Estou muito preocupado com ela, minha Liz está quieta demais, eu esperava gritos e xingamentos mas ao invés disso ela ficou em silêncio, daria qualquer coisa para saber o que se passa na cabeça dela. Martino me chamou em seu escritório para uma reunião com o Dr. Parker, que é da nossa inteira confiança, mas sei que ele só quer me impedir de ficar com ela.
- já lidamos com isso antes, é um dispositivo de uso militar mas que pode ser facilmente comprado no mercado clandestino - o Dr. Parker se sentou na cadeira de frente para Martino que permaneceu de pé do outro lado da mesa, o encarando visivelmente preocupado. O outro que provavelmente é um assistente, está de pé ao lado do médico, se cagando de medo - e infelizmente sr. Piattelli, esse dispositivo cumpre tudo o que promete -
- e quais as chances de sucesso na remoção? - Martino perguntou com um tom tão ameaçador que o médico se remexeu na cadeira, já outro olhou para os pés, pelas reações não são boas notícias.
- são nulas - ele limpou a garganta para continuar - o dispositivo desarmou no meio da cirurgia de remoção e o paciente veio a óbito -
Martino arremessou o copo de whisky na parede, ainda com a bebida, os dois saltaram de susto e minha única reação foi rir
- qual é a graça? - Martino se vira pra mim furioso, só ele não vê o quão irônico e cruel o destino pode ser
- está agindo feito um bicho - respondi encostado na estante de livros, ele não é doido de arremessar outro copo de bebida perto deles
- um bicho? - ele bufa com sarcasmo - você não tem nada melhor para fazer, Heron? - se não fosse pela presença do Dr. Parker ele já teria me levantado pelo colarinho
- você está assustando o Dr.Parker - o médico imediatamente levanta as duas mãos e balança a cabeça em negação, um gesto tão desesperado que denuncia seu medo - eu tenho algo melhor para fazer sim, cuidar da minha Liz, com licença -
- você não vai! - quando ameacei sair da sala Martino imediatamente protestou, como eu imaginei, ele só quer me afastar dela
Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, Joana entra no escritório, Martino parece não acreditar no que vê e apoia as duas mãos na mesa, se ele agir dessa forma com a Liz não vou me espantar se ela continuar com medo dele, eu mesmo estou ficando com medo.
- posso saber por que não está lá em cima com ela? - a voz dele saiu mais parecida com um rosnado, ele só quer um bode expiatório para aliviar a sua culpa, então qualquer um que que fizer o contrário do que ele espera vai sofrer com a sua fúria
- a sua filha preferiu ficar sozinha - resolvi intervir antes que Joana dissesse qualquer coisa, para a segurança dela - Liz deveria ter alguém que conhece por perto, pelo menos neste momento, não a companhia de uma mulher que ela não conhece -
- Elizabeth! esse é nome dela - revirei os olhos, como se eu não soubesse disso - eu sei muito bem o que é melhor para minha filha, não você -
- mas eu a conheço melhor do que qualquer um aqui - me arrependi do que disse no momento em que terminei a frase
- cala a sua boca! - ele aponta o dedo indicador para mim, acabei de deixá-lo possesso de raiva - você vai ficar longe dela, entendeu?
- só se esse for o desejo dela -
- EU TE PROÍBO DE SE APROXIMAR DELA! - o grito dele seguido de um tapa na mesa assustou até a Joana, que já está mais que acostumada com os acessos de raiva dele
- moramos todos aqui, uma hora ou outra eu vou me aproximar dela - rapidamente ele dá a volta na mesa vindo na minha direção, preciso dizer alguma rápido - ou você vai me expulsar de casa como o Dario fez? -
Sem dúvida a intenção dele era de me ameaçar na frente de todos, porém ele parou diante de mim sem reação. Ainda criança eu descobri que ele fica desconcertado quando eu digo que não tenho um pai ou uma casa, e sempre que ele está nervoso eu gosto de lembrá-lo disso.
