Capítulo 1 - Minguante.

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O que faz alguém ser humano? O que faz de você ser ''você mesmo''?

Era uma noite calma. A lua minguante brilhava fraca no céu enquanto a pequena cidade se preparava para dormir. Poucas almas estavam nas ruas, cada uma por motivos diferentes: almas perturbadas por vícios, outras procurando diversão... E o resto, trabalhando. Pedro estava em casa, sentado no sofá enquanto bebia sua bebida favorita: vinho. Era a melhor maneira que ele via para relaxar, e ele precisava aproveitar seu dia de folga bem. Pedro era entregador de pizza, um trabalho perfeito pra muitos, mas infelizmente não para ele. Isso significava ter que interagir com seus colegas de trabalho na pizzaria, e ninguém gostava muito dele lá. Mas isso dava para suportar. Afinal, o pagamento era bom. Ele estava deitado no sofá enquanto assistia um documentário sobre formigas na TV. Não era lá das coisas mais interessantes do mundo para se assistir em um domingo a noite, mas suas únicas opções eram um filme tão antigo quanto a TV em si ou uma matéria sobre o aquecimento global, e nenhuma dessas coisas interessava para ele. Somente o barulho da TV preenchia o silêncio da casa dele. Ele sentia falta dos amigos... Quando foi que eles se distanciaram? Às vezes Pedro se pegava pensando no que Davi e Heitor estavam fazendo da vida enquanto ele ficava se matando de trabalhar pra conseguir pagar as contas... Talvez Heitor tinha seguido o sonho de infância e estava treinando para ser jogador de basquete... Pedro afastou a nostalgia da mente. Era triste pensar que os quatro amigos, que um dia juraram nunca se separar, de fato tinham se distanciado. O único que Pedro mantinha um certo contato era Fernando, que atualmente tinha acabado de se formar em Medicina.

Ele levantou do sofá, indo até a geladeira procurar algo pra comer e pegar mais um pouco de vinho. Antes de chegar nela Pedro pega uma caixa de palitos, tira um da caixa e coloca na boca, e guarda a caixa no bolso. Na geladeira tinha uma foto: eram os quatro amigos. Heitor, o garoto loiro de nariz empinado sorria timidamente para a câmera enquanto Fernando, que usava uma fantasia de um soldado romano e segurava um troféu sorria alegremente. Davi, o mais velho, sorria gentilmente enquanto era abraçado por Pedro. Pedro era de longe o que estava mais feliz na foto: ele tinha um sorriso enorme e abraçava Davi com um braço enquanto fazia o ''sinal da paz'' com a mão do outro braço. Ele ficou por alguns segundo encarando a foto, relembrando dos vários momentos felizes que o grupo tinha compartilhado na infância.

O documentário que estava passando na TV foi interrompido pelo plantão de emergência do canal. Uma mulher chique começou a anunciar com um leve tom de desespero: ''Boa noite, Estamos interrompendo a programação normal para transmitir um anúncio emergencial que recebemos a poucos minutos do governo. Por favor, precisamos do máximo de atenção possível.'' Logo em seguida um vídeo com um homem com trajes militares começou a tocar: ''Estamos aqui para avisar que um vírus desconhecido que até o nosso conhecimento surgiu de uma base cientifica no estado de Amazonas não foi contido e está se espalhando pelo país inteiro. Estamos declarando estado de emergência para todos os estados que compartilham fronteira com Amazonas. Isso não é um teste. Repetimos: Estamos declarando estado de emergência aos estados de Acre, Rondônia, Roraima, Pará e Mato Grosso. Recebemos confirmação de que o vírus é transmitido através da saliva e do sangue e os efeitos da contaminação variam entre insanidade e agressividade extrema. Todo serviço não essencial será desativado e todos devem permanecer em casa até segunda ordem. No encontro com alguém contaminado, recomendamos que evitem contato direto com a pessoa e que liguem diretamente para seu centro de autoridades mais próximo. Permaneçam em casa. Tenham todos uma boa noite.''

—Puta merda... —Nunca em toda a vida de Pedro ele tinha ouvido algo tão sério vindo da TV. Ele foi em uma das janelas da sala e lentamente afastou uma das cortinas para ver se algo estava acontecendo lá fora...

Nada.

Tudo parecia quieto. Quieto até demais. ''Será que o Fernando viu o plantão?'' ele indagou mentalmente para si mesmo. Ele não ouvia gritos nem nada lá fora. A cidade estava em silêncio. Pedro decidiu pegar o seu celular da estante e ligar para o amigo na intenção de saber se ele estava bem, mas recebeu somente a mensagem típica de caixa postal. Na mente de Pedro ele se negava a acreditar que Fernando poderia estar em perigo. Onde estava Heitor? Será que algo aconteceu com ele? ''O Davi é forte, ele deve saber se defender...'' Pedro tentava se acalmar pensando que talvez eles estivessem bem... Que Fernando poderia estar na casa dos pais junto com a família... Seguro...

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