8-FIM! De um amor inocente

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No final de maio chegaram duas correspondências para mim, das universidades para as quais havia me candidatado. Era uma quinta-feira quando minha avó me entregou os envelopes, assim que retornei do colégio. Sua expectativa transbordava no olhar angelical. Havia uma tristeza escondida no fundo da sua alma, com a possibilidade de eu deixa-los para seguir meu rumo. A ansiosidade também se apoderou de mim, junto com o receio de deixar a segurança daquela casa e me afastar do amor que eles me dedicavam. Não consegui abrir os envelopes, deixando-os sobre o aparador do hall. A perspicácia de seus anos de experiência compreendeu minhas incertezas, e nenhum dos dois tocou mais no assunto.

O semestre caminhava para o final, no colégio só se falava das provas finais e, aqueles que iam recebendo as cartas de aceitação das universidades para as quais pleitearam uma vaga, anunciavam, cheios de orgulho, o fato de terem ingressado na universidade. O Jeff me comunicou a vaga em engenharia na universidade do Colorado no campus de Boulder, portanto, sua vida continuaria por ali, e isso lhe bastou. Também ficou me perguntando se eu obtive resposta das universidades e, por algum motivo, eu menti, negando. Estava apreensivo demais para abrir aquelas correspondências e, mais ainda, para discutir com ele, caso fosse aceito, pois isso significava outra guinada na minha vida.

Três semanas depois até a ansiedade dos meus avós estava me matando. Estavam curiosos por uma resposta e, embora não o demonstrassem, sua agonia era visível. Não dava mais para protelar a abertura daqueles envelopes. Numa noite em que até o sono me fugiu por conta desse impasse, desci a escada, peguei os envelopes e os abri em plena madrugada. PREZADO SENHOR LUKE HENDERSON - É COM IMENSO PRAZER QUE COMUNICAMOS QUE O PROGRAMA DE ADMISSÃO DA UNIVERSIDADE DE CORNELL FEZ UMA RECOMENDAÇÃO E A MESMA FOI ACEITA PELA FACULDADE DE MEDICINA PARA SUA ADMISSÃO NO PRIMEIRO ANO DO PROGRAMA ACADÊMICO A SE INICIAR EM 18 DE SETEMBRO PRÓXIMO - NOSSAS CONGRATULAÇÕES.O texto emitido pela Universidade de Wisconsin continha em suas palavras o mesmo conteúdo. Um turbilhão de pensamentos avassalava minha mente e outro tanto de sentimentos produzia o mesmo efeito em meu coração, tudo a um só tempo. Ri por entre lágrimas, me alegrei no meio da dor, nada e tudo faziam o mesmo sentido. Sentia-me exausto, sentado à mesa da cozinha, segurando as duas cartas nas mãos, e olhando fixamente para elas. Minha vida estava naquelas folhas com um texto impessoal escrito por desconhecidos. Deixei-as cair sobre a mesa e fui dormir.

Minhas premonições se confirmaram. Meus avós me cumprimentaram e me abraçaram, quando desci para o café da manhã ainda de pijama. No entanto, o fato de eu ter que sair da casa deles também pesava no fundo de suas almas. A saída de um filhote do ninho para alçar voo próprio os atropelava pela segunda vez. Se foi duro ver esse sentimento comprimir seus corações, eu imaginava como seria dar essa notícia ao Jeff.

Estávamos no celeiro ao entardecer de um domingo, depois de um dia agitado em que voltamos de um acampamento no parque nacional da floresta de Arapaho, para onde havíamos ido, na sexta-feira à tarde, carregando nossas bikes na caçamba da picape. O Jeff acabava de tirar, pela segunda vez, o caralhão ainda pingando sêmen do meu cuzinho esfolado. O esforço físico do final de semana ao invés de esgotá-lo parecia ter-lhe injetado mais adrenalina e, particularmente, mais testosterona nas veias. As duas vezes em que ele entrou em mim foram delicadas e gentis como nunca antes. Ele está deitado, e segura minha cabeça em seu peito, desliza minha mão até seu membro toda vez que eu ameaço tirá-la de lá para acariciar os pelos de sua barriga. De uns tempos para cá a maciez da minha mão brincando com sua rola tornou-se sua sensação predileta.

