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Aplausos.

Gritos.

Flashes.

Alguns olhares espantados, outros surpreendidos, encantados, apaixonados.

Todas as noites são assim, no final de cada apresentação o som da plateia é tão alto que chega a ser ensurdecedor. Existem pessoas que viajam de muito longe apenas para nos assistir.

Para me assistir.

Não faz muito tempo desde que ganhei o título de melhor acrobata do mundo, a mulher que hipnotiza homens e deixa as mulheres com inveja de sua elasticidade, a ginasta mais forte e ágil entre tantas outras. Um jornalista do The NewsPaper esteve atrás de nós por pelo menos 3 cidades diferentes, e digamos que ele ficou um tanto... encantado com minha performance.

É claro que isso trouxe inúmeras vantagens para o circo, e também trouxe muitas responsabilidades para mim.

Nada que já não houvesse antes.

Mas agora o circo está mais do que apenas lotado e estamos tendo que trabalhar o dobro para poder atender a demanda das cidades em que passamos.

Pessoas clamam por mim.

- Julie! Julie! Julie!

- Julie! Julie!

A plateia inteira grita em unissono enquanto faço a dramática reverência até que eu quase toque o chão. Após um minuto rápido de agradecimentos e sorrisos ao público eu me retiro do palco e o show continua.

- Você errou.

Esse é o meu pai, Antonio Crivolli, dono do circo, mais chefe do que pai. Uma das funcionárias miúdas e silenciosas que trabalha conosco me trouxe minha garrafa de água.

- Obrigada, - digo com um sorriso no rosto mas ela rapidamente já tinha ido fazer alguma outra coisa. Me viro para meu pai, aparentemente furioso - eu sei.

- Pessoas pagam caro por esse espetáculo, Julieta, você não pode...

- Pai, foi um pequeno deslize, eles sequer notaram.

- O Josh está por algum lugar lá fora, vocês precisam se resolver e...

Não dou chances para que ele continue a reclamar no meu ouvido, me dizendo o que fazer, como fazer, eu saio da tenda o mais rápido o possível, indo em direção ao camarim.

O camarim é onde todos fazemos trocas rápidas e ajustes durante o espetáculo, as vans ficam mais distantes da tenda, por isso não fazemos trocas lá, atrasaria tudo. O show já está quase acabando, é o último do dia, então o camarim está completamente vazio, a não ser por mim, que me jogo em uma das cadeiras em frente a penteadeira bagunçada que tem tudo de todo mundo. Fora presentes que eu ganho no final de cada espetáculo.

Meu pai estava falando sobre Joshua Costa, meu noivo.

Crescemos juntos no circo, os pais dele trabalhavam para o meu pai. Eles diziam ver o futuro das pessoas, eram verdadeiros charlatões. Bem, um dia eles sumiram e largaram o rapaz conosco, devíamos ter uns 14 anos.

Eu já o amava nesse tempo.

Vi ele crescer, desenvolver suas habilidades com facas, ganhar seu lugar no nosso espetáculo. Vi a barba crescendo de uma forma engraçada e feia. Eu vi ele se ajoelhando para mim, colocando um anel em meu dedo.

Uma semana depois, vi ele beijar outra num canto escuro atrás do circo.

Ouço uma voz familiar me chamar atrás da porta, então a porta se abre.

- Josh eu ainda não estou a fim de conversar com você, não me force a fazer isso seu pedaço de merda fedida!

- Não sei quem é esse cara, mas ainda bem que não sou eu.

Quê ?

Misericórdia, quem é esse ?
Definitivamente não era Joshua. Vestido com roupas chiques e exalando perfume caro, um homem alto e com o rosto mais lindo que eu já vi estava me encarando. Cabelos escuros penteados para trás e olhos castanhos tão profundos...

- Quem..? Escuta, você não pode estar aqui.

One Night OnlyOnde histórias criam vida. Descubra agora