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Eu fugi.

Fugi daquele toque, daquele olhar, daquele cheiro que agora está em mim. Grudado, tão forte que seriam necessários dois banhos para conseguir tirá-lo por completo da minha pele.

Eu consegui encontrar Josh, conversando com os homens da nossa trupe que haviam vindo para a celebração também. Disse que queria voltar para casa e ele não contestou, apenas pegou em minha mão e nos levou até a saída.

Com certeza ele iria sentir o cheiro de outro homem impregnado em mim. Mas se sentiu, não comentou nada durante a nossa volta, que estava sendo tão dolorosamente silenciosa quanto a ida.

Eu não conseguiria mais fingir que estava tudo bem entre nós.

Dei uma chance para que ele pudesse fazer as coisas certas, mas ele decidiu ir por outro caminho.

Por mais que eu goste de Josh, por mais que eu tenha esperado uma vida inteira para podermos estar juntos como um casal, ninguém merece passar pelo que estou usando.

No final das contas, só sou usada para promover a própria imagem dele, ele sequer deve gostar de mim de verdade. Mas eu vou pôr um fim nisso. Pouco importa o que meu pai vai dizer, ou o que as pessoas vão achar.

Acabou.

- Eu... eu não quero mais me casar com você Joshua.

Silêncio...

Então uma risada.

- Você está bêbada, amor. Não sabe o que está falando. - seu tom era de como se ele estivesse falando com uma criança.

- Não, Joshua, eu sei exatamente o que eu estou falando e eu definitivamente não quero me casar com você. Acho que eu nunca quis, na verdade. Só estava alimentando a fantasia de romance perfeito com você por que crescemos juntos, mas na verdade você é um canalha, sem caráter e aproveitador.

Uau, parece que um peso enorme saiu de cima dos meus ombros.

- Amanhã nós conversamos melhor.

Essa foi a resposta, só isso.

O carro parou, nós tinhamos chegado. Não esperei que o motorista viesse abrir a porta, já fui me adiantando e saí do carro, pisando firme em direção a minha van. Entrei, tranquei a porta, e depois chutei ela.

Meu pé doeu.

Mas faz parte.

Respirei fundo, pra então sentir o cheiro de Gale. Até consegui sentir aonde suas mãos estavam me tocando. Precisava urgentemente de um banho, e de um descanso.

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Acordei com meu próprio corpo caindo no chão após passarmos por um buraco na estrada. Já estávamos na estrada ? Quanto tempo será que eu dormi ?

Lembro de ter tomado um banho longo, colocado meu pijama de panda e então eu estava na festa de novo, nos braços de Gale, dançando enquanto a madame Marie aplaudia nós dois. Mas isso foi um sonho.

E agora eu estou no chão.

Levanto e vou até a cabine, pra encontrar meu pai dirigindo. O que é uma surpresa, ele quase nunca pega a minha van para levar, por que gosta de dirigir a própria.

- Ah o barulho foi você ? Sinto muito, é que aquele buraco é novo. - ele tirou os olhos da pista por um segundo para me observar - Está tudo bem ? Senta aqui, fiz café.

Será que eu ainda estava sonhando ?

Me sento no banco do passageiro e realmente tinha uma jarra de café no suporte da frente. Sirvo um pouco, em um copinho que eu sempre deixo por ali e começo a bebericar o café.

- Quem está levando sua van ?

- O Geofrey, nós tínhamos que partir logo para podermos chegar cedo na próxima cidade mas não queria te acordar, então eu mesmo peguei sua vã.

Certo... que estranho.

Ainda há alguma possibilidade de eu estar sonhando ?

- Eu queria ter uma conversa com você, Julie. - ele diz com calma.

Ah pronto, nem posso imaginar o que deve ser.

- Sei que você e eu não temos tido uma relação tmuito boa desde que sua mãe morreu, e eu sinto muitíssimo por isso. Eu deveria ser um pai melhor. Deveria ser um exemplo para você, de coisas boas, entende o que estou querendo dizer ?

Esse não é o tipo de conversa que eu esperava ter.

- Só ontem que eu pude perceber que eu tenho errado muito como um pai para você.

- O que aconteceu ?

- O desgraçado do Joshua... ele veio até mim depois que vocês chegaram ontem, furioso dizendo que você não queria se casar com ele. Eu disse que só podia estar havendo algum engano, pois eu sabia o quanto você sempre foi apaixonadinha por ele. - uma pausa para respirar - E ele cresceu no circo, eu imaginava que conhecia mais da índole dele.

Um erro que todos cometemos então.

- Daí eu forcei ele a dizer o que ele tinha feito, eu sabia que só poderia ter algo de muito errado para que fizesse você desistir do casamento assim, de uma hora para a outra. Então ele me contou... sobre as traições... - a voz de meu pai foi ficando fraca. Ele iria chorar ?- Julie, eu juro... eu bati tanto naquele filho da puta, acho que ele vai ter que usar maquiagem por um tempo.

Eu não sabia se tinha ouvido direito, mas no fundo eu me senti bem. Por que ele merece, ele merece muito mais. E eu não tenho certeza, mas eu gosto de imaginar que se minha mãe ainda estivesse entre nós, ela teria dado um jeito em Joshua muito antes.

- Eu sei que não tenho sido o melhor pai, mas eu prometo que vou melhorar, vou me esforçar. Por que a minha filha merece mais.

- Tudo bem...

Minha voz saiu embargada sem que eu quisesse, o choro entalado na garganta.

Fomos conversando o resto da viagem inteira, eu pude ir colocar roupas decentes enquanto escutávamos música alta em caminho ao nosso novo ponto de parada. Eu descobri que meu pai pode ser sim uma boa pessoa, e que ele não é tão rígido quanto parece ser.

Quando chegamos para levantar tenda e nos instalar, já passava da hora do almoço.

O dia seguiu com muito trabalho e esforço físico, não era fácil montar o circo. Temos gente que trabalha conosco apenas pra isso, mas mesmo assim, ningúem fica de fora da organização. O quanto antes montarmos as tendas, a praça de alimentação e o camarim, mais rápido ficaremos livre de obrigações.

Nosso espetáculo começa daqui a dois dias, então teríamos algum tempo de descanso antes de começar a rotina exaustiva de apresentações.

Estávamos todos jantando juntos na praça de alimentação, finalmente tudo pronto. Muitas conversas e risadas, um certo ar de recomeço.

Não tinha visto Joshua o dia inteiro, o que pra mim foi perfeito, que ele continue enfiado na van sofrendo com dor.

Janice, a filhinha de Geofrey vem correndo até a mesa do jantar com um grande cartão dourado nas mãos. Parece que ninguém além de mim estava prestando atenção na menina.

- Vocês não vão acreditar, o Espetáculo de Byers está na cidade!

Silêncio recai no ambiente. Rivais, de fato. Mas agora, disputando por território e plateia? Isso é contra uma certa ética que temos entre as trupes.

- E todos estamos convidados para ir no show de abertura amanhã! - ela parecia tão empolgada.

Todos ficaram, era uma honra ser convidado para o Espetáculo de Byers, e Gale apenas convidou todos nós. Qual o problema nisso?

Todos pareciam alegres com a notícia, comentavam sobre que roupa usariam, como deveria ser a tenda deles, como montaram tão rápido.

Todos, exceto meu pai.

Parece até que viu um fantasma.

One Night OnlyOnde histórias criam vida. Descubra agora