And I'm highly suspicious that everyone who sees you wants you

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O dia amanheceu cinza e frio no Rio, assim como o estado de espírito de Clara. O humor dela não estava dos melhores, e pra piorar a situação, ela estava começando a sentir no corpo os efeitos de ficar uma semana sem treinar.

Ela havia acertado as parcelas do condomínio, graças a humilhante, diga-se de passagem, "demonstração de boa vontade", de Théo, que depositou uma grande quantidade de dinheiro em sua conta para as despesas. Ela se sentia um lixo, Rafael estava desolado, tudo por causa daquele crápula. E ainda tinha Helena. Ah Helena!

Clara não se permitiu pensar nela durante essa semana, porque Rafael era sua prioridade, então tentava se ocupar em apoiar o filho. Mas a noite, quando se deitava pra dormir, era o momento em que sua cabeça ia direto pra ela.

Ainda sentia o seu cheiro no travesseiro e não teve coragem de trocar os lençóis. Dormia abraçada aquele travesseiro como se sua vida dependesse daquilo. Ela estava desesperada de saudade, triste, magoada, e principalmente, culpada. Ela sabia que estava errada, que fez inúmeras cagadas em sequência que levaram aquele término.

Havia decidido que iria depor contra Théo, e que não cairia em suas chantagens nunca mais. Havia também, se livrado da aliança de casamento, que ela ainda usava, e só agora se dava conta, que poderia ter magoado Helena ao fazê-lo. Clara se dava conta de tantas coisas naquele momento, que tudo que conseguia fazer era chorar. Chorar por ter sido tão burra, tão relapsa e indiferente, com alguém que tudo que fez foi se doar inteiramente por ela, e pra ela.

Clara sempre teve muita dificuldade em demonstrar afeto, com exceção de Rafael, muito pela criação que teve, um mundo de aparência da alta sociedade onde o casamento e as vantagens que ele proporciona é mais importante do que a sua própria felicidade. E logo depois o ciclo de mais de 20 anos de abuso e violência onde viveu momentos terríveis. E agora, era difícil demonstrar tudo o que sentia.

Porque ela amava Helena. Amava da maneira mais pura e profunda. Era completamente apaixonada por aquela mulher incrível e radiante, que entrou na vida dela feito um sol iluminando todos os cantos empoeirados e vazios do seu coração. Ela só não sabia direito como fazer isso, não sabia direito como ter um relacionamento saudável.

Ela passou a semana toda em casa, e não trocaram mais nenhuma palavra desde o dia em que Helena terminou com ela. Ela evitou ir a academia, mesmo já estando liberada para frequentar, pois não sabia se conseguiria ver Helena tão perto e não poder fazer nada. Mas não dava mais pra adiar o treino, pois ela estava sentindo e precisava por toda essa raiva e frustração em alguma coisa, ou iria explodir.

Ao chegar na academia respirou fundo antes de entrar. Sabia que seria muito difícil encontrar Helena novamente. Mas ela precisava descarregar aquela energia e sabia que ali era a melhor opção. Ela entrou e ao longe avistou Helena concentrada em seu tablet enquanto algumas pessoas usavam os aparelhos.

Ela era tão linda assim concentrada, pensou. Clara era apaixonada pelo modo profissional de Helena. Achava extremamente sexy o jeito que ela se portava com os alunos toda séria, mas ao mesmo tempo tão atenciosa e gentil. Ela era louca por aquela mulher. Rapidamente dissipou esses pensamentos e se dirigiu ao legpress, já que já havia se alongado em casa para adiantar.

Helena avistou Clara logo assim que ela entrou, com a visão periférica. Ela sempre saberia quando Clara entrasse por aquela porta. Ela esperava que entrasse. Ficou a semana inteira esperando que Clara a procurasse. Que ela entendesse que tudo que ela havia feito era para que ela abrisse os olhos. Ela era louca por aquela mulher teimosa e cheia de traumas, mas que ainda assim era adorável e cheia de amor. Mas Clara não apareceu, e isso a frustrou. Ela estava irritada, indignada por Clara não perceber a merda que estava fazendo. E isso a deixava fora de si.

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