- ele tem razão Sr. Martino, nesse momento, sua filha precisa da companhia de alguém que conhece - a cartada final ficou nas mãos de Joana, ela rapidamente entendeu onde eu quero chegar - para se sentir um pouco menos deslocada -
xeque mate
- tá certo... - ainda parado na minha frente, ele pensou um pouco antes de continuar - dessa vez você pode ir, e quero a porta do quarto dela aberta, você entendeu? -
- claro padrinho, como o senhor preferir - tomei a mão direita dele e dei um beijo no seu anel do dedo mindinho, como sempre faço quando consigo o que quero, ele apenas revirou os olhos
Passei por Joana e dei uma piscadela, ela respondeu com um gesto de cabeça milimétrico, sai do escritório rapidamente indo em direção à escadaria. A porta do quarto dela está fechada então resolvi bater antes de entrar
- Liz? - bati mas sem resposta
Resolvi entrar mesmo assim, ela está sentada no chão abraçando as pernas, de frente para a janela que dá para o jardim, sabia que amaria essa vista.
- oi - entrei fechando a porta atrás de mim - vim ver como você está - ela apenas deu de ombros mas não disse nada
Caminhei até ela e me agachei ao seu lado, ela olhou para mim por um breve momento e voltou a encarar o jardim.
- perto daquela fonte foi onde eu quebrei meu braço pela primeira vez, eu e Joana brincávamos de lutinha... - ela franziu o cenho na hora - fomos criados juntos, a mãe dela era prostituta no Blue's e morreu no parto, seu pai deixou que ela fosse criada pelas empregadas e hoje ela é a governanta desse lugar -
- ela pode sair ou é uma prisioneira também? - perguntou sem tirar os olhos do jardim
- é claro que ela pode sair - pensei na resposta com cuidado - ninguém é prisioneiro nessa casa -
- então eu quero ir para o meu apartamento -
- esse quarto não está confortável? - perguntei tentando entender o que tem de errado
- uma cela é uma cela, não importa como você a decore - ela citou a frase de um dos livros que eu gosto e abraçou mais as pernas
- você leu Rainha Vermelha? - perguntei na tentativa de mudar de assunto - pensei que só gostasse dos clássicos -
- eu li e você não me respondeu - ela me encarou impaciente por uma resposta
- seu apartamento não é seguro... -
- então eu sou sim uma prisioneira - ela ri, um som carregado de sarcasmo - por favor sai daqui, você só sabe mentir pra mim -
- Liz, por favor! foi para te proteger... - tentei falar mas ela me interrompeu com a mão
- você mentiu sobre tudo, teve várias oportunidades de me contar a verdade mas escolheu não contar - conforme ela fala seus olhos vão ficando marejados, seu olhar é de pura decepção - nada foi real! -
- o que aconteceu entre nós foi real - ela volta a olhar para o jardim, sem conseguir me encarar - Liz eu t... -
- sai daqui! - ela pediu com a voz embargada, esta se esforçando para não chorar na minha frente - eu quero ficar sozinha -
Fiz o que ela pediu, me levantei e sai, eu vou esperar o tempo que precisar mas vou conquistar o perdão dela, nem que dure anos eu sei ser paciente. Joana me esperava do lado de fora, encostada na parede, com o semblante preocupado.
- como ela está? - perguntou assim que eu fechei a porta
- decepcionada - ri de mim mesmo
- vai passar, agora ela precisa de tempo e espaço - ela esperou que eu dissesse algo, mas o que eu tenho a dizer? eu tenho uma parcela de culpa nisso e ela tem razão de ficar com raiva - você precisa estar lá que horas?
- daqui três horas -
- certo... eu vou com você - disse me dando um abraço apertado
- obrigado, vou precisar -
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Meu - PAUSADO
Romance࿇ Livro 02 da série "Minha" Este livro foi pausado por dificuldades criativas Quando Elizabeth Larkin é sequestrada acaba descobrindo ainda em cativeiro, que é filha de Martino Piattelli, um homem poderoso que não é nada do que ela imaginava, mas...