Prólogo

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Curitiba, 5 de março de 2023, 23h41 minutos. Um adolescente que acabara de completar seus 15 anos, cabelos longos até a altura do ombro, levemente bagunçados, lisos e de olhos escuros está sentado em sua cama com o celular nas mãos, sem camisa e com as luzes do quarto apagadas. O brilho da tela destaca seu rosto e parte do seu peitoral, revelando o excesso de gordura do seu corpo. O garoto parece estar nervoso, a pele mais pálida do que normalmente é, pingos de suor escorrem de seu rosto molhando a tela do aparelho até que um sinal sonoro anuncia a chegada de uma mensagem, era uma foto em seu aplicativo de mensagem. Ele reage como se estivesse visto um fantasma, sua respiração falha, a boca seca como se não bebesse a dias.

- VOU POSTAR ESSA FOTO EM TODAS AS REDES SOCIAIS E TE MARCAR. – Uma pontada de angústia lhe atravessa a espinha causando-lhe um certo desconforto na barriga. Pensamentos perturbadores lhe causa espanto, eles vinham um após o outro a medida que sua respiração ficava cada vez mais ofegante. Um menino gordo, que manda fotos íntimas pela internet, com certeza ele seria zoado na escola e o pior, sua família teria acesso a tudo aquilo, ele não suportaria.

- NÃO, NÃO, POR FAVOR, CARA, NÃO FAZ ISSO. - Responde a mensagem, enquanto pingos de água mais volumosos repousam sobre suas mãos, seus olhos mortos agora jorrava lágrimas afora.

- ENTÃO FICA COMIGO SÓ UMA VEZ, EU PROMETO QUE VOU SER CARINHOSO COM VOCÊ. - A pessoa do outro lado responde. A ideia de ficar com um desconhecido da internet que lhe chantageava fazia o pobre menino arrepender-se de ter aceitado aquela solicitação em seu instagram semanas atrás.

- EU ESTOU COM MEDO, POR FAVOR, ME DEIXA, EU NUNCA TE FIZ NADA.

- ESSE É O PROBLEMA, VOCÊ NUNCA QUIS FAZER NADA! - Junto a mensagem vai uma carinha triste.

- POR FAVOR CARA. - O garoto apavorado pede em vão.

- E SE EU NÃO DEIXAR?

- VOU AVISAR A POLÍCIA.

- SE VOCÊ CHAMAR A POLÍCIA, ELES VÃO FALAR PARA SEUS PAIS, É ISSO QUE VOCÊ QUER? QUE ELES DESCUBRAM QUE TEM UM FILHO QUE FICA MANDANDO FOTOS DO RABO E DO PAU PARA UM DESCONHECIDO NA INTERNET? COMO SERÁ QUE ELES VÃO REAGIR? VÃO SENTIR NOJO DE VOCÊ, VERGONHA, NÃO VÃO QUERER VOCÊ JUNTO COM ELES, MEU BRANQUINHO. - Naquele momento o pobre menino se ver sem opções. Por mais que ele quisesse sair dali correndo, gritar por socorro, ele não podia, estava indefeso e nas mãos de um abusador. A ideia de ficar com aquele homem nem que seja por uma única vez já fazia morada em seus pensamentos.

O garoto reuniu toda a coragem que lhes restara e disse: - EU VOU ME MATAR.

- VOCÊ ACHA QUE EU ACREDITO NISSO? EU ESTOU OBSERVANDO VOCÊ A TEMPO SUFICIENTE PARA SABER QUE SUA COVARDIA TE IMPEDE DE FAZER ISSO, GAROTO. VEM LOGO FICAR COMIGO, EU FIQUEI LOUCO POR VOCÊ DEPOIS QUE VI AQUELA FOTO DO SEU CUZINHO, TÃO APERTADINHO PARA DENTRO, VERMELHINHO, EU FICO ATÉ EXCITADO SÓ DE PENSAR NAQUELA FOTO. - Ele sabia que a pessoa do outro lado queria transar com ele, mas ele não se via pronto para fazer isso, era um passo muito longo e arriscado, ainda tinha muitas dúvidas sobre as relações sexuais. Logo após receber essa mensagem, o garoto recebe um vídeo. Ao carregar se assusta com o que ver e acaba deixando seu aparelho cair no chão, ele abaixa-se para pegar o aparelho quando a porta do seu quarto abre, as luzes são ligadas e quando ele levanta a cabeça, sua mãe está na porta olhando-o. O menino sente como se uma mão apertasse seu coração, uma dor aguda faz sua respiração parar por segundos e o coração palpitar.

