Fearless (Carmiel's Version)

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Havia muitas coisas que Carmen sabia calcular. A velocidade que um trem atingia de um ponto a outro, baseado no tempo que ele havia demorado para completar aquele percurso. Raiz quadrada de uma infinidade de números, medidas das mais variadas formas geométricas e seus ângulos.

Mas não sabia calcular o quanto seu coração acelerava ao ver Daniel se aproximando. Ou como, mesmo quando estavam bem próximos, parecia que a distância ainda era muita. Ou o ângulo daquele bendito sorriso que a fazia sorrir como uma boba.

Definitivamente, seus sentimentos por Daniel não eram possíveis de calcular. E isso era muito estranho.

— Carmen? — A voz dele provocou um pequeno solavanco em seu estomago — Sua mãe disse que eu podia vir te chamar. Meus pais estão lá embaixo, esperando.

— Você não precisava subir. — Ela se virou, sorrindo — Você fica muito fofo de terno.

— Só o Jorge para fazer a gente usar roupa social em um aniversário de quatorze anos. — Daniel revirou os olhos, e logo sorriu — Mas foi uma boa... Você está linda com esse vestido lilás.

— Minha mãe quem fez. — Ela rodou no lugar, sorrindo — É o que eu vou usar na formatura, no final do ano. Então é melhor eu cuidar bem dele.

— Juro proteger o seu vestido com minha vida. — Ele segurou a mão dela e deixou um beijo ali — Vamos?

Se lembrava do medo que sentiu ao entrar no carro dos pais de Daniel pela primeira vez depois que começaram a namorar. Os conhecia há anos, e mesmo assim, se tremeu toda. Ele demorou alguns segundos para se dar conta disso, e quando o fez, segurou a mão dela no banco do carro.

E mesmo que agora ela se sentisse tranquila na presença do casal mais velho, ainda ficava esperando se ele seguraria a sua mão ao se sentarem no banco de trás do carro. E toda vez, sem falta, ele o fazia.

— Está com cara de que vai cair um aguaceiro. — Observou o pai de Daniel, olhando pelo vidro da frente — Querida, é melhor deixar o guarda-chuva com eles.

— Por favor, mãe. O vestido da Carmen é muito delicado, é bom ficar protegido.

Alô borboletas no estômago, como vão?

— Aqui, meu bem. — A mãe de Daniel passou o guarda-chuva para ele — Não vamos poder entrar no clube com o carro, teremos que deixar vocês na portaria. Mas acredito que vocês tenham tempo de chegar ao salão antes da chuva começar.

— Obrigada. — Carmen agradeceu, tímida.

O carro continuou seguindo seu percurso, e as luzes da cidade corriam pelas janelas. Carmen encarou o rosto de Daniel, deitado para trás no apoio de cabeça, com os olhos fechados e um sorriso distraído no rosto. Queria poder tirar uma foto daquilo, para nunca esquecer.

Riu sozinha. Agora entendia por que os meninos falavam que as meninas eram bobas quando se apaixonavam. Será que eles tinham aqueles mesmos pensamentos em relação a elas? Ou isso acontecia apenas em romances clichê e fanfics?

— Chegamos, meninos. — Avisou o pai de Daniel — E está começando a chuviscar. Melhor apertarem o passo. Pego vocês aqui a meia-noite, está bem?

Se despediram depressa, saindo do carro abraçados para ficarem protegidos pelo guarda-chuva. O segurança os informou que o salão de festas ficava a uma boa pernada da portaria, passando pelo estacionamento do clube, as quadras, até por fim chegar ao local.

— O Jorge gasta dinheiro com tanta coisa, podia ter alugado um carrinho de golfe para levar o pessoal para o salão. — Resmungou Daniel, enquanto caminhavam.

— Dan, provavelmente os únicos que precisam andar somos nós e nossos amigos. O resto dos convidados devem ser sócios do clube e estão com os carros estacionados do lado do salão. — Carmen o encarou, mas ele sorria como um bobo — O que foi?

— O jeito que você me chamou: Dan. Eu gostei. Achei muito fofo. — A garota sentiu as bochechas esquentando — Ninguém me chama assim.

— Eu não sou todos os outros, não é?

— Com certeza não. — Ele parou de andar, fazendo-a parar também — Carmen, eu quero...

— Trocar germes e bactérias? — Eles dois riram.

— Bom, é... — Os dedos dele apertaram o cabo do guarda-chuva com mais força — Mas eu estou com vergonha.

— Eu também. — Ela confessou, balançando nos pés — Mas é um bom momento... Está tudo escuro, não tem ninguém por perto, está chovendo...

— É, eu acho que sim. — Ele engoliu em seco, se aproximando — Acho que é agora.

— Acho que sim.

Mas como em uma comédia romântica de sessão da tarde, nada foi como planejado. Ao se aproximarem, Daniel inclinou o guarda-chuva para sair do caminho. Isso fez com que ele ficasse frouxo em sua mão bem no momento em que uma rajada de vento os surpreendeu. E em segundo, o guarda-chuva voava pelo estacionamento, deixando os dois completamente sem fala embaixo de chuva.

— Ai meu Deus, o seu vestido. — Daniel gritou, tirando o blazer que usava e jogando por cima dos ombros dela — Isso deve ajudar.

— Calma, Dan, está tudo bem. — Ela caiu na risada.

— Não está. Espera, eu vou pegar o guarda-chuva.

— Não, Dan... Fica. — Ela segurou a mão dele, o impedindo de correr — Dança comigo?

— O quê? Carmen, está chovendo e...

— Eu sei que está chovendo. Dança comigo na chuva.

Ele ficou parado em choque por alguns segundos, mas então sorriu. Se aproximou, a enlaçando pela cintura, e deixou que ela envolvesse seu pescoço. O blazer caiu no chão com o movimento, mas nenhum dos dois deu bola.

Sem música ou batida, começaram a se balançar no lugar. E foi assim, embaixo de chuva, no meio de um estacionamento deserto, iluminados pela fraca e encoberta luz da lua, que deram seu primeiro beijo.

E quando Daniel a encarou novamente, com o mesmo sorriso bobo que ele carregava a noite toda, ela descobriu que os meninos podiam sim ter os mesmos pensamentos apaixonados das meninas.

— No carro, eu estava pensando que a coisa mais linda que eu já havia visto era você rodando com esse vestido lilás no seu quarto. Mas agora... Eu acho que a coisa mais bonita foi te ver, toda destemida, me segurando pela mão e me chamando para dançar enquanto a chuva ensopa o seu vestido.

E por esse comentário fofo, ele ganhou outro beijo. 

Carrossel (Taylor's Version)Onde histórias criam vida. Descubra agora