Prólogo

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(1941)

            Na janela, olhando desolado as outras crianças brincarem estava um garoto de cabelos castanhos, olhos verdes e pele bronzeada. Leon, o garoto estranho naquela cidade, o garoto que as crianças não gostavam de chegar perto. Por quê? Porque ele tinha olhos de bruxo, um feiticeiro do mau, um filho do coisa ruim. Mas Leon não era isso. Ele era gentil, dócil, alegre e muito energético, mas agora parecia um girassol, murchando aos poucos na chuva, sozinho.
             A única pessoa que brincava com o garoto era a falecida mãe, morta por câncer. Mas as pessoas podiam ser cruéis, então disseram, até a história se espalhar, que ele, com seus poderes de bruxo, havia matado a própria mãe com um doce envenenado. Leon era só uma criança de 8 anos, amava doce como a maioria, mas também era ingênuo mais do que as outras pessoas, nunca via maldade nas pessoas, então uma parte de si acreditou que sim, ele era um bruxo e que sim, ele havia matado a própria mãe.
              Seu pai, vendo o filho tão tristonho, se aproximou do garoto e o abraçou. Desde que sua amada esposa partirá ele também entrará em um estado depressivo, mas não queria que o filho perdesse sua essência, ficaria desolado se isso acontecesse.

Luís:Filho, que tal tomar um sorvete?
Leon:Sim!-sorriu.
Luís:Aí podemos ir para o parque para vc brincar, sim?
Leon:Ah.-viu o desânimo no rosto do garoto.-Não podemos só tomar sorvete?
Luís:Por que vc não quer ir para o  parquinho?
Leon:Porque as crianças são malvadas.-fez bico.
Luís:As crianças não são malvadas.-afagou os cabelos castanhos do filho, os cabelos da mãe.-Elas são espelhos, refletem o que os pais fazem.
Leon:Até mesmo aquelas pessoas malvadas, aquelas pesi.....pesipopatas?
Luís:Psicopatas?-viu o castanho assentir.-Onde vc aprendeu essa palavra?
Leon:Eu ouvi o vovô xingando na frente da tevê uma pessoa que era chamada desse jeito e essa pessoa era muito malvada. Essas pessoas também são espelhos?
Luís:Bom, isso não posso afirmar, filho. Infelizmente não tenho uma resposta definitiva para isso, mas eu acredito que nenhuma criança é malvada, ela é moldada para ser.
Leon:Quem molda uma pessoa para ser malvada?
Luís:As vezes nós, pais, podemos acabar moldando vcs do jeito errado pelas nossas atitudes erradas.
Leon:Entendi.
Luís:Mas que tal a gente ir tomar sorvete agora?
Leon:Vamos!

               Assim, pai e filho saíram de mãos dadas para o parquinho, onde compraram sorvete e comeram sentados em um banco. Algumas crianças olhavam para Leon, mas logo paravam quando ele as encarava. Triste, ele perguntou ao pai:

Leon:Papai, eu matei mesmo a mamãe? Ela morreu por que tenho olhos de bruxo?
Luís:É claro que não, filho.-olhou para o menino.-Vc não tem olhos de bruxo.
Leon:Mas todo mundo diz que eu tenho, até os adultos falam isso.
Luís:Isso é tudo bobagem, Leon.
Leon:Hm.-terminou de comer seu sorvete.-Eu quero ir no balanço.
Luís:Pode ir, vou ficar olhando vc daqui.
Leon:Eu não vou.
Luís:Por que não?
Leon:Tem um garoto ali.-disse cabisbaixo.
Luís:E o que há de mau nisso?
Leon:Ele vai me odiar.
Luís:Leon, mesmo que as pessoas te odeiem sem nenhum motivo, vc não pode se reprimir por causa delas. Vc é especial e alguém vai notar isso, é só uma questão de tempo.-sorriu.-Agora vai brincar.

           Meio receoso, Leon se aproximou do balanço. O garoto nem notou sua presença, estava concentrado lendo o livro. Com isso, Leon pode reparar em suas características físicas: Ele tinha cabelos escuros e um pouco grandes (iam até os ombros) , a pele um pouco mais cara que a sua (que sempre fora meio bronzeada), olhos castanhos. Eles pareciam ter o mesmo tamanho, então talvez se Leon tivesse que sair no tapa ele não ia sair em tanta desvantagem.

Leon:Com licença.-chamou a atenção do garoto.-Posso usar o outro balanço?

             O garoto só assentiu, depois voltou a olhar seu livro. Leon se sentou no outro balanço e começou a se balançar ali, mas as vezes olhava para o garoto ao seu lado, curioso em saber porque ele lia tanto aquilo. De repente, ele havia parado só para olhar aquele garoto, morrendo de vontade de perguntar porque ele estava lendo aquilo.

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