Dark Blood - Jake

Terceiro - III

O vento frio atingiu minhas bochechas com a violência de um golpe certeiro.

Estou parado do lado de fora, segurando uma mala pesada e tendo certeza de que apenas um casaco e um sobretudo não são o suficiente para aguentar o frio horrendo que está fazendo nesta noite. A mansão é um tanto maior quanto a de minha dama e possui um estilo gótico bastante adotado na época em que sua família surgiu e tomou conta da região. Claro, sempre muito discretos. Apesar de poderosos, vampiros são odiados justamente por sua fama de serem seres sanguinários, e, talvez os corações pulsantes não estejam tão errados assim.

— Boa noite Sr. Jake, vejo que chegou cedo, bem na hora da janta.

Mesmo que meu coração ainda batia lentamente, ele pouco se acelera ao me sentir assustado e é este sentimento estranho que me inunda. O senhor baixinho, de cabelos grisalhos e meio corcunda está parado ao meu lado com um leve sorriso nos lábios e mesmo assim não me parece nem um pouco convidativo e receptivo. Respiro fundo e tento não transmitir que estivesse assustado com sua presença repentina e de chegada silenciosa.

— Boa noite. — é tudo que consigo dizer.

— Conde Jay está o esperando na sala de jantar, me acompanhe. — ele vira-se em direção ao lado de dentro, atravessando os portões de aço maciço. — E por favor, entregue seus pertences a Eduer, ele irá colocá-los prontamente em seu devido quarto.

Do meu outro lado, novamente um outro susto à medida que notava o homem mais alto parado ao meu lado, que aparentemente também havia chegado em silêncio enquanto eu prestava atenção atentamente no senhor. Entrego minha única mala em suas mãos e o vejo partir rumo à escuridão.

— Sr. Jay está muito alegre com sua chegada, finalmente ele terá um rapaz da sua idade com quem conversar.

— Tenho certeza de que não temos a mesma idade.

— Bem, isto é verdade. Mas mesmo assim, o senhor terá um conforto maior em conversar com alguém parecido com ele.

O salão principal é escuro e tão grandioso quanto o de Madame, no entanto, possui bem menos lustres iluminados por velas do que estou acostumado. Em algumas paredes há cabeças de animais empalhados, e alguns deles ainda possuem sangue escurecido em suas pelagens.

Isto me fez pensar naquele dia, no meu primeiro dia de vida.

"Um forte sopro surge em meus pulmões, e sinto como se estivesse tentando me livrar de um afogamento em um mar agitado. No entanto, estou em terra firme, em meio a lençóis de seda, mesmo que me sinta emergido em águas profundas e de correntezas violentas. Ao redor tudo que vejo é um quarto luxuoso, de grandes espelhos, tapeçarias vitorianas e luminárias de vela, é tão belo que por um segundo esqueço de mim mesmo. Toco meu rosto, sinto meu corpo e observo minha pele.

Vermelho.

Está tudo sujo de vermelho.

Eu, os lençóis, a cama.

Tudo está sujo.

Um cheiro forte.

Tenho vontade de vomitar.

Estou com tanta sede."

— Tenha um bom jantar, Sr. Jake.

— Obrigado.

O senhor baixinho se despede com uma breve reverência e some em meio às sombras, sou deixado nas portas da grande sala de estar e realmente posso afirmar minha tese ao abrir as portas.

É realmente estonteante.

Mas a visão que tenho a seguir é a mais, digamos, enigmática.

O Sr. Jay é realmente jovem. Ele aparenta acabar de ter entrado nos seu vigésimo ano de vida com o auge da maturidade masculina, época ideal onde os humanos procuram para terem filhos ou começarem a casar. Ele é jovem, belo, admirável e até mesmo encantadoramente agradável de se olhar por muito tempo, não posso negar. Mas sua beleza não é capaz de ofuscar toda esta situação enigmática onde nos encontramos.