E podia estar tudo agora dando errado pra mim Mas com você dá certo

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Clara chegou em casa naquele começo de tarde arrasada. Tudo que ela tinha planejado fazer naquele dia havia ido por água abaixo. Tinha tido uma troca de farpas com Helena logo pela manhã, e se sentiu mal o suficiente pelo resto da manhã.

Logo depois, ela foi ao tribunal disposta a falar tudo que estava entalado desde o momento em que colocou Théo pra fora de sua casa, e que piorou desde que ele novamente conseguiu estragar algo de bom que ela tinha, ao perder Helena por aceitar sua chantagem por puro desespero.

Mas ao perceber o mínimo de chance dela falar algo que não devia, o advogado de Théo solicitou a dispensa do seu depoimento, o que a deixou revoltada. Ela ainda deu uma declaração ao blog sensacionalista de Érika, afirmando que o ex-marido era capaz sim de estuprar uma mulher.

E ao parar para refletir no Uber em que voltava para casa, percebeu que sabia disso, porque aconteceu com ela. Foram tantas vezes que ela nem era capaz de contar. Chegou em casa se sentindo inútil, estava tão cansada. Cansada de ser silenciada, de ser desvalorizada e colocada como irrelevante.

Era assim que uma mulher que sofre abuso se sente? Ela pensou, enquanto chorava no banho. Além da dor física e emocional de sofrer um estupro, Clara viveu um casamento pautado em abuso, e por nunca ter tido outra referência, ela sequer entendia que vivia o que viveu. 

Ela não sabia que podia ser diferente. Não sabia que o que passou inúmeras vezes era estupro, pois achava que deveria cumprir sua obrigação de esposa, mesmo que ela não quisesse. Mesmo que ela desprezasse o toque do homem que ela achava que amava.

E a constatação daquilo finalmente tinha chegado com tudo para ela, o que a dilacerava por dentro. Estava sozinha, não tinha ninguém com quem conversar, com quem contar. Estava engatinhando em uma amizade com Sol, mas não conseguia ainda falar sobre isso com ela.

Se sentia isolada, e agora, por causa da influência sobre ela que aquele crápula ainda tinha até alguns dias atrás, tinha perdido Helena também. Esse era mais um dos motivos do seu choro sofrido. Ela não tinha mais nada, e não sabia como seguir em frente depois de tudo.

Tinha falado com Rafael e Kate ao chegar, e colocou sua máscara de mãe atenciosa, escondendo sua dor de seu filho. Mas Kate sabia, ela percebeu o olhar perdido e cansado de Clara, e suspirou ao ver a mulher sumir no corredor em direção ao quarto.

_Ai amor, eu tô me sentindo tão mal pela sua mãe -ela disse e Rafa soltou um suspiro cansado-

_Eu também amor, ela não merece tudo que ela tá passando

_Não merece mesmo, mas e a Helena? Ela não é namorada da Clara? Por que ela não tá aqui apoiando ela?

_Eu não sei direito, parece que elas terminaram, ou brigaram, eu não tenho certeza.

_Mas brigaram por quê?

_Eu não sei, a minha mãe foge do assunto sempre que eu pergunto, ela não conversa mais comigo. Eu tô muito preocupado Kate, parece que ela tá se fechando cada vez mais e eu tenho medo de que ela, sei lá, acabe ficando com depressão como eu -ele diz cabisbaixo e Kate o puxa pelo rosto para olhar para ela-

_Ei, em primeiro lugar, você tem ansiedade depressiva, não depressão, são duas coisas diferentes. Em segundo lugar, a Clara é uma das mulheres mais fortes que eu já conheci. Não é qualquer uma que aguenta o que ela aguentou com aquele demônio por 20 anos e ta viva pra contar a história. Ela vai sair dessa, e a gente vai ajudar.

_Ajudar como? Eu nem sei o que fazer.

_A gente vai encher ela de amor e carinho, você principalmente, porque ela precisa disso. E eu vou trazer a Helena aqui, eu tenho certeza que essa briga foi uma idiotice e provavelmente ela deve estar na fossa também.

Não Vá EmboraOnde histórias criam vida. Descubra agora