Capítulo 21

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No sábado acordou depois das dez da manhã com o celular tocando. Achou que era Enid, mas se enganou, era Tyler querendo lhe entregar o cachê do show. Ele marcou de levar para ela antes do almoço.
 
Quando ela abriu a porta ele entrou e somente deixou o envelope com o dinheiro para ela.
 
- É jogo rápido, vou sair para almoçar e vim trazer pra você.
 
- Obrigada, podia ter deixado para entregar na faculdade.
 
- Achei que podia precisar.
 
- Precisar eu preciso, mas não to matando cachorro a grito.
 
- Desculpa Wednesday, não trouxe só por isso, mas... bom... vou saindo.
 
Wednesday não entendeu a frase, quando Tyler saiu e ela ia fechando a porta Enid apareceu. Havia combinado com ele de ir lá, pois o garoto seria sua chave, já que provavelmente Wednesday não abriria a porta para ela. A loira usava uma calça jeans meio surrada e uma blusa clara com uma fita de presente enrolada na cintura.
 
- Entrega para senhorita Wednesday.
 
A pianista teve vontade de rir, mas se segurou.
 
- Não pedi presente nenhum.
 
- Aceite este presente, pois ele tem algo a lhe dizer.
 
Wednesday por fim deixou Enid entrar.
 
- Me desculpe, por favor! Não quis te magoar, sei que não teve culpa ontem, mas quando vi aquele folgado com você fiquei morrendo de ódio.
 
- Você pede para que tenha confiança em você sendo que não tem comigo. – Wednesday falou chateada.
 
- Perdoa amor, por favor.
 
- Nós temos muitas diferenças Enid, esse relacionamento não vai dar certo. Você tem que ter ao seu lado mulheres como aquela com quem estava ontem, por sinal bem à vontade. Aquela ali sim, é mulher pra você. Bonita, chique, elegante, do seu nível...
 
Wednesday não terminou de falar, pois Enid calou sua boca com um beijo tão intenso que a mais nova perdeu o fôlego.
 
- Não quero saber de nível, quem gosta disso é pedreiro. Eu quero você, ainda não percebeu que é você quem eu amo, que me satisfaz, que me agrada. Eu sou louca por você Wednesday, entenda isso! E se fiquei brava ontem é porque tive ciúme. Não sei lidar com isso, faz tempo que não sentia.
 
- Se toda vez que tiver raiva ou ciúme agir assim, eu não vou aguentar. Isso dói, me magoou, tanto que não aguentei ficar lá ontem. – Wednesday baixou a cabeça.
 
- Não farei isso nunca mais. Juro! – Levantou o rosto dela.
 
- Eu te amo Enid, nunca vou te trair.
 
- Desculpe. Não quero ver esse rostinho triste, muito pelo contrário. Prometo conversar mais com você sobre esse problema. Sei que às vezes se sente deslocada, mas não sinta. Você tem tudo que eu quero.
 
- Você não entende...
 
- Pensa que não, mas entendo. Escute... – segurou o rosto dela com as mãos. - ...Em pouco tempo aprendi o que é ter um relacionamento sério e descobri isso com você. Não abro mão de você na minha vida e vou fazer qualquer coisa para tê-la ao meu lado e feliz.
 
Beijou Wednesday de forma tão delicada que a pianista acabou cedendo. Wednesday a abraçou, mas sentiu o laço que ela trazia na cintura.
 
- Que laço é esse?
 
- É pra embrulhar o presente.
 
- E de onde você tirou essa ideia?
 
- Eu vi numa história que li na internet. A namorada se embrulhou para presente, era um casal como a gente. Por isso vi semelhança, uma era advogada e outra pianista.
 
- Ah... eu adorei o presente. – sorriu.
 
- Na história a pianista quis saber o que o presente fazia.
 
- Ah é? Então vejamos... O que ele faz, hein? É melhor eu desembrulhar mais. – tirou o laço e depois a blusa – Quanto embrulho! – tirou também o sutiã. – Deixe-me ver se eu adivinho o que esse presente faz! – pôs a mão na cintura e ficou pensando e olhando para a loira. – Acho melhor continuar desembrulhando. – tirou a calça e a deixou somente de calcinha. – Cheiroso ele, forte... – mordeu o ombro da loira. – Gostoso também.
 
