Heron está dirigindo já a algum tempo, até tentou puxar assunto algumas vezes mas eu não respondi, não tenho nada para conversar com ele. Por vezes levei a mão até a nuca para sentir os pontos, ainda sem acreditar no quanto fui burra de não ter notado isso antes.
Eleonora calculou cada movimento, agora com esse dispositivo estamos todos à mercê dela, que ironia, a caça se tornou a caçadora de fato.
Eu fui tão cega, a verdade estava bem debaixo do meu nariz, talvez se eu tivesse colocado a merda da cabeça para funcionar, teria percebido que o sobrenome que Eleonora usou quando nos conhecemos é o mesmo que vi na escritura do apartamento. Ela deve está rindo de todos nós neste exato momento, aproveitando o novo cargo e agradecendo ao universo por eu ser uma completa idiota.
Não conheço esse caminho, só sei que saímos de Manhattan seguindo para o norte, as palavras de Eleonora não param de martelar na minha mente, eu não posso sair da cidade, então serei obrigada a passar por cima do meu orgulho.
- para onde está me levando? - perguntei com rispidez ainda encarando a estrada
- para a propriedade do seu pai - pela visão periférica vi que ele me olhava, me recuso a encará-lo de volta - não estou te levando para fora da cidade se é com isso que está preocupada, lá é um lugar seguro -
- nenhum lugar é seguro para mim - abracei os joelhos virando para a janela, Heron não disse nada porque sabe que é verdade.
Em poucos minutos viramos a esquerda em uma estrada de chão, não demorou muito para que eu avistasse uma portaria com muros altos, é impossível enxergar o que tem lá dentro. Heron parou próximo a uma câmera de segurança e abaixou o vidro.
- bom dia, sr. Heron - disse um homem pelo microfone
- bom dia! - o portão se abriu e entramos - esse condomínio é bem monitorado, muitos milionários vivem aqui, agora falta bem pouco -
Passamos por várias propriedades, uma mais luxuosa que a outra, de todos os estilos e gostos possíveis. Fiquei um bom tempo observando as pessoas fazendo caminhada, uma linda mulher me chamou a atenção, correndo com seu Dobermann sem coleira alguma.
É difícil não sentir um pouco de inveja deles, tudo o que eu mais queria é estar com as minhas gatas no meu apartamento, minha maior preocupação era com que dinheiro eu pagaria as contas, mas pelo menos eu tinha paz.
- chegamos - parou em frente a um portão de grade preto com detalhes em dourado, Heron apertou um pequeno controle para que ele abrisse para nós - seu pai já deve ter chegado... provavelmente acompanhado de alguns médicos para te examinar - não respondi nada
Ele parecia confiante... eu queria muito poder sentir o mesmo.
Seguimos por uma estradinha de cascalho cercada por pequenos arbustos pontudos e conforme nos aproximamos pude ver melhor a mansão, a fachada é branca e com o telhado cinza claro, as enormes janelas são todas pintadas de preto, me lembra uma casinha de boneca.
Demos a volta em uma fonte com uma sereia de pedra e estacionamos, a enorme porta preta de entrada se abre e de lá sai uma mulher de pele morena cor-de-caramelo, com os cabelos perfeitamente alinhados em um coque e vestindo um conjunto de terno preto, calmamente ela desce a escadaria vindo em nossa direção.
- essa é Joana, a governanta do seu pai - disse enquanto saía do carro -
Heron vai até ela e os dois apertam as mãos, conversam brevemente olhando na minha direção algumas vezes, e eu permaneço no carro me sentindo muito desconfortável por estar usando somente essa jaqueta.
Após alguns minutos os dois começam a olhar fixamente para o carro esperando alguma reação minha, o que me deixa ainda mais nervosa, não posso ficar aqui pra sempre, então contra a minha vontade eu abro a porta.