- Recebi a resposta das universidades de Cornell e Wisconsin. - digo, massageando seus testículos com a ponta dos dedos.

- E aí? Aceitaram? - sua voz está surpresa e cautelosa.

- Sim. As duas. - balbucio inseguro. Um silêncio demorado se instala. Nas cocheiras lá em baixo começa uma sequência de relinchos, como se os cavalos estivessem dando um boa noite.

- Já se decidiu? - há angustia em sua voz.

- Sim. - de repente começo a sentir medo.

- Onde? - a palavra sai como um grunhido.

- Cornell! - aquela calma aparente dele, aquele silêncio dominando o ar. Como isso vai acabar?

- Parabéns! - ele bufa.

- Preciso de certezas. Tenho que me sentir seguro. Desde a separação dos meus pais eu vivo um pesadelo. Estou sem referência alguma, e não sei viver assim. - minha voz sai embargada, e eu seco as primeiras lágrimas.

- E eu não consegui te dar essa segurança! - exclama, é mais uma autocensura do que um comentário dirigido a mim.

- Não! - sussurro

- Pensei que você fosse mais compreensivo. - disse, sem me encarar.

- Eu sou Jeff! Eu sou tão compreensivo que aceito as migalhas de seu afeto. Aceito aquele pouco que você está disposto a oferecer para uma relação como a nossa. Que nunca vai ser plena, por que você me vê apenas como seu brinquedo sexual, não como alguém que precisa do seu amor. - uma súbita coragem se cria dentro de mim.

- Eu mudei tanto por você! - resmunga

- Eu sei. E eu te amo por isso também. Mas eu não posso amar sozinho, Jeff. Não é justo comigo mesmo. Eu também tenho direito a uma vida plena. E, é isso que estou indo procurar. - ouvir as minhas próprias palavras me dá mais convicção sobre a minha decisão.

- Não sei se consigo mais viver sem o seu amor. - seus olhos estão marejados.

- Vai conseguir. Você traduz a palavra amor como algo que te dá prazer aqui, e não aqui. - digo, primeiro apertando seu membro entre os dedos, e depois pousando minha mão sobre seu coração. - E eu torço para que um dia você compreenda o significado dela aqui. - minha mão desliza sobre seu coração que palpita acelerado.

No início de setembro daquele ano ele me leva até o aeroporto de Denver. Me despedir dos meus avós tirou meu último chão firme sob os pés. E, até para eles, foi difícil conter o sofrimento que esta ruptura produziu. Jeff dirigia o Porsche 911 em silêncio, sem pressa, pois eu estava bastante adiantado para o meu voo até Nova Iorque. Eu temia fazer qualquer comentário, receoso de que aquele nó na garganta sobrepujasse meu autocontrole. Para piorar as coisas, eu que até então não havia me concentrado na seleção musical do iPod que ele conectara ao painel, e que vinha compondo apenas um som de fundo, quase perdido; comecei a distinguir os acordes de 'Come Undone' do Duran Duran, a mesma música que nos acompanhou até a casa dos meus avós, após ele ter tirado a minha virgindade naquele celeiro que, de agora em diante, não seria mais que uma lembrança.


A última cena que ficou gravada em minha memória e, que ainda me dói profundamente, foi seu rosto transfigurado por um choro contido atrás dos grandes painéis de vidro que separavam o corredor de embarque do túnel de acesso à aeronave. Eu acenei para ele com o rosto coberto de lágrimas e um soluço a me sacudir o peito. Quando o avião começou a correr pela pista eu senti como se os pedaços do meu coração estivesse espalhados sobre o asfalto e que jamais eu os conseguiria juntar novamente, e um choro convulsivo e pungente eclodiu sem freios, enquanto eu me afundava na poltrona. Benvindo a idade adulta Luke!

FIM!

Cilada de uma paixão Adolescente-1° LivroOnde histórias criam vida. Descubra agora