Capítulo 03: Scream king

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O LEGADO MORTALCAPÍTULO 03: Scream King

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O LEGADO MORTAL
CAPÍTULO 03: Scream King.


ENQUANTO SAÍA SORRATEIRAMENTE do quarto de Guido, Piero sentia um enorme peso, mas não na consciência, como ocorreria com qualquer outra pessoa culpada (não nessa história). O peso que ele sentia estava em suas mãos. O peso da pasta do laudo forense de Berta Oberon deixou as palmas das mãos ardentes. Por pouco não as sente. Piero, infelizmente, não conseguia esquecer tudo que tinha lido e a pergunta precursora de todo esse mistério era: por que diabos esconderam o verdadeiro motivo da morte de Berta?

Caminha pelos corredores, o pobre Piero, sacudindo a cabeça na intenção de afastar assuntos que não lhe diziam respeito. Decidido que não daria um passo a mais na direção de Berta, ou de toda avalanche de problemas que o San Roman poderia lhe causar, o rapaz pisou no primeiro degrau para descer as escadas. Iria embora da festa, pois não tinha estômago para tanta falsidade e joguinhos de mentira e traição. Definitivamente não foi criado assim.

Muito embora todos se divertissem, dançando coladinhos, juntinhos, gargalhando a torto e a direita, como num grande bacanal, Piero observava, como perfeito espectador que é da história dos outros, da história de Guido e sua paixão não correspondida por Warley. Ele o encara do lado oposto da sala, enquanto Warley conversa com Érica. Aliás, Piero também é espectador da história de Érica, que se finge de amiga de Warley Wong enquanto o apunhala pelas costas ficando de amasso com o ex-namorado dele. É espectador até mesmo de sua própria vida. Ele pode se ver parado na escada, pensando que deveria fazer parte do problema também, mas ao invés disso ele só assistia. Era tudo que ele fazia. Assistia até a merda do confete cair na sua cabeça, grudar em suas bochechas e, brevemente, poluir o planeta!

Revoltado, foi espantando todo o confete de seu corpo, até perceber que não passavam de recortes de papel laminado em formato de... Maçã. Sim, estava grudado no seu braço. Ele catou mais alguns no ar. Todos foram cortados minuciosamente em quase perfeitos formatos da fruta. Vermelho brilhoso.

一 Por que todo mundo aqui é tão obcecado por maçã?

Piero se fez a pergunta, mas sua mente censurava a palavra "Maçã" e a substituía imediatamente por "Cianeto". Não demorou muito, e logo ele percebeu que também tinha se tornado espectador da vida de Berta Oberon, ou pior: da morte dela.

Piero desceu as escadas rapidamente e passou a caminhar em direção à porta de saída, empurrando as pessoas para abrir caminho, quase sendo arremessado de um lado para o outro. Segurou bem seus óculos no rosto e não teria como descrever o alívio que sentiu quando cruzou aquelas paredes brancas, sentindo ar gélido penetrar suas narinas. Por pouco não abriu os braços em ode à liberdade. Seria dramático demais até mesmo para alguém como ele.

Piero caminha enquanto gruda seus olhos no celular, rezando em pensamento para encontrar um Uber que o leve de volta à pensão.

一 Por favor, por favor, por favor. Ah, não! 一 A mensagem de que o tempo de espera estava grande demais apareceu e quando essa mensagem aparece é sinal de que a guerra estava vencida, ou no caso perdida, dependendo do ponto de vista. 一 Que inferno! Eu não acredito que vou ter que ficar aqui. Pior que não posso nem dormir do lado de fora, porque está um frio desnecessário! Aqui não é o Rio de Janeiro? Não devia fazer calor? Ah, é! Lembrei! Todas as chamas do inferno foram emprestadas para aquecer os adolescentes do San Roman. Eu devia me comportar como um deles. Não é tão difícil, então porque será que eu não consigo? Estou cansado de me sentir inadequado nesse mundo. Será que não tem um lugar reservado para mim nem mesmo no inferno?

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