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- Julieta?

Ela estava ali, bem na minha frente. E era como se eu tivesse 5 anos de novo, chorando no colo do meu pai após ouvir a notícia de que minha mãe não voltaria mais pra casa. Apenas alguns anos depois eu fui, de fato entender que ela havia morrido. 

Um acidente de carro, foi o que me disseram. 

Mas não... ela estava bem ali, e parecia mais uma das ilusões de Gale de tão perfeita que era, até  por que, ela deveria estar morta. 

O chão abaixo de meus pés havia desabado, lágrimas invadiam meus olhos e inundavam meu rosto. Frustração, incredulidade, decepção e desapontamento era tudo o que havia dentro de mim.

A mulher, que há 15 anos havia me deixado, vinha em minha direção com os braços abertos e os olhos cheios de lágrimas, felicidade ? Arrependimento ? 

- Julie, minha filha, minha pequena! - ela me envolve em seus braços.

Ânsia envolve meu corpo quando sinto seu cheiro, o cheiro que meu pai ainda mantinha escondido no seu armário. Imediatamente a afasto. Precisava sair daquele lugar. Precisava achar o meu pai. 

- Não encosta em mim... - as palavras eram difíceis.

Gale tenta se aproximar de mim, mas a minha mãe o repreende. Deus, ainda não acredito que é ela. As roupas, de circo, exatamente como eu me lembrava, mas está mais velha e bem menor. 

Certamente por que eu cresci. 

- Julie, as coisas não precisam ser dessa maneira, eu posso te explicar tudo...

- Explicar o porquê de você ter abandonado uma criança de 5 anos num circo itinerante ? Não, obrigada, mamãe. - a raiva e o gosto amargo na minha boca eram crescentes.

- Não foi assim que as coisas aconteceram. - ela me olhava como se eu fosse um tesouro, como se tivesse ganhado na loteria, mas mesmo assim estava com os olhos cheios de lágrimas.

- Não ? Mas é o que parece. - me viro pra Gale, que observava nós duas com medo de que explodíssemos o circo todo - Me tira daqui.

Ele imediatamente se põe ao meu lado, apoiando gentilmente uma mão em meu ombro para me guiar enquanto diz:

- Claro, eu levo você...

Assim que damos as costas para minha mãe, um buraco profundo é aberto em meu peito, solidão e tristeza substituiram a raiva. Todos aqueles anos, sozinha, sem uma mãe. Nada jamais poderia concertar aquilo.

Antes que passassemos pela porta, me viro para olhar o fantasma de uma mulher que eu nunca tive a chance de conhecer. Ela estava parada, me vendo partir enquanto chorava tanto quanto eu estava chorando.

- O seu pai era um homem mal, Julieta... e quando eu conheci o pai de Gale, quando eu vim nesse lugar pela primeira vez, eu... eu tive esperança. Eu não conhecia uma vida sem os tormentos e a sombra que Antonio me causava, até vir e enxergar. Me apaixonei... perdidamente pelo pai de Gale, sabia que aqui eu teria um futuro melhor e pelo menos um pouco de paz. - ela vem em nossa direção, Byers me aperta ao seu lado - Eu sei que errei em te deixar lá, sei que errei em não te procurar antes mas eu sempre estive aqui, te observando, vendo sua evolução, sua ascensão. Sinto tanto orgulho de quem você se tornou, filha... Eu não espero que me perdoe, apenas peço que tente me entender.

Não sabia se devia acreditar em suas palavras, sobre o que dizia a respeito de meu pai. Mas ela estava ali, na minha frente. A minha mãe. Enxugo as lágrimas restantes em meu rosto.

Não existe perdão para o que ela fez, mas já sou uma mulher crescida agora. 

- Eu... eu preciso ir, Elizabeth. Espero que nós possamos nos ver novamente.

Ela suspira, aliviada, então da um sorriso entre as lágrimas. Deus, era ela mesmo.

- Pode vir nos visitar quando quiser! Amanhã ? A tarde. - ela estava tão animada, havia esperança dentro dela, quente e pulsante.

- Vou estar ocupada, com o espetáculo, mas agradeço pelo convite.

A observo de cima a baixo uma última vez, tantas semelhanças, tantas diferenças. Tinha que ir embora. Não daria mais continuidade áquela conversa, me viro para sair e Gale continua a me acompanhar, ainda me apertando no ombro. 

A tenda em que estávamos agora a pouco deveria ser o camarim, mal tive tempo para reparar nos detalhes, mas agora estávamos na praça de alimentação. O Espetáculo de Byers já havia terminado, mas as pessoas ainda rodeavam por aquela pequena vila.

Havia música ao vivo sendo tocada em algum lugar não muito longe de onde nós estávamos e eu me perguntava aonde será que minha trupe estaria, para que eu pudesse ir com todos. 

Gale e eu paramos numa pequena fila que tinha numa barraca de churros. Ele me vira para si como se eu fosse uma pequena bonequinha em seus braços. Seus olhos estavam cheios de preocupação, como se com medo de que eu desmoronasse bem ali.

- Eu não estou com fome.

- Eu sinto muito muito por não ter te contado antes. - ele dizia com calma, enquanto arrumava meu cabelo com delicadeza.

- Não é seu dever, não te culpo por nada... só pelo o que me fez passar hoje no palco, estava louco?

- Está falando de que parte? A que fiz você saltar da altura de um prédio de 4 andares ou da parte em que te beijei na frente de todo mundo?

Nós dois rimos, realmente não sabia exatamente o que era pior. 

Nossa vez chegou e ele pediu 2 churros -aparentemente normais- e fomos comendo quietos enquanto caminhávamos pela praça quase lotada. Estava realmente muito bom. A vermelhidão em meu rosto devido ao choro já havia até diminuído.

- É por isso que me quer no circo? Por conta da minha mãe? - interrompo o silêncio entre nós dois.

- Não... Quero você, Julieta, por que é fantástica. -seu olhar me acompanhava enquanto andávamos - E por que tá no meu gene ter uma queda por acrobatas. 

Não consigo impedir a risada, agora sabendo dos fatos, aquilo fazia sentido. 

Então ele tinha mesmo uma queda por mim.

 - Vai ter apenas uma noite comigo, Gale. - paro de caminhar para poder o encarar, diversão estava em seus olhos - E o que aconteceu hoje no palco, não vai se repetir.

One Night OnlyOnde histórias criam vida. Descubra agora