Capítulo 11 - Contra fatos, há argumentos?

3 0 0
                                    

A atitude de Juliana deixou todos surpresos, nem a Letícia e a Bruna sabiam desse rancor que ela sentia pelo Lucas. Letícia foi atrás da amiga imediatamente, Bruna ainda ficou uns minutos ali.

— Você deve contar pra ela. — Disse Bruna quebrando o silêncio.

— Contar o quê?

— O que você me disse no trabalho.

— Foram tantas coisas...

— Que você queria reunir sua família, lembra?

Lucas não respondeu. O sinal soou avisando que a aula iria começar, então Bruna saiu para se encontrar com suas amigas.

Os três primeiros horários passaram voando e quando saíram para assistirem os vídeos o silêncio permaneceu. Sentaram um do lado do outro, porém nem uma palavra foi dita entre Bruna, Lucas, Juliana, Mateus, Letícia e Felipe. Apesar de rirem dos seus vídeos e dos vídeos dos outros colegas da escola, assim que a sessão de filme encerrou, Juliana saiu primeiro para não ter que falar com ninguém.

Letícia e Bruna foram atrás da amiga e chamaram o Lucas para ir também. E é claro que o Mateus e o Felipe foram juntos.

— Ju, espera. — Gritou Bruna quando conseguiu alcançar a amiga.

— Eu sei que eu deveria ter conversado com vocês sobre isso, mas agora eu quero ficar sozi...

— Podemos conversar? — Perguntou Lucas chegando à conversa e cortando a fala da irmã.

— Eu não quero falar com você.

— Deixa pelo menos me explicar.

— Não quero tomar seu tempo, você já tem muitas coisas pra fazer, não é?

Lucas começou a entender tudo, como um flash, uma lembrança da infância veio a sua mente. Quando ele tinha sete anos e ela seis, Juliana passava por uma fase muito difícil na sua vida: a separação dos pais. Na época, Lucas morava com a mãe e toda vez que tinha uma discussão dos pais, Juliana ligava pra ele. Mas, Lucas nunca dava bola para o que a garota dizia e nas poucas vezes que atendia falava palavras cruéis para a irmã. Depois que os pais dela se separaram, Juliana nunca mais falou com Lucas. Ela não o perdoou por ele não estar ao lado dela naquele momento tão difícil.

— Então é isso? Juliana, eu era uma criança, não tinha noção das coisas.

— E daí? O que custava você conversar comigo por alguns minutos? Eu só precisava do meu irmão ao meu lado.

— Desculpa... — ele abaixou a vista — A gente nem tinha muito contato...

— Se eu não te ligasse, a gente não teria tido contato nenhum.

— Não foi porque eu quis...

— Mas, também não fez questão nenhuma de mudar as coisas, né?

— Ei da pra explicar o que ta acontecendo aqui? — disse Felipe após uma brecha entre o bate boca — Somos amigos de vocês né.

— O Lucas herdou a galinhagem do nosso pai, sabia? Nosso pai namorava as nossas mães ao mesmo tempo. Temos apenas um ano de diferença, o nosso pai manteve as duas famílias por três anos.

— Por fim, ele decidiu ficar com a mãe da Juliana. E quando ela descobriu que ele tinha um filho com outra mulher e que tinha quase a mesma idade da Juliana, eles se separaram.

— E essa discussão toda é por quê?

— Porque eu não fiquei do lado dela, quando eles estavam brigando.

— E depois de tudo que ele fez você ainda foi morar com ele. — Disse ela gritando.

— Eu não tive escolha! — ele gritou no mesmo nível — Minha mãe foi morar em São Paulo e eu não queria sair de Brasília. — ele respirou fundo — Vem cá. Mas, agora é você que está morando com ele. Eu pelo menos saí na primeira oportunidade e fui morar com minha madrinha.

— É diferente, ok. EU QUE NÃO TIVE ESCOLHA! Eu não podia mais ficar no Bahia, minha vida est...

Juliana se calou. Ela não queria falar naquele assunto, ninguém precisava saber do seu passado.

