Quem é este homem ?

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Fragmento de texto antigo encontrado dentro de uma caixa, em uma escavação arqueológica em Jerusalém. Escrito provavelmente no ano 36 depois de cristo pelo próprio sumo sacerdote do templo chamado Caifás, a autoridade máxima dos judeus. Esta era sua auto biografia perdida.

Quinta-feira de Páscoa, a cidade de Jerusalém estava completamente lotada por judeus de todo mundo. Turistas estrangeiros também vinham.

Posso dizer que todo o feriado de Páscoa é assim, sempre foi. Este é o nosso principal feriado, o dia em que nos lembramos de quando Moisés, guiado pelo Eterno, libertou os nossos ancestrais da escravidão egípcia.

O templo fica sempre lotado. O povo faz enormes filas nos tanques de batismo e de purificação, a fila é maior ainda no local dos sacrifícios, onde o povo entrega aos sacerdotes sua oferta de sangue para agradar o altíssimo.

Já faz quase sessenta anos que vivemos sob domínio romano. Geralmente a guarnição romana em Jerusalém não tem tantos soldados como nessa época. O próprio governador romano da Judéia, Pôncio Pilatos, sai de Cesaréia para passar quatro dias em nossa cidade sagrada com tropas adicionais, para evitar um levante.

Eu não julgo Roma, aliás, estou neste posto de honra sobre os filhos de Israel porque o Eterno, através de Tibério (imperador romano), me escolheu. Contudo, o medo romano é compreensível, pois esta terra é instável e os judeus nunca aceitarão viver sob ocupação romana. Para piorar, a Pascoa é o feriado em que comemoramos a nossa libertação do Egito, época perfeita para um novo Ezequias ou Judas, iniciar mais uma rebelião e causar mais um desastroso massacre.

Por isso que Roma conta comigo e com o Sinédrio (o principal conselho sacerdotal e administrativo da Judéia), para conter qualquer ameaça rebelde.

No meu caso, devo colaborar com Roma e ter uma relação mais próxima com Pilatos, pois ele pode me derrubar a qualquer momento. Além disso, se Roma sair daqui algum dia, eu como sumo sacerdote, poderei assumir a coroa da Judéia e governar esta teocracia, como foi nos tempos dos reis asmoneus.

Hoje pela manhã, aconteceu algo na qual eu não estava esperando. Em plena Quinta-feira de Páscoa, houve um grande tumulto na cidade que teve seu ápice justamente no templo. Em pouco tempo a guarda do templo, com ajuda de soldados romanos, entraram em ação e dispensaram o tumulto. Entretanto o governador Pilatos está furioso e enviou um mensageiro até mim pedindo explicações do que ocorrera. Por isso durante a tarde, ordenei que convocassem todos do Sinédrio.

"_ O que aconteceu Caifás? Que tumulto foi aquele ?" Gritou um sacerdote.

"_Estão dizendo por aí que o Sinédrio tentou se levantar contra Roma!" Gritou outro sacerdote.

"_ O povo nos odeia e não espera isso de nós! Não vamos ser hipócritas, para que nos levantaríamos contra Roma ? Para o imperador nomear outros em nossos lugares ?" Falou mais um sacerdote.

"_Silêncio, Caifás tem a resposta!" Alguém interrompeu a todos.

Um silêncio tenso ecoou pelo salão, todos olhavam nervosamente para o sumo sacerdote sentado ao centro do concelho. De repente, as portas do salão abriram-se e todos olharam surpresos, pois diante deles, surgiu um homem acorrentado, usando roupas simples e surradas, com mãos calejadas pelo árduo trabalho camponês e exibindo vários hematomas pelo rosto, um presente dado pela guarda do templo.

"_ O que é isto ? Quem é este ?" Perguntou um dos vários sacerdote.

"_ Capitão, diga quem é ele !" Ordenou Caifás.

"_ Recusou-se a dar seu nome, mas ele estava no templo pela manhã e era um dos que gritavam "hosana ao filho de Davi!" Disse o oficial da guarda.

"_ Então aquilo foi uma tentativa de revolta!" Exclamou um sacerdote.

"_ Conte para eles Capitão!" Disse Caifás.

"_ O tumulto que tivemos essa manhã, iniciou-se ainda fora da cidade. Um grupo entrou em Jerusalém exclamando que o messias havia chegado e estava entrando pelos portões de Sião, seguindo em direção do templo. Várias pessoas uniram-se a procissão, mas essa grande movimentação chamou a atenção dos romanos. Todavia, o templo estava cheio, como de costume nessa época e muitos curiosos seguiram o grupo que agora, estava muito grande e aos poucos crescia ainda mais. Com ajuda dos romanos, conseguimos dispersar todos, mas não conseguimos capturar o suposto messias..."

"_ Apenas um de seus seguidores!" Falou o sumo sacerdote, ao interromper o capitão da guarda.

"_Se tem as informações que precisa, Caifás, por que a guarda não agiu ainda ? Por que não notificou Pilatos ?" Questionou um dos sacerdotes.

"_ Ele não disse nem mesmo o seu nome! Além do mais, mesmo que tivesse nos dado informações, eu tenho que chamar o Sinédrio para decidirmos o que fazer, ou ao menos notificar este conselho." Disse Caifás, que em seguida virou seu olhar ao prisioneiro e falou:

"_ Ele também disse que entregará o messias por um preço justo e está tão determinado com isto, que resistiu ao interrogatório dos guardas. Então diga-me prisioneiro, o que você deseja antes de dar o que precisamos?"

O homem acorrentado levantou o seu olhar para Caifás neste momento, revelando ainda mais seus ferimentos e falou, com um linguajar extremamente simples:

"_ O mestre falhou, portanto ele é mais um falso messias ! Sou leal a Israel, não a um mentiroso. Contudo, não sairei dessa vivo se não for esperto, por isso, jure em nome do altíssimo que se eu lhe der o nome do falso messias, ganharei minha liberdade e algumas moedas de prata."

"_ Feito!" Gritou o sumo sacerdote, que em seguida ordenou:

"_ Juro que farei isto, em nome do Eterno! Agora dizei, quem era o falso messias ? Quem era esse homem ?"

"_ Jesus...Jesus de Nazaré!" Respondeu o prisioneiro.

"_ Nazaré ? O que é Nazaré ?" Perguntou um dos sacerdotes.

"_ É um vilarejo próximo de Séfores." Respondeu o prisioneiro.

"_ Então, onde esse Jesus da Galileia está ? O que ele planeja fazer agora que seu plano falhou ?" Perguntou Caifás.

"_ Espere Caifás!" Exclamou um dos sacerdotes que em seguida perguntou ao prisioneiro:

"_ Fale-nos mais desse galileu, de onde tu conheces ele, o que exatamente ele faz da vida ?"

"_ Eu o conheci em Betsaida, ás margens do mar da Galileia. Ali ele é conhecido por realizar curas, milagres e por ensinar a lei e debate-la com os fariseus. O povo o conhece e o segue." Respondeu o prisioneiro.

"_ Para Herodes não ter dado fim a ele, como fez com João Batista, significa que sua fama não é tão grande assim. Mas estou interessado sobre seu ensino, onde ele estudou? Ele é letrado? O que exatamente esse Jesus diz ?"

"_ Ele não sabe escrever, nenhum de seus seguidores sabe. Ele foi ensinado por João Batista e Jesus diz ser o messias sobre quem João tanto falava." Disse o prisioneiro, que após uma pausa seguiu dizendo:

"_ Jesus disse que reinará sobre toda Israel e sobre Roma e que isto será o fim desse tempo."

Ouvindo tais palavras, os sacerdotes começaram a exclamar:

"_ Esse Jesus é perigoso! Deve ser detido imediatamente!"

Caifás então levantou-se de sua cadeira, no centro do salão e batendo seu cajado no chão, exclamou:

"_ Silêncio!"

Então o sumo sacerdote virou-se para o prisioneiro e questionou:

"_ Você sabe onde ele está?"

"_ Sim!" Respondeu o homem.

"_ Se nos levar até ele, receberá tua liberdade e mais trinta moedas de prata. Caso não concorde, será entregue aos romanos e você sabe as crueldades que eles fazem com aqueles acusados de sedição, sabe ?" Falou Caifás.

"_ É uma oferta justa, senhor!" Respondeu o prisioneiro.

"_ Então vá com a guarda do templo e guie-os até onde o galileu está! Ajude-os a identifica-lo e a traze-lo sob nossa custódia! Vamos dar um fim a este Jesus de Nazaré!" Falou o Sumo Sacerdote.

Jesus de Nazaré, a verdadeira históriaOnde histórias criam vida. Descubra agora