Capítulo 2

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Já é quinta-feira e o relógio marca 3h45 da madrugada e Heitor não conseguira pegar no sono após a discussão de mais cedo com seu irmão. Ele já queria estar no país das maravilhas a horas, mas a voz dele ainda ecoava em seus pensamentos e com eles o sono lhe abandonara. A cama estava mais quente, além do normal, suas costas suadas faziam com que sua blusa colasse em sua pele, mesmo a temperatura estando bem agradável para qualquer pessoa que não estivesse atolada em problemas dormir. Ele encara o teto forrado do quarto, seus olhos fundos e cansados insistem em ficar alerta, não lhes obedessem. Ele pega o celular, olha as horas, suspira profundamente e vira na cama abafando o grito com o travesseiro. O tempo continua passando e nada do sono chegar, chega a ser entediante até seu organismo o força a ir na cozinha beber água. Heitor levanta da sua cama, cansado do dia que teve e preocupado com o que estava chegando, o dia já estava perto de amanhecer e ele não tinha conseguido dormir nem um minuto. Ele empurra seu corpo pelo espaço da cozinha escura, apenas as luzes de fora que entram pelas janelas clareiam o ambiente.

Mesmo tudo estando escuro, ele consegue avistar alguém no balcão da cozinha, seus olhos ardidos se esforçam para ver quem estava lá, mas devida a falta de iluminação era difícil saber quem estava lá. Em passos cuidadosos ele se aproxima da pessoa que está sentada na cadeira com o corpo jogado encima do balcão. Mas ele não tinha nada em suas mãos, e se aquela pessoa fosse um criminoso? Se estivesse armada? O que ele poderia fazer? Parou para pensar olhando em todas as direções em busca de algum objeto que pudesse usar como arma e tudo que encontrou foi uma vassoura que empunhou como se fosse uma espada. Estava pronto para encarar aquela pessoa desconhecida e prosseguiu. Ao se aproximar, um feixe de luz clareava seu rosto, que agora estava visível e para sua surpresa, era Gabriel.

Rapidamente Heitor vai até seu irmão que estava cheirando a álcool.

- Gabriel. - Fala ao tocar em seu ombro, porém ele não esboça nenhum sinal.

- Gabriel, acorda. - Heitor o chama encostando sua mão em seu rosto. Um líquido gelado molha a ponta dos seus dedos e um cheiro quase insuportável sai do corpo do seu irmão. Vômito escorria da sua boca pelo balcão fazendo uma poça aos seus pés, sujando suas pernas.

- O que você fez, irmãozinho? - Fala Heitor cobrindo o nariz com a camisa. Ele se afasta ligando a luz da cozinha, nesse momento seu coração gela ao ver uns riscos de pó branco sobre o balcão, uma garrafa de vodka estava em uma das mãos que estava sobre o balcão enquanto a outra estava totalmente relaxada para baixo.

- Meu Deus, cara, o que você fez? - Fala Heitor enquanto ajeita o corpo do seu irmão em seu colo, sem se importar se estava se sujando ou não. Ele estava completamente apagado.

- Eu não lembrava que você estava tão pesado, seu moleque. - Heitor o leva para o banheiro fazendo o mínimo de barulho possível.

- Dói te ver assim e saber que tudo isso é por minha causa. - Heitor tenta se manter firme, mesmo ele estando sendo consumido por esse ressentimento, essa mágoa que o separa de seu irmão.

Ele o coloca sentado no chão do banheiro e encosta sua cabeça na parede com muito cuidado. Ele ainda estava na mesma roupa de mais cedo. Heitor tirou sua camisa, o short e por fim a boxer azul escuro que ele vestia deixando-o totalmente nú. Por um instante, Heitor se lembrou da última vez que os dois banharam juntos. Gabriel gostava de fazer bolha de sabão, brincar com a espuma fazendo formas com elas. Ele sempre sorria bastante, um sorriso cheio de alegria, repleto de vida, largo, sincero, livre.

- Você está parecendo com o papai. - Falava Gabriel quando Heitor tinha feito um bigode de espuma bem ralo, no estilo do que seu pai tinha.

- Gabriel, obedece sua mãe se não eu vou obedecê-la. - Fala Heitor engrossando a voz e pegando nos braços do Gabriel. Ele sorria como se tivessem feito cócegas nele. Eles ouviam vozes saindo do banheiro, era de seu pai falando com sua madrasta, ela sempre brigava quando eles banhavam juntos porque demoravam demais. Gabriel tosse fazendo com que Heitor volte à realidade. Da última vez que tinha visto seu irmão sem roupa, ele tinha um amendoim entre as pernas, agora o que tem está longe de um amendoim, é maior, volumoso demais para quem tem 14 anos. Alguns pelos cobrem a região, não muitos, mas também não eram poucos, eles estavam crescendo, indicando que Gabriel já tinha removido o excesso antes. Heitor acaba por sorrir ao imaginar que na idade do seu irmão não era dotado como ele.

