Uma voz no deserto

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Trecho do livro "Crônicas do rei Herodes Antipas," escrito pelos escribas do rei, durante o seu reinado, provavelmente por volta do ano 31 depois de cristo.

O grande rei estava preocupado durante aquela noite fria de Outono, pois os fantasmas do passado visitavam sua mente.

Olhando da janela de seu palácio, o rei lembrou-se daquele dia, quase trinta anos atrás, quando quase perdeu o seu trono. Sempre sonhou em receber a Judéia, o território mais importante que seu pai, o grande rei Herodes, governou. Entretanto, suas ambições foram frustradas quando o imperador romano entregou a Judéia e a Samaria para seu irmão, Herodes Arquelau.

A Galileia e a Pereia eram os territórios judeus mais afastados e mais empobrecidos. Antipas menosprezou aquele lugar, mas ao menos os impostos sustentavam a vida de luxos exagerados de príncipe que ele sempre teve e na qual tanto amava. Principalmente por não mais temer um envenenamento ou um assassinato proveniente de seu pai, que passou a vida matando qualquer um, apenas por suspeitar a possibilidade de uma traição.

Esse desprezo e a vaidade de Antipas, o fez relaxar em seu governoque estava repletos de guerrilheiros zelosos que tinham como objetivo destroná-lo. Por isso o imperador de Roma decretou, naquela época, o fim do seu reinado e entregou o poder nas mãos de Quirino, governador romano da Síria.

Era isso que preocupava o rei, pois agora no rio Jordão, havia uma seita judaica liderada por um homem chamado João Batista. Antipas temia que ele iniciasse uma rebelião, porém, temia também tomar uma ação premeditada e a partir disto, elevar a ira do povo contra si e causar uma nova rebelião.

Herodes Antipas conseguiu recuperar seu trono em tempos passados, graças ao fracasso de Quirino, que causou uma grande rebelião na Galileia e Pereia, ao ordenar um censo. Contudo, o rei sabia que se não mantivesse o controle, perderia seu trono mais uma vez e agora para sempre.

O rei passou anos imitando seu pai ao fazer grandes construções e reconstruções, após a guerra. Isso contrataria milhares de camponeses, que ocupariam suas mãos com obras ao invés da espada.

João Batista porém, tirava-lhe o sono, porque sua fama havia chegado até mesmo na Judéia. O rei não sabia o que fazer.


Era por volta da meia noite quando o oficial da guarda real chamado Gespas, foi chamado ao palácio do rei. Seus olhos estavam avermelhados pelo sono e sua face expressava a mais vasta fadiga.

"_ Aqui estou, meu senhor!" Disse o oficial da guarda.

"_ Tenho um assunto grave para tratar contigo, comandante!" Disse o rei.

O oficial tentou esconder sua expressão de medo e conteve suas pernas de tremerem. Ele pensou, "devem ter me acusado de traição, é a única explicação para me chamar tão urgentemente a esta hora da noite." Mesmo sentindo um nó na garganta, o guarda perguntou:

"_ O que lhe incomoda, alteza ?"

"_ É João, João o Batista!" Respondeu o rei Herodes, que estava tão preocupado, que nem mesmo notou o sinal de medo de seu comandado.

"_ Teme que ele inicie uma rebelião?" Perguntou o oficial, em um suspiro de alívio.

"_ Você era um jovem Centurião na época da rebelião de Judas e dos ataques de outros grupos guerrilheiros na Judéia e Samaria. Me conte, como vocês derrotaram aqueles grupos ?" Perguntou Antipas.

"_ Naquela época, meu senhor, lembro-me que pagamos judeus para espiar os rebeldes. Em uma terra tão pobre como esta, as pessoas fazem de tudo para sobreviver." Respondeu o oficial.

"_ Entendo, quanto mais informações tiver sobre o inimigo, melhor! Mesmo assim Gespas, temo que se fizer algo agora, os seguidores de João iniciarão uma revolta. Também temo de não fazer nada e a revolta acontecer também.De qualquer forma, César me exilaria para sempre." Falou o rei.

Jesus de Nazaré, a verdadeira históriaOnde histórias criam vida. Descubra agora