Capítulo 1.

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São oito da manhã quando estaciono o carro na frente da casa de madeira que meu avô vive. A casa aonde cresci e morei até os 17 anos.

A casa que lembrava minha avó e a minha mãe, merda que saudades.

Desço do carro pegando minhas únicas duas malas que eram enormes e minha caixa de memórias que havia fotos de mamãe e vovó e muitas outras coisas importantes para mim.

Tranco o carro e vou em direção à porta a destrancando com minhas chaves, chamo pelo vovô ao entrar e não tenho retorno.

- Certo, talvez ele tenha ido ao mercado. - Ao fechar a porta puxo minhas malas até o início da escada as deixando lá, subo diretamente para o meu quarto que, está da mesma maneira que deixei quando fui embora.

Os quadros que pintei e deixei no chão agora estavam pendurados na parede, a única coisa que havia mudado. Caminho até a cama deixando minha caixa lá e depois vou até a janela e percebo que o balanço que Pietra, Julia, Ana, Matheo e Heitor, me deram de aniversário de 13 anos ainda estava lá. Amávamos brincar nele.

Esse era meu grupinho da escola desde o ensino fundamental até o médio. Eramos inseparáveis e incrivelmente apocalípticos. Nosso passatempo favorito era jogar bola no pasto do avô de Heitor, lembro muito bem de um boi correr atrás dele, foi incrível.

E no verão sempre íamos nadar no rio que tem dentro da fazenda do vovô.

Sempre íamos escondidos roubar laranja do pomar da mãe de Pietra.

Milhares de histórias e sentimentos, e o principal deles era saudade. Saudade de quando tínhamos mamãe e vovó, quando brincávamos pelas fazendas ou por levarmos advertência na escola porque entramos escondidos no ginásio para jogar bola a noite.

Éramos terríveis, incríveis e inseparáveis.

Bom até que mamãe e vovó falecerem. Era novembro de 2015 quando recebemos a notícia que o carro que mamãe dirigia havia quase se chocado contra uma moto, a rodovia estava lisa, pois havia chovido a noite toda e elas estavam indo ao médico já que vovó estava com a pressão alta.

Minha mãe, tentou desviar da moto e entrou embaixo de um caminhão que estava na contramão e o cara da moto voou longe. Depois descobrimos que o cara da moto era Matheo, ele tinha acabado de ganhar a moto de seus pais como presente de aniversário, ainda me lembro de como chegou radiante na escola no dia que a ganhou.

"Cara é a melhor moto do mundo!" Matheo diz empolgado.
"É só uma moto." Responde Pietra.
"Não, não é só uma moto. É uma BMW s1000rr. É muito melhor que a minha de trilha."

Eu e Matheo nunca fomos tão amigos assim, eramos mais para colegas com amigos em comum e vivíamos juntos por isso. E não, eu não o culpava pela morte das pessoas que eu mais amava na vida, nem vovô. Pelo contrário, ficamos muito aliviados quando recebemos a notícia que ele havia acordado de um coma que durou duas semanas.

Eu até tentei o visitar, mas não tive coragem, porque ao vê-lo eu lembraria que mamãe e vovó não estavam mais aqui. Ainda estava muito recente e eu não tinha forças.

Acabamos por nos afastar, eu me afastei de todos, na verdade. Estava em luto e precisava ficar sozinha por um tempo.

Tempo depois a carta de confirmação que passei em uma universidade da capital havia chegado, vovô estava muito orgulhoso, assim como minha mãe e a vovó também estariam.

Estávamos todos animados com o telefonema na época, já eu com apenas 17 anos entrei em uma universidade incrível com 70% de bolsa. Mamãe disse que me levaria no primeiro dia de aula e que não perderia esse dia por nada na vida e bom, ela perdeu mesmo sem querer.

Vou até o espelho e paro encarando meu reflexo, eu era completamente igual a minha mãe. Cabelos pretos hidratados que agora iam até o final de minha costa, eu os deixei crescer depois que fui embora para estudar, justamente para ficar mais parecida com a minha mãe. Meus olhos verdes são iguais aos de meu pai, sei disso, pois vovó me contou uma vez.

Eu não sou tão baixa, tenho 1,72, por ser alta entrei no time de basquete feminino sem dificuldades quando ainda estava na escola. Eu amo basquete, mas não joguei mais desde que entrei na faculdade.

Faculdade... Bom foi la que conheci Erick, eu havia acabado de me formar em letras e estava começando a cursar jornalismo.

Durante esses oito anos longe de casa dei aulas como professora em uma escola particular e era tutora de alguns alunos da universidade, eu estava no automático fazendo e tudo para não pensar, não lembrar, não chorar.

Então o conheci, ele era tão gentil, educado e simpático, todos o adoravam na época. Ele era bom para todos e então eu me apaixonei e me dediquei a ele e ao nosso relacionamento, era isso que deixava minha mente distraída.

Até que lancei meu primeiro livro pela editora do meu Professor orientador de TCC, ele percebeu meu dom de escrita e me incentivou a publicar um livro e então ele bombou no tiktok, Instagram e no mundo.

Confesso que deixei meu relacionamento um pouco de lado para manter minha carreira e logo outros três livros já haviam bombado e minha carreira crescia ainda mais.

Mas aconteceu algo completamente fora do comum, os comportamentos de Erick não eram mais compreensivos e cuidadosos e sim agressivos. Erick gritava comigo, me diminuía, me excluía das coisas ao seu redor, me procurava apenas por sexo.

Talvez ele havia deixado de me amar, mas não conseguiu me dizer. Eu não sei...

Passou a pegar dinheiro emprestado jurando que ia me pagar depois, mas nunca pagava. Chegava em casa de madrugada fedendo a álcool.

Era insuportável viver assim, pensei em terminar várias vezes, mas sempre que ia fazer isso ele me dava o mínimo de atenção possível e então eu me sentia amada. Assim comecei a me diminuir para caber em sua vida, parei de escrever por um tempo. Parei de viver minha vida e me dediquei a nós, mas já não tínhamos mais jeito. Não tinha mais como salvar aquilo que já se tornou abusivo e nojento.

E agora estou aqui com uma carreira completamente maravilhosa, escrevendo sobre o amor sem nunca ter sido amada. Talvez eu não tenha escrito histórias de amor que eram fruto da minha imaginação e sim fruto do meu coração, relações que eu queria viver, um amor que eu sonhava em conquistar, no auge dos meus quase vinte e cinco anos sonhava em ser amada.

NOTA DA AUTORA;

Olá pessoal, como vocês estão?
Obrigada por ler. Não se esqueçam de votar por favor, isso me motiva a continuar escrevendo.
Beijos, até o próximo capítulo.

Quando o tempo estiver bom, volte para mim.Onde histórias criam vida. Descubra agora