capítulo 2

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Depois daquilo, ela desmaiou sobre meus braços.

Eu a abracei, o seu corpo ensanguentado tinge o uniforme azul-escuro, enquanto os cacos de vidro roçam a minha pele.  O forte cheiro de sangue subia até as minhas narinas. Foi então que eles chegaram com suas lanternas em mãos e nos encontraram abraçadas, assustados eles se reuniram em volta de mim. Eles a afastaram de mim, tentando a reanimar, mas ela continuava com os seus olhos fechados e com a pesada respiração que mais se assemelhava a um animal. Enfaixando o que havia restado do seu braço, eles me perguntam sobre ela, porém nada sai da minha boca, eu estava em choque para dizer alguma coisa, a minha mente era consumida por perguntas, teoria que formulava a cada segundo que passava. Era como se eu estivesse sonhando.

No meio do turbilhão estava William, enfaixando o braço dilacerado, agitado e assustado os seus olhos desviam ao encontrarem o corpo da mulher, era nítido o desconforto em seu olhar, provavelmente essa também é a sua primeira vez vendo isso.

Ainda com a mente perturbada por dúvidas, eu me sento em um dos bancos da delegacia e Diogo senta ao meu lado.

- Você está bem? - Ele indaga, com a voz calma e com a cabeça abaixada. Como consegue ser assim? Manter a calma mesmo após vê-la, talvez seja pelos tempos passados na guerra ou pelo treinamento do qual ele se orgulhava em ter passado. - Entendo que seja a sua primeira vez. Sei como se sente. É normal ficar chocada quando nos deparamos com…

As suas palavras dele se dissipam no ar, enquanto os meus olhos vagueiam sobre o corpo que eles tentavam reanimar. Meu coração acelera e minha respiração fica presa na garganta. O choque paralisa meu corpo, deixando-me incapaz de articular qualquer palavra em resposta.

Os seus olhos cansados também a observar, era como se eles estivessem acostumados com aquilo.

- É normal encontrar pessoas assim, isso é algo rotineiro no nosso trabalho…

Nesse momento, William se aproxima. As suas roupas estavam manchadas pelo sangue que escorria de suas mão. 

- Teremos que levá-la ao hospital - Ele diz, olhando para mim, seus olhos continuam nervosos, mas ele aparentava ter se acalmado, mesmo que seja um pouco - Ela está perdendo muito sangue, o ferimento em seu braço é pior do que imaginamos, é provável que ela morra se não a levamos logo.

Sinto um aperto no peito, uma sensação de desamparo diante daquelas palavras. Como é possível que ela tenha chegado a esse ponto? O que fez aquilo com ela? Minhas pernas tremem e minhas mãos estão frias e trêmulas.

- Todo o caminho está bloqueado pela neve…

Fitando o corpo caído, olho novamente para as suas feridas, absorvendo cada detalhe macabro. Ataduras encharcadas de sangue, o seu rosto estava coberto por cacos de vidro e os seus longos cabelos negros, mergulhados em seu próprio sangue.

 Aquela visão nunca sairá da minha mente. Havia poucos meses desde que eu havia deixado a academia, e eles nunca haviam me ensinado a lidar com isso. O que devo fazer? Agora aquele monte de aulas teóricas e práticas não passam de besteiras.

Observo o silêncio da minha mente, enquanto eles a levantam e a colocam sobre uma maca. Sangue escorre pelas suas roupas e pelos seus longos cabelos negros. A escuridão nos cerca, mesmo com as lanternas iluminando o caminho, ela ainda nos envolve, escondendo tudo ao nosso redor.

- Sara!- Diogo diz, se levantando.- Ela irá ficar bem.- Ele sorriu esperançoso em minha direção, como um pai a uma filha dizendo que tudo iria ficar bem.

O seguindo, eu me levanto.

Ele abre a porta para os outros policiais que levam a maca.

Neve lentamente cai em meio às estradas vazias e escuras.

Sorriso Insidioso ( sendo reescrita)Onde histórias criam vida. Descubra agora