Enid estava no seu limite e não aguentou sua excitação. Pegou Wednesday e a levou para o quarto. Fizeram amor de uma forma quase selvagem. Wednesday gemia e arranhava as costas de Enid e não se dava por satisfeita e sempre queria mais. Exaustas de tanto gozarem, caíram deitadas uma nos braços da outra. Enid deitada de barriga para cima e Wednesday abraçada a ela com a cabeça em seu peito.
 
- Que presente safado esse! – sorriu.
 
- Gostou dele?
 
- Adorei!
 
- Eu vim aqui pra te raptar.
 
- Pra onde?
 
- Bom na verdade não preparei nada em especial, só ia te levar lá pra casa.
 
- Então eu tenho um convite pra te fazer. Vamos ao cinema hoje? Aqui perto tem um, podemos ir lá e depois pra sua casa.
 
- Vamos direto daqui?
 
- Algum problema nisso?
 
- Não, só não trouxe roupa pra sair.
 
- Ué, está ótima assim.
 
- Ta bom então.
 
Almoçaram no apartamento mesmo, Wednesday fez uma comida bem caseira. Arroz, feijão, batata frita, bife de frango e uma salada.
 
- Faz tempo que não como nada tão...
 
- Simples?
 
- É, desde o tempo da faculdade. Eu adoro a comida da minha mãe, mas ela faz umas coisas diferentes, porque sabe que eu gosto.
 
- Lá em casa a gente ta acostumado a comer coisas simples. Meu pai tem colesterol alto, ele precisa comer sempre carne magra e minha mãe é hipertensa, nada lá em casa se excede no sal. E a maioria das frutas e verduras vem do sítio.
 
- Muito saudável.
 
- Esse é o lado bom. – sorriu.
 
Arrumaram a cozinha e depois ficaram na sala conversando. Lá pelas sete da noite saíram para ir ao cinema, Enid deixou o carro num estacionamento próximo e foram a pé. Na entrada do cinema Wednesday se antecipou e comprou as entradas. Enid deixou que ela fizesse.
 
- Quer pipoca? – A mais nova perguntou.
 
- Eu quero. - Enid aceitou e deixou que a pianista comprasse também.
 
Entraram na sala com um saco enorme de pipocas, água e um saquinho de balas.
 
- Você vem no cinema pra comer ou para ver filme?
 
- Os dois. – respondeu parecendo uma criança animada.
 
Enid revirou os olhos achando graça. Depois falou querendo mexer com ela.
 
- Eu venho pra namorar.
 
- Por que será que eu não me surpreendo com isso? – sorriu.
 
O filme começou e nem bem a luz apagou e Enid logo se assanhou. Pousou a mão na perna direita de Wednesday e acariciou. Não demorou muito para começar a beijar o pescoço da mais nova, que se deixou levar pelas carícias. Em pouco tempo as duas estavam num amasso e totalmente alheias ao filme. Pouco antes das luzes acenderem, mostrando que o filme já havia acabado, as duas estavam se recompondo.
 
- Gostou do filme? – Enid perguntou com sarcasmo.
 
- Safada! Você não tem vergonha mesmo não é? – beliscou seu braço.
 
- Ai! Não fiz nada que as pessoas também não façam.
 
Saíram do cinema e passaram rapidamente no apartamento para Wednesday pegar umas roupas.
 
- Preciso tomar um banho, você vem comigo? – Enid chamou assim que entram em casa.
 
- Vou ligar pra minha casa, pode ir que eu já vou.
 
Enid entrou no banho e Wednesday ligou para a mãe, falou que Bianca havia viajado e a mãe confirmou, pois já se encontrara com ela. E disse que estava mandando umas roupas para ela pela amiga. Quando desligou, Wednesday tirou a roupa e entrou no banheiro. Enid estava de costas, com as mãos apoiadas na parede e a cabeça embaixo do chuveiro, deixando que a água caísse em seus cabelos.
 
- Que foi? – Wednesday a abraçou por trás e beijou suas costas.
 
- Nada, estou tentando relaxar. – Enid virou e a beijou nos lábios. – Tudo bem com sua família?
 
- Sim, minha mãe disse que está mandando umas roupas. Bianca vai trazer. Eu deixei lá pra lavar, porque lavar aqui na mão, nem sempre fica bom.
 
- Eu até que lavo roupa bem, hoje não faço mais isso, mas me viro quando preciso.
 
- Confesso que não é meu forte.
 
- Se quiser, pode mandar pra cá que eu junto tudo e a empregada lava.
 
- Não precisa, eu me viro. Bianca e eu temos um pacto, ela lava e eu passo. – Wednesday passava a mão nos cabelos de Enid que insistiam em cair no rosto. – Fica de costas, vou ensaboar você.
 
- Faz aquela massagem? – a loira pediu carinhosamente.
 
- Faço, mas depois, na cama. Trouxe um hidratante, acho que vai gostar.
 
Terminaram o banho e foram para cama. Wednesday vestiu o roupão e pediu que Enid não se vestisse.
 
- Que vai fazer comigo? – Enid fingiu estar assustada.
 
- Pode deixar que não vou abusar de você.
 
- Ah que pena. – riu.
 
- Sem-vergonha.
 
Wednesday pegou na mochila o hidratante e voltou para a cama.
 
- Deita de bruços.
 
Sentou como da outra vez em Mauá e espalhou o hidratante pelas costas da loira. Sentiu que Enid suspirou e depois viu que fechou os olhos. Começou a massagear, apertava com certa força e depois passava a unha de leve, vendo a pele se arrepiar. Desceu até a cintura dela, subiu pelos braços, depois pegou sua mão e massageou os dedos, fazendo o mesmo com a outra mão. Levantou e massageou as pernas também, seguindo até os pés. Quando terminou, achou que Enid estivesse dormindo, mas se enganou. Ela estava de olhos abertos e parecia pensativa. Wednesday tirou o roupão e pegou a coberta, cobrindo-as. Houve um sincronismo, ela esticou os braços ao mesmo tempo em que Enid já se aproximava para se aconchegar em seu colo.
 
- Que foi amor? Te achei quieta desde a hora do banho. Você não tava assim antes.
 
- Estou pensando na semana agitada que vou ter. Não comentei com você, mas tenho reunião no escritório. Depois dessa reunião eles querem fazer um pequeno coquetel, coisa de gente besta. Mas tenho que ficar, porque é um pessoal que trabalha comigo, preciso estar bem com eles. Pode ser que não te veja nesse dia.
 
- Tem que fazer uma social. – Wednesday acariciava seus cabelos.
 
- Isso aí.
 
- Não tem problema, você não pode é se complicar por minha causa. Nos vemos no outro dia.
 
- Tenho que ficar de olho nesse Wesley. – fechou a cara.
 
- Ah, para. Ele pode até tentar, mas não terá sucesso.
 
- Hum. – Enid resmungou fazendo Wednesday sorrir.
 
- Bichinho bravo.
 
- Hum. – Resmungou de novo.
 
- Que eu amo. Acho que nunca amei alguém tanto quanto amo você. E se amei, nem me lembro se era tão bom assim.
 
As palavras de Wednesday serviram para Enid se lembrar do passado.
 
- Às vezes a pessoa diz "eu te amo" sem se preocupar com a intensidade que essas palavras têm. – Enid falou mais para si mesma e sobre o que viveu.
 
Wednesday ficou em silêncio por uns instantes e depois falou parecendo contrariada.
 
- Mas eu falo quando tenho certeza do que sinto naquele momento. Já ouvi eu te amo para logo em seguida ver a mesma pessoa que disse nos braços de outra. – tinha um rancor na voz.
 
Enid se levantou e olhou em seus olhos.
 
- Não me referi a você.
 
- Eu sei.
 
- Confio em você.
 
- Então não vai ficar cismada por não ir ao show na semana que vem?
 
- Aí eu não sei. – Enid deitou novamente emburrando. – Aquele cara é um malandro isso sim.
 
- Então vejamos. Que posso fazer pra você se sentir melhor quanto a isso? – Wednesday falava tão suavemente que Enid desemburrou a cara.
 
- Pode dizer que me ama todo dia.
 
- Eu já faço isso.
 
- Pode me ligar no dia do show para dizer então.
 
- Isso vai te deixar mais tranquila? – Wednesday achou estranho o pedido.
 
- Vai.
 
- Mas não posso ligar enquanto estiver tocando.
 
- Tudo bem, e quando não estiver você me liga?
 
- Ligo, mas isso é só na semana que vem. – parou e pensou. - De repente eu saio de lá e venho correndo para me encontrar com você. Se bem que desde que te conheci, não tenho passado o final de semana direito com Bianca.
 
