Pov MaríliaEu lembro exatamente da sensação que me invadiu no dia que eu descobri que estava grávida do Léo. Pela primeira vez, eu percebi quão conservadores os meus pensamentos poderiam ser. Me vi cercada pelo medo do julgamento, que até então eu não tinha experimentado. Me vi questionando os meus ideais, meus princípios, quem era aquela mulher na qual o espelho refletia e me encarava profundamente. Cheguei a questionar se era tão absurdo ter um filho sem nem estar casada com o pai dele.
Eu sempre me considerei uma mulher a frente do meu tempo. Não só pelo meio que eu frequentava em decorrência da profissão que eu decidi seguir, mas também porque tudo na minha vida sempre começou cedo demais. Eu escrevi a minha primeira música com 12 anos de idade. O tema? Meu primeiro chifre. Aos 19, eu me vi ingressando no mercado sertanejo e estourando de uma maneira que nem nos meus melhores sonhos fui capaz de imaginar. Sem modéstia, desde muito nova eu sempre soube o lugar que eu queria ocupar no mundo e nunca medi esforços pra alcançar tudo que sempre almejei, mas a maneira tão rápida que tudo aconteceu ainda me impressiona. Deve ser por isso que todos esses pensamentos que a maternidade me trouxe, e que estavam enraizados dentro de mim sem que eu me desse conta, me incomodaram de imediato.
Isso não veio da minha criação, como na maioria dos casos, já que tudo que aprendemos, normalmente, é passado de geração pra geração. A minha mãe não era casada com o meu pai quando me teve, tampouco com o pai de João quando engravidou dele. Mas por algum motivo, o meu inconsciente quis me sabotar naquele instante em que eu me vi descobrindo o real sentido da vida.
Foi naquele momento que eu notei que, nem tudo que eu pregava eu seguia de fato. E isso valia pra vários âmbitos da minha vida.
Sabe aquele tal amor próprio, aquele que eu sempre bati na tecla que deveria ser o principal amor da vida de cada pessoa? Então... se eu contar que, por alguns meses, eu praticamente joguei o meu fora, acho que ninguém acreditaria. Se eu contar que eu me diminui tanto, ao ponto de nem me reconhecer mais, só pra caber no pouco espaço que me ofereceram... é capaz de falarem que eu fui substituída por outra pessoa.
Eu não julgo essa reação, até porque foi a imagem que eu sempre fiz questão de passar pro meu público. Acho que eu acreditava fielmente que eu ainda era essa mulher. Essa mulher que por muito tempo eu fui, mas que nos últimos anos eu não era mais. A gente percebe que se perdeu, quando olhamos pra nós mesmas e não conseguimos mais nos reconhecer. É nesse momento que a gente nota que alguma coisa deu muito errada no meio do caminho e não tem como voltar no tempo para consertar. Afinal, o tempo não volta, não importa o quanto a gente implore pra que isso aconteça.
Eu não era a mesma de 4 anos atrás e, honestamente, nem gostaria de ser. A Marília de 4 anos atrás era uma menina que ainda estava descobrindo certos prazeres da vida, uma menina que não fazia ideia do quanto a sua vida mudaria de lá pra cá. Eu amadureci muito em um curto espaço de tempo, me perdi em alguns lugares no meio do caminho, é verdade, mas sempre encontrei uma maneira de me achar e me tornar ainda mais forte. E quando eu falo em amadurecimento, eu não consigo não pensar no principal culpado de tudo isso, aquele que "rancou de mim minhas bebida e a farra": O meu Léo.
O meu filho mudou a minha vida, mudou as minhas concepções, minhas prioridades e, antes mesmo da sua chegada, me mostrou coisas que eu fazia questão de esconder de mim mesma, mas por algum motivo, naquele momento, eu não dei a devida atenção. Provavelmente se eu tivesse dado, teria evitado as milhares de decepções que eu acumulei no decorrer de todos esses dias até aqui.
Se eu pudesse dar um conselho pra Marília de antigamente, certamente eu lhe diria: Não segure o seu amor, o amor não tem regra nenhuma, não deixe que te convençam do contrário. Não deixe que o medo de perder mova toda a sua vida.
Hoje eu sei de tudo isso, naquela época eu também sabia, só não queria ver.
Mas nada é por acaso. Tudo isso fez parte do processo, o processo que eu precisava passar. E que eu preciso enfrentar, a partir de agora.
Mas... vamos começar do começo.
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Uma segunda chance
FanfictionSe você tivesse o controle sobre as suas ações para agir com a razão, você mudaria velhos hábitos? Insistiria nos erros do passado ou colocaria um ponto final neles, de uma vez por todas? Marília Mendonça acorda no hospital, após sofrer um acidente...