Cordas do Destino

Uma voz em meio a Multidão

O barulho era constante e alto, uma gritaria sem fim de empolgação e aclamação. Nem mesmo nos camarins mais longe do palco era possível ter um pouco de sossego que fosse.

Tento respirar fundo, mas à medida que eu passava o Feed do Instagram ou os Tweets do Twitter, minha frustração aumentava, era possível notar minha mandíbula tensa, apesar de minha expressão continuar a mesma. Era irritante, chegava a ser perturbador a forma desumana que sites de fofocas publicavam sobre nós...

Nós? Às vezes parecia que não éramos nem uma banda, nos desagrupavam na medida que agradasse mais as mídias, a grande parte das notícias sempre eram sobre Gael, "um Baterista 'apaixonado' por suas fãs", a cada semana era uma foto nova dele com alguma garota diferente e logo em seguida uma música nova sobre tal noite "inesquecível".

Não querendo julgar ele, afinal, hoje em dia são mais as tietes que alimentam esse seu comportamento, elas querem se tornar uma música, se sentirem especiais, chega até a ser cômico, já que ele nem se lembra do nome das garotas com quem dorme. É como ele diz: "São todas iguais, elas dizem o que eu quero ouvir, o que for preciso pra eu levar elas pra cama."

Eu gosto do meu amigo, gosto mesmo e por isso digo com firmeza que ele é um escroto com mulheres. Chega a ser repugnante, mas... A mídia adora isso.

Quanto mais eu desço, vejo falarem do Divertido Baixista, que expressa em suas letras de música cada uma de suas incríveis noitadas pelas cidades que passa, Ariel, como sempre, muito simpático, adora dar entrevistas e por isso eu diria que de nós três é o que mais tem intimidade com nossos fãs, os fãs de verdade, não as tietes, apaixonadas pela modinha, aquelas que nem sabem o porquê de nosso nome ser At Once ou sequer escutou nosso primeiro álbum ou aquelas que não enxerga que somos um grupo. Ele sempre foi um conquistador de corações, é impossível não gostar dele logo de cara.

Então, chegaram as notícias sobre mim, não são tantas comparadas aos dos outros meninos, devo admitir, tenho o hábito de fugir das redes e mesmo assim, ainda existem páginas e páginas falando sobre mim, o líder misterioso, paixão de todos que acompanham, deixando marcado na mente de qualquer um que assista minha performance uma presença inesquecível, o centro das atenções que vive tentando se esconder dos holofotes, um cara solitário com cara de mal, um exemplo de "Bad Boy".

Sempre que leio a maneira como me descrevem eu sorrio de canto, é assim que me vêem? Mas ao mesmo tempo me bate uma dúvida, é assim que eu realmente sou?

Meus olhos batem em uma manchete específica, tão cirúrgica que me nitidamente faz travar: "O sucesso internacional At Once vai cair por conta de um estorvo!" Chega ser ridículo o quão sensacionalista é aquela notícia, mas quanto mais eu leio, mais eu sinto meu coração acelerar, de alguma forma um boato de que o próximo álbum ainda não tem data de estreia por conta de um dos membros que não consegue escrever se espalhou e isto gerou entre os fãs um medo de que a banda acabasse.

Meus olhos estavam nitidamente assustados, quanto mais eu atualizava a página, mais engajamento e repercussão o post tinha. Isso já é o suficiente para fazer minha respiração desregular, meu olhar se esvaziava, enquanto minha mente transbordava em meio aos pensamentos intrusivos, eu já não conseguia mais escutar a gritaria do nosso público.

—Castiel?

Uma mão em meu ombro junto de uma voz mais do que conhecida me faz voltar à realidade, assim me viro e me deparo com o rapaz de cabelos meio longos e ondulados castanhos, óculos e seu sorriso tipicamente marcante.

—5 minutos para entrar, pegue a guitarra, já vamos indo.

—Tá, claro, vamos.

Digo um tanto quanto frio e apático, pela face de Gael ele já havia notado que eu não estava bem, seus olhos caem para a notícia em meu celular e ele junta os pontos, voltando a falar, sempre em tom calmo: