Sorria

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Notas

Como vocês sabem, está é uma continuação de uma outra fic, "Cócegas".
Espero que gostem.
Boa leitura.
...

O badalar de uma espada era ouvida com clareza. Um vento voraz e cruel, sem piedade com o oponente a sua frente, decepando sua cabeça sem pudor.

A espada esverdeada, tão sanguinária quanto seu dono, era banhada em sangue. Este líquido carmesim iria sumir assim que o sol nascesse, mas por agora, eles se afogariam no desagradável sangue.

Não foi difícil para o vento aniquilar aquele oni, mas o que tem sido difícil foi esquecer a água. Esquecer aquela risada tão perfeita e delicada, estava sendo impossível para o Shinazugawa.

Como ele lembrava. Lembra a todo momento, durante o dia, durante a noite e até mesmo em meio às suas missões, o que tornava difícil sua concentração.

E por algum motivo, uma vontade latente o fazia querer vê-lo de novo. Queria ter ele em sua frente, poder tocar seu rosto e queria ver mais expressões. Que merda! Queria tanto, que as vezes imaginava. Isso foi capaz, até mesmo, de fazê-lo ter uma ereção.

A que nível ele havia chegado? Ele estava igual àqueles pervertidos apaixonados. Mas quer saber? Ele não liga.

Ele parou de resistir aos próprios desejos, se entregou completamente quando percebeu que ansiava por ter Tomioka ao seu lado. Mas para sua infelicidade, ele só conseguia ver o Hashira da água nas reuniões, eram raras as vezes que eles se viam fora destas. E ainda, para seu azar, a próxima reunião seria apenas daqui a três meses.

Suspirou frustrado. Ele apenas deu meia volta e se preparou para voltar e dar seu informe ao Ubiyashiki.

Correr pela noite calma era agradável. A brisa gélida fazia os cabelos espetados flutuarem, mas ele não era de ferro e precisava descansar.

Faltava pouco para chegar até a base do esquadrão, mas decidiu fazer uma pequena parada. Tinha uma nascente cristalina, era um lugar calmo e agradável, perfeita para um piquenique ou para passar um tempo sozinho, e isso foi o que ele decidiu. Seria bom organizar pelo menos um pouco seus pensamentos.

Sua felicidade reprimida explodiu, como fogos de artifício em um céu escuro. A pessoa que tanto queria encontrar estava sentada na borda da nascente, molhando os pés.

Ele estava sem o haori bicolor, as calças do uniforme dobradas até a parte interior dos joelhos, os olhos azuis cristalinos, tão perdidos que nem percebeu quando o vento voraz se sentou ao seu lado. O vento o observou, pensando quanto tempo Tomioka levaria para nota-lo.

Observou cada traço, cada linha de seu rosto, todas as perfeições e imperfeições, aquando tudo lindo e encantador. Não podendo se conter, com a ponta dos dedos, tocou o rosto de Giyu.

O portador dos olhos azuis se assustou, dando um salto, de tal modo que Sanemi o segurou para que ele não caísse na água. Giyu olhou surpreso para a pessoa que agora o abraçava tão suavemente.

- Se eu fosse um oni, você teria morrido - Sanemi falou extremamente gentil e reprovador. Ele observou o rosto de Tomioka mudar, ganhar um tom avermelhado pela vergonha de ser repreendido.

- Sinto muito - falou rouco, a voz fria e indiferente, enquanto desviava o olhar. - Pode me soltar agora - falou se referindo ao abraço, que ainda não tinha se desfeito.

- .... não - Sanemi falou. Sua voz foi indecifrável, mas era possível perceber a forte negação.

- O quê? - Tomioka se surpreendeu. Sanemi não estava agindo como geralmente agia.

Não podia negar que seus sentimentos pelo Shinazugawa estavam sempre conflitantes. Se alguns soubessem, provavelmente o chamariam de masoquista, por estar atrás de alguém que o detesta e só o faria sofrer.

Mas existem coisas que o ser humano não pode controlar, uma delas é o coração. Se desse para controlar, com certeza não sofreriam tanto.

Sanemi viu como Giyu começou a aprofundar seus pensamentos. Encarou os olhos opacos, sem vida, que o encaravam de volta, mas não o enchergavam, apenas olhavam através de si.

- Por que está fazendo isso? - Tomioka perguntou, verdadeiramente conflitante.

- Eu tenho pensado em você - Sanemi falou. Seus pensamentos guardados estavam escorrendo como uma cachoeira - Quero te ver sorrir, igual aquele dia do treino em conjunto. Quero que sorria pra mim.

- .... - Giyu não disse nada, mas seu rosto adquiriu um tom vermelho carmesim. Tão lindo foi o contraste com seu rosto pálido.

O olhar do Shinazugawa percorreu o rosto contrário. Delineando seus olhos, nariz e boca. Percebeu o quão macio seus lábios pareciam, queria provar a textura.

E pra que se segurar? Ele não achou resposta, então fez o que seu desejo ordenou. Provou os lábios de Tomioka, que por um momento se surpreendeu.

Talvez Giyu o empurrasse e nunca mais olhasse para si novamente, mas essa chance nunca voltaria, ele teve que aproveitar a oportunidade. A surpresa foi enorme, quando Tomioka correspondeu, rodeando seu pescoço com os braços.

As línguas dançavam em harmonia, sem buscar por controle, apenas aproveitando o momento delicado. A separação não foi gratificante, mas não durou muito, logo a dança continuou.

Quando a separação foi definitiva, Sanemi resmungou em desaprovação. Os olhos de ambos se encararam em silêncio, apenas esperando alguém quebra-lo.

- Por que fez isso? - a voz baixa e envergonhada de Tomioka despertou Sanemi.

- Por que correspondeu? - Retrucou. Tomioka pensou em responder, mas desistiu e apenas ignorou como Sanemi curvou sua pergunta.

- ....Porque eu gosto de você....- a voz foi tão tímida, que nem ele próprio acreditou que podia falar daquele jeito.

- Isso é um problema... - Sanemi segurou o queixo de Tomioka e o fez olhar para si - Porque eu também te amo. Então, sorria para mim, pode ser apenas pra mim.

Tomioka se surpreendeu, e não foi pequena a surpresa. E então ele obedeceu o Shinazugawa, mostrou o sorriso mais genuíno que poderia dar.

Um novo beijo se formou. Desta vez, não acabaria tão cedo.

Fim.

Queridos, espero que tenham gostado.
Até a próxima.

Vou Te Fazer SorrirOnde histórias criam vida. Descubra agora