- Filho, está tudo bem? - Sua voz sai tranquila e atenciosa. Uma mulher de meia altura vestida em um pijama lilás de tom bem fraquinho, cabelos longos e colorido naturalmente com o tempo, em seu rosto as marcas do cansaço de toda uma vida. Ela era uma mulher de certa idade, gozava de sua aposentadoria que não era lá essas coisas.

- Estou sim mãe. - Fala de cabeça baixa, sem conseguir olhar no rosto de sua mãe.

- Tem certeza, Eduardo? - Insiste. - Ouvi um barulho ao passar por sua porta.

- Tá tudo bem, mãe. Meu celular caiu, foi só isso. - Naquele momento tudo que ele queria era que sua mãe saísse de seu quarto. Não queria de forma alguma que ela sequer sonhe com tudo que estava acontecendo. As notificações das mensagens eram insistentes e atrapalhavam a conversa com sua mãe fazendo com que ela adotasse um tom mais investigativo.

- Eduardo, eu conheço você. - Disse se aproximando dele e sentando ao seu lado. Ela depositou seu braço em volta do pescoço do menino, com a outra mão tocou em seu queixo levantando-o e sustentando seu olhar no dele. - Eu tô aqui, filho. - Seu olhos lacrimejam e Eduardo puxa sua mão para um abraço forte, aproveitando cada segundos daquele momento em que se sentia seguro, ao mesmo tempo, tinha medo que sua mãe insistisse em saber sobre as notificações. Ele precisava dar um jeito de tirar a atenção dela do celular e fazer com que ela saísse de seu quarto sem parecer mais estranho do que já estava.

- Eu tive um sonho horrível, eu perdia você e o papai, vocês não queria mais cuidar de mim. - Disse buscando tirar a atenção dela do celular.

- Meu amor, nós nunca iremos virar as costas para você, não importa o que aconteça, você é nosso filho, nós te amamos. - Eles se distanciam. - O que eu te ensinei fazer quando estivesse com medo? - Sua expressão era de tranquilidade e um sorriso se formava em seu rosto. Eduardo a olha compreendendo o que ela queria dizer com aquilo, ele vai até a mesinha de seu computador, pega um teço e volta a sentar-se com sua mãe.

- Rezar. - Responde dando um suspiro. Os pais de Eduardo são católicos, têm uma rotina assídua na igreja semanalmente e aos domingos e isso fazia com que Eduardo ficasse mais inseguro caso suas fotos e vídeos vazassem, naquele momento ele decidiu que precisaria fazer algo para mudar a situação. Os dois rezam usando o terço e após terminarem, sua mãe o deixa. Mais uma mensagem.

- AHHH, QUE FOFO. ESTÁ VENDO AI? É ESSA A MULHER QUE VOCÊ QUER QUE VEJA SEUS CONTEÚDOS ÍNTIMOS? - Eduardo ler a mensagem e volta a olhar o vídeo. No vídeo aparece seu rosto minutos atrás e isso o deixa com mais medo, pois sem querer, ele levara para dentro de sua casa um abusador que de alguma forma, tinha acesso a câmera do seu celular.

- SE EU FIZER O QUE VOCÊ QUER, COMO VOU SABER QUE APAGOU MINHAS COISAS? - Não havia uma forma de saber com certeza se aquela pessoa faria isso, pois até o momento aquele cara só demonstrou o quão sem caráter e inescrupuloso ele era, apesar de ter um rosto bonitinho, um sorriso que desmonta qualquer pessoa. Ainda assim Eduardo sentia um remorso, pois aquela era a primeira vez que alguém lhe dava atenção e no final das contas, tudo que ele ganhou foi chantagem das mais baixas.

- NÃO TEM COMO SABER. PRECISA CONFIAR EM MIM. - Por um instante o garoto refletiu sobre a proposta e por fim decidiu não confiar, mas sim arriscar tudo e rezar para que tudo aquilo acabe de uma vez.

- COMO A GENTE VAI FAZER? -Perguntou querendo saber como seria esse encontro e onde aconteceria. Mais umavez um frio corta sua espinha a dentro com medo da resposta. Ele não sabia oque aquele cara iria fazer, mas como estava em suas mãos, não tinha amigos paracompartilhar esse show de horrores, resolveu contar com o resto de coragem quelhe sobrara. A mensagem não demorou nem meio minuto, era como se a pessoa játivesse tudo planejado. Na mensagem estava o endereço, com o horário deles seencontrarem. Naquela noite Eduardo não conseguiu dormir elaborando em sua menteum plano para encurralar seu abusador, usou tudo que tinha para dormirelaborando um plano de pelo menos sair vivo dessa.

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