— Vocês percebem o quanto essa discussão é ridícula? — Disse Letícia quebrando o único segundo de silêncio — Vocês não são culpados pelas escolhas erradas do pai de vocês. E o que aconteceu no passado não tem como consertar. Acredito que se vocês estão se reencontrando, é porque Deus tem uma nova oportunidade para vocês viverem o relacionamento entre irmãos que nunca tiveram.

Juliana estava segurando o choro por muito tempo e não queria mais ficar ali, não queria mais continuar naquele assunto. Ela não escutou mais nada que foi dito ali, virou as costas e saiu andando. No primeiro passo suas lágrimas caíram, desmanchando toda a sua máscara de garota durona. Lucas tentou ir atrás dela, mas foi impedido por Letícia e Bruna. Elas sabiam que precisavam conversar com a amiga.

— Na minha casa pode ser? — Disse Bruna após correr e parar em frente a amiga.

— O quê? — Perguntou Juliana ainda assustada e chorando.

— Vamos lá pra casa da Bruna, comer chocolate de panela com pipoca e conversar.

— Não sei... Não estou me sentindo bem.

— Nós precisamos desse nosso momento, você sabe que faz bem.

— A casa da Bruna é perfeita para esse momento.

— Perto da escola e ninguém em casa até às 19h. — Disse Juliana sorrindo, e foi o suficiente para saber que ela tinha topado.

Chegaram à casa da Bruna e foram direto para a cozinha esquentar o almoço que a mãe dela havia deixado. Depois preparam o kit da reunião (chocolate, pipoca e suco de limão) e foram para o quarto da loira para conversarem.

— Bruna, acorda! A gente tá aqui por causa da Juliana, lembra? — Disse Letícia interrompendo um dos relatos enormes de Bruna.

— Deixa a Bruna continuar, não quero falar sobre mim.

— Era só isso mesmo que eu ia falar, desculpa...

Após alguns minutos de silêncio, Juliana resolveu contar tudo para as amigas. Na época, ela não sabia da traição do pai, mas sabia que tinha um irmão. Pois descobriu em uma das brigas que ouviu dos seus pais. Já Lucas sabia de tudo, sabia que seu pai decidiu construir uma família com outra mulher e não se agradava de ter uma irmã. Ele não queria se envolver com ela, ele sabia que a mãe sofria muito por causa de tudo que aconteceu e tratava Juliana com ignorância para ela desistir de falar com ele.

— Ele dizia que era pra eu ficar calma que logo eles iam deixar de brigar, pois o nosso pai não conseguia ser de uma mulher só e iria embora. Sei que ele deve ter ouvido a mãe dele dizer aquilo em algum momento, mas parecia que ele fazia de tudo para me magoar. Como se eu fosse culpada do nosso pai ter largado a mãe dele. — ela continuava falando concentrada para não chorar — No dia que meu pai resolveu ir embora, eu escutei, e liguei para o Lucas. Só que quem atendeu foi a mãe dele... Aí ouvi ele dizendo para ela falar que ele estava ocupado e que não queria conversar com a irmã carente.

— Ele era só uma criança. — Disse Bruna.

— E foi a mãe dele que conversou comigo. Me acalmou e até me deu conselhos de como ajudar minha mãe. — Continuou Juliana sem dar bola para Bruna.

— Entendo sua raiva.

— Perdoei meu pai, afinal estou morando com ele agora. Só não imaginei que daria de cara com o Lucas, fui pega de surpresa.

— Então perdoa ele também, Ju. Ele quer tanto recuperar o tempo perdido.

— Posso até conviver com ele, mas por você Bruna. Mas, perdoar eu não sei. — ela deu um sorriso — Mas, se ele te magoar, sei não viu... Não sei o que vou fazer.

— Você está falando como se eles estivessem tendo alguma coisa.

— Ainda não... Mas teremos. — Disse Bruna fazendo as amigas sorrirem e mudarem de assunto.

Entre brigas e suspiros - Paixões e Desavenças no Tempo do ORKUT E MSNOnde histórias criam vida. Descubra agora