando de repente meu celular vibrou no bolso.

"ALERTA DE TERREMOTO"

Foi tudo tão rápido que mal consigo me lembrar exatamente do que aconteceu. Tudo ficou escuro e turvo e uma dor atravessava os meus ossos me fazendo chorar. Os gritos de pânico ao meu redor foram ficando cada vez mais distantes e abafados, e depois disso, tudo ficou escuro.

...

— Carmelia acorda. Acorda vai, já tá na hora..

Abri meus olhos um pouco atordoada e zonza, e vi a figura de uma menino magro de mais ou menos 12 anos  parado a minha frente.

— Vamos Carmelia. Já está tarde, você vai se atrasar.

Disse o menino olhando fixamente para mim.

Quem era Carmelia? Onde eu estava? E quem era aquele garoto na minha frente?

— Ond.. onde eu estou? Quem.. Eeh, quem é você?

— Como assim quem sou eu? Você tá bem? Andou comendo Amanita¹ outra vez?  Anda logo Carmelia. Depois não vem dizer que eu não avisei.

Amanita? O que é isso? Alguém pode me dizer onde eu estou? Como eu vim parar nesse lugar? E mais uma vez quem é Carmelia? e por que aquele menino me chamou assim? Antes que eu pudesse dizer mais alguma coisa, o menino saiu correndo porta a fora me deixando sozinha com minhas perguntas.

Sentei-me na cama e olhei ao redor. Que lugar estranho é esse? Como eu vim parar aqui? E que roupas são essas que estou vestindo?
Levantei-me ainda atordoada e fui em direção a um pequeno espelho, que ficava em cima de uma mesa com uma vasilha redonda de alumínio. Foi quando vi que o reflexo no espelho, o reflexo que eu estava vendo, o meu reflexo, não era o meu.

— Meu Deus o que está acontecendo? Isso só pode ser um sonho. Um sonho bem louco e real.

Senti meu estomago revirar e as minhas pernas estremeceram. Como aquilo podia ser real? Por que eu estava diferente? Apertei os braços em volta da barriga e sentei-me em uma cadeira velha que tinha ao lado da cama. Fiquei imóvel por alguns minutos tentando por os pensamentos de volta no lugar. 

— Ok. Pensa Emma, pensa. Qual foi a ultima coisa que você se lembra? Ontem era o ultimo dia de aula e eu estava a caminho do metro. O metro estava chegando quando meu celular vibrou e.....

De repente um arrepio percorreu todo o meu corpo. Flashes do acidente invadiram a minha mente, e eu quase pude sentir aquela dor em meus ossos novamente. 

— Não. Isso não é possível.. Deve ter sido um sonho. Não..

Lágrimas começaram a escorrer dos meus olhos incontrolavelmente. E eu não consegui dizer uma palavra por cerca de uns 5 minutos. Aquele acidente horrível foi real. Eu sabia que sim. Mas o que eu não conseguia entender era como eu havia ido parar naquele lugar, e o por que eu não era mais eu.

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