Quem é você?

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Existem monstros lá fora, você consegue ouvir?

Gritos estão te chamando, eles conseguem sentir

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Quando acordou naquela manhã, decidiu que começaria a semana com o pé direito. Ao fazer sua costumeira rotina antes de sair de casa, mantinha como um looping em sua mente as palavras chave para manter uma boa paz de espírito, e assim, planejou todos os passos que a levariam para algo que seria considerado por si mesma como um avanço significativo.

Com calma e ordenança, ajeitou sua bolsa para aquele dia, colocou todas as coisas necessárias – como carteira, documentos, remédios e afins.

Ajeitou sua roupa em frente ao espelho que tomava conta de boa parte da parede do banheiro, alinhando os fios da cabeça presos em um rabo de cavalo. Passou a mão sobre a blusa social, desamassando-a, estava presa pela calça preta do mesmo modelo, um cinto charmoso completava seu look. Seu objetivo era sentir-se bem, porque o ambiente de trabalho conseguia ser prejudicial até demais para sua sanidade mental – literalmente – em grande parte das vezes. Nada de conforto, apenas a necessidade de pagar contas e se manter, num lugar onde sabia não ser bem vinda, porém mesmo com seus demônios dentro e fora de sua mente, era isso que deveria enfrentar apenas por ser quem é.

Então, saiu de seu apartamento para o estabelecimento que costumava tomar café da manhã antes de partir para seu purgatório particular, que pagava incrivelmente bem até para uma pessoa como ela. Tinha ciência do que seus atos certamente acarretavam, mas o que poderia fazer? Se qualquer pessoa passasse um dia em sua pele, não a julgariam como fazem ao extremo.

Usariam do bom senso para, ao menos, procurar entender. Mas não, é bem mais fácil para a sociedade atual pregá-la numa cruz, instigando ódio e apontando dedos, olhares atravessados, frases murmuradas como se ela não ouvisse.

Tão patéticos.

Voltando a apresentação do dia…

Hinata tinha concentrado-se em seguir a risca a lista pregada na porta do seu guarda roupa, onde sempre que olhasse ao acordar, já teria em mente as práticas de atividades que lhe trariam certo tipo de normalidade.

No entanto, sempre havia algo, ou alguém para quebrar e embaraçar todo o seu esquema.

Naquele momento, tomava o café amargo em pequenos goles, aproveitando que ainda estava quente, do jeito que achava ideal para ser ingerido costumeiramente em suas manhãs.

O relógio no seu pulso marcava dez para as oito, horário que deveria sair dali e ir para o trabalho. Não se apressou, entretanto, saboreou calmamente sua bebida favorita, concentrada na respiração de quem quer que estivesse na mesa atrás da sua.

Perto demais.

Irritante demais.

Seus dedos batucavam na xícara sempre que a afastava da boca, vez ou outra mirava seu olhar na direção do barulho que passou a lhe atormentar desde que se sentou ali. Poderia simplesmente ignorar e seguir com sua vida, afinal de contas é completamente normal um ser humano estar respirando daquela maneira.

Porém, para ela, as coisas não funcionam dessa maneira.

O fato daquela pessoa estar justamente numa mesa atrás da sua, tendo o estabelecimento tantos lugares vazios, já era sinal o suficiente de suspeita para ela.

Cerca de alguns minutos antes, ela se levantou para pedir um acompanhamento comestível, apenas para olhar de relance o indivíduo. E como se estivesse com um sensor, viu a cabeleira castanha seguir seus passos como se ela não estivesse notando.

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