Ele liga o chuveiro e deixa a água lavar seu corpo. Ele o banha com bastante sabão e uma bucha macia que usou para passar em seu corpo. Após o banho, ele o levou para seu quarto, o colocou na cama e secou seu corpo. Pegou qualquer cueca em seu guarda-roupa e um pijama branco com preto. O vestiu, cobriu seu corpo e deixou ele dormindo. Antes de sair, Heitor faz uma busca pela droga que seu irmão estava consumindo, ele encontra alguns pacotinhos dentro do tênis dele que estava próximo da cama, os recolhe e sai.

Na cozinha, ele organiza os materiais para limpar toda aquela sujeira. A essa altura, já não sentia mais o cansaço que estava sentindo antes, apenas uma força que o fazia limpar tudo. Após a limpeza, tratou de tomar um banho, trocou o pijama que estava usando apenas por um short curto de malha e uma camiseta cinza de mangas pretas feita de algodão, um conjunto bem confortável. Ficou sem cueca, pois suas partes íntimas estavam pegajosas antes do banho, preferiu deixar seu pau livre. Por ser curto, seu volume ficava à mostra na malha de modo a se mexer ao andar.

Com o celular em mãos, voltou para cozinha para beber a água de antes e ali ficou sentado no balcão com os saquinhos da droga que encontrou no quarto do seu irmão. Ficou até o dia amanhecer, pois não conseguiu pegar no sono.

- Aconteceu de novo não foi? - Julieta pergunta ao se aproximar com cara de sono. O cabelo não tinha visto pente ou escova naquele dia, parecia uma farofa de teia de aranha de tão bagunçado. Heitor olha com estranheza.

- Não me olha assim, você sabe que eu vou já dá um jeito nisso aqui. - Fala bocejando.

- Acho que você estava certa sobre ele. - Fala Heitor mostrando a Julieta os pacotinhos.

- Sinto muito, querido.

- Mas ainda não. Preciso pensar se é isso que vamos fazer.

- Existem grupos de apoio além da internação, mas. - Ela faz uma pausa e Heitor continua sua fala.

- Conhecendo ele como conheço, ele não aceitaria ir de jeito nenhum.

- Nós não aceitamos, Heitor. - Suspira Julieta. - Mas é a única saída e você sabe disso.

- Eu vou para escola, quando ele acordar, não comenta nada com ele sobre o que aconteceu.

- Heitor. - Reluta Julieta.

- Por favor. - Insiste Heitor.

- Cuida, vai te cuidar, o ônibus passa... - Ela olha para o relógio de parede da cozinha que marca 6h30. - daqui 30 minutos.

Ele sai em direção ao seu quarto sem se importar se sua madrasta via seu volume, ela também nunca demonstrou importância. Em 15 minutos ele já estava pronto, perfumado com sua fragrância preferida composta por um balançado acorde de aromas frescos com âmbar, amadeirado, herbal e doce. Seu clássico uniforme lhe caia bem no corpo, uma camisa branca de mangas curtas azul escura, uma jaqueta moletom na mesma tonalidade das mangas da camisa que na maior parte do tempo fica aberta e uma calça jeans skinny preta com lycra elastano que se ajustava muito bem ao seu corpo e um tênis branco completava o conjunto de todas as manhãs. O cabelo alinhado e a mochila cinza com detalhes pretos lhes caia muito bem.

Após o café da manhã, Heitor caminhou até o ponto de ônibus onde um grupo de adolescentes conversavam, ele nunca se enturmou com nenhum deles, embora moravam no mesmo bairro e compartilhavam a mesma escola. Heitor nunca foi capaz de puxar assunto, na verdade ele preferia que as coisas fossem assim. A única pessoa com quem conversava era com Saulo, seu melhor amigo que morava algumas quadras da sua casa. Para as outras pessoas, quanto menos tivesse a necessidade de conversar, melhor. Ele gostava de ficar em seu silêncio e queria que as pessoas compreendessem isso sem julgamentos prévios. Muitas vezes quem vê ele em silêncio imagina que está triste, mas não considera que ele está em silêncio apenas por querer estar e gostar de estar.

Heitor suspira fundo e apenas espera que o ônibus chegue sem demora.

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