- olá senhorita Elizabeth, me chamo Joana e vou cuidar de você daqui pra fren... - a voz dela foi sumindo porque enquanto eu descia a corrente presa à coleira cai no chão, fazendo um barulho difícil de ser ignorado, os dois se entreolharam silenciosamente - deixa eu tirar isso de você -
Com delicadeza ela vai até mim e afasta meus cabelos a fim de desabotoar o pedaço de couro preso ao meu pescoço, deixa o objeto no banco do carro e com uma mão apoiada nas minhas costas me conduz até a mansão.
Por dentro se parece muito com a mansão que fiquei em cativeiro, uma escadaria em mármore branco bastante luxuosa e um amplo hall de entrada, Martino está conversando com mais dois homens e quando me viu se aproximou imediatamente. Fechei ainda mais a jaqueta a fim de esconder a lingerie que uso, nunca, em toda a minha vida, imaginei que sentiria tanta vergonha de mim mesma como estou sentindo agora.
- oi minha filha, eu... - ele veio na minha direção mas instintivamente dei um passo para trás batendo no corpo de Heron, acabei me assustando e me afastei dele também. Todos no hall se entreolham e Martino, o meu pai, parou no meio do caminho - bem... você deve querer descansar depois de tudo... Joana, por favor, leve-a até o quarto e prepare um banho -
- é claro! - Joana sai do lado de Heron e caminha até mim com passos lentos e graciosos, provavelmente para não me assustar, se ela soubesse o que realmente me assusta - vamos? o seu quarto é lá em cima -
Deixei que ela me conduzisse escada acima, já no segundo andar entramos em um longo corredor com várias portas
- o seu quarto fica na segunda porta a esquerda, não é difícil de lembrar, é? - não respondi, tudo o que eu quero é ficar sozinha
Joana abriu a porta e fez um gesto para que eu entrasse primeiro, avaliei o quarto sem entrar, uma cama enorme com a cabeceira estofada ocupa o canto esquerdo, ao lado uma pequena penteadeira branca no estilo vintage, todas as paredes são pintadas em azul claro. É mais aconchegante do que eu esperava.
Entrei e comecei a avaliar melhor o ambiente, o quarto é enorme, sem dúvida maior que o meu e o da tia Margot juntos. No canto direito tem uma porta, o banheiro acredito, uma mesinha de escritório e a entrada do closet.
Joana entrou e abriu as cortinas trazendo mais luz ao ambiente, uma janela alta e larga, que vai do chão ao teto, ocupa a parede norte do quarto, é parecida com a que eu quebrei na mansão de Eleonora, com vidros quadriculados, só que essa é bem maior.
Me aproximei curiosa para ver o que tem lá embaixo, e fui surpreendida com uma vista simplesmente deslumbrante, um lindo jardim repleto de flores coloridas, arbustos cortados em formatos engraçados e uma fonte no fundo, é lindol.
- prefere que seu banho seja no chuveiro ou na banheira? - a pergunta de Joana me acordou do encanto, dei de ombros como resposta, só quero tomar meu banho em paz e sozinha - você quer ficar sozinha, Elizabeth? - parece que ela leu meus pensamentos
- sim, se for possível - respondi ainda encarando o jardim
- é possível sim, Elizabeth - ela deu uma pausa caminhando cuidadosamente até mim, pensando no que iria dizer - essa é a sua casa agora -
Ela ate esperou uma resposta mas quando viu que não a teria, saiu do quarto fechando a porta em seguida.
Essa não é a minha casa.
Mesmo que aquele homem supostamente seja o meu pai, eu não sou uma Piattelli.
Preciso dar um jeito de fugir daqui ou serei prisioneira deles para sempre.
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Meu - PAUSADO
Roman d'amour࿇ Livro 02 da série "Minha" Este livro foi pausado por dificuldades criativas Quando Elizabeth Larkin é sequestrada acaba descobrindo ainda em cativeiro, que é filha de Martino Piattelli, um homem poderoso que não é nada do que ela imaginava, mas...