- Mas ela só fica com Lucas, ora bolas.
 
- Tudo bem, mas não sei o que ela vai fazer semana que vem. Pode ser que eu não possa vir pra cá ou que a gente não possa se encontrar com mais folga.
 
- Ai... ai... – Enid emburrara novamente.
 
- Mas a gente dá um jeitinho.
 
- Eu sei um jeitinho.
 
- Qual?
 
- Você vem morar comigo.
 
- Que? – Wednesday arregalou os olhos.
 
- Que tem? É verdade... ó... – Enid se levantou. – Aqui você não precisa pagar aluguel e nem precisa se preocupar com outras despesas, o dinheiro que ganhar será só seu.
 
- Ta querendo me sustentar?
 
- Seria uma ajuda de custo. – sorriu.
 
- Não, seria sustentar. Como vou sair e largar Bianca? E o que vou dizer aos meus pais quando eles, por acaso, vierem aqui. Olha pai, não estou morando mais no apartamento, porque sabe, eu moro com a minha namorada. No mínimo ele infarta.
 
Enid achou graça.
 
- Não posso amor. Sei que às vezes fica difícil a gente se ver, mas sempre damos um jeito. Moramos na mesma cidade. E vir pra cá seria muito precipitado, não?
 
- Por quê? Você não diz que me ama? E eu não amo você? Então, qual o problema?
 
- Calma dona impulsiva. Uma coisa de cada vez.
 
- Ah. – Enid emburrou de vez. Virou para o lado, fechou a cara e cruzou os braços num gesto indignado.
 
Wednesday não quis falar, pois com ela não se tinha muitos argumentos. Achou melhor agir. Aproveitou que ela estava de costas e beijou sua nuca, passou a mão em suas costas, arranhou de leve, até porque suas unhas estavam curtas. Beijou seu ombro, mordeu o pescoço. Sentiu a respiração da namorada se alterar, mas ela ainda fingia não ligar. Desceu a mão pela cintura dela e chegou até o os pelos pubianos e acariciou, depois ameaçou colocar os dedos em sua abertura, mas voltou para os pelos. E com a mão lá e a boca bem próxima a sua orelha, falou com a voz mais doce que Enid já ouvira.
 
- Não quer fazer amor comigo?
 
Enid se rendeu. Girou o corpo ficando por cima de Wednesday, prendendo seus braços.
 
- Alguém resiste? Não tem como.
 
- A intenção é não resistir mesmo. – sorriu franzindo o nariz.
 
- Linda!
 
Beijaram-se e deram vazão ao desejo. Fizeram amor a noite inteira. Em cima da cama, no tapete do quarto, na mesa que ficava no canto. Enid colocou Wednesday debruçada na mesa e por trás acariciava seu clitóris e com a outra mão agarrava sua cintura. Wednesday estava sem forças já. Arranhava os braços da namorada e gemia como uma gata. Enid estava insaciável. Quando gozaram, pegou Wednesday no colo e a levou de volta para a cama, deitando as duas de conchinha, como gostavam. Beijou o pescoço dela delicadamente.
 
- Te amo muito.
 
- Também te amo. – a voz de Wednesday saiu cansada.
 
Dormiram quando o sol já estava nascendo. O telefone tocou e as duas nem ouviram.
 
- Aposto que estão de sacanagem. – Ajax falou desligando o telefone.
 
- Deixa elas, estão apaixonadas. – Tyler interveio.
 
- Wednesday está né, ainda não me convenci com Enid.
 
- Depois do que vi em Mauá, estou convencido sim.
 
- Esse namoro está no início ainda, Enid é uma caixinha de surpresas. Acredite, só me convenço quando ela pedir aquela moreninha em casamento.
 
- Aí já é demais né.
 
- Você não conhece relacionamento lésbico? Elas se conhecem num dia, namoram no outro e casam no terceiro. Amor implacável. – riu.
 
- Eu acho que elas se dão bem, Wednesday tem paciência com Enid e Enid parece ter se identificado com Wednesday. Ela tem carinho por ela.
 
- Identificado com o que? As duas são completamente diferentes. E carinho não é amor.
 
- Ah Ajax, para de pegar no pé. Wednesday também não é criança, ela sabe o que é certo ou errado para ela.
 
- Espero que sim.

Melodia | Wenclair (REESCREVENDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora