– Ei Adam, quer uma carona? – Levanto os óculos escuros quando avisto a figura do meu vizinho de porta caminhar até o ponto de ônibus.
Adam não mudou nadinha nesses anos em que passamos mais afastados. Ele ainda vai para a escola com a mesma mochila, ainda tem o mesmo andar preguiçoso e o mesmo cabelo desgrenhado. Parece que já se passou uma vida desde que fomos amigos, ou ao menos parecidos. Ele se vira para mim e finge surpresa, fazendo voz de garota:
– Ai meu Deus, Allyson Hale quer me dar uma carona!
– Para de ser idiota e entra logo no carro — Rio e ele bufa, então apoia os braços cruzados na janela aberta.
– Vai me deixar na esquina pra ninguém te ver comigo?
– Sabe que não é assim, poxa.
– Eu gostava mais de você no fundamental.
– Se você não entrar agora, eu passo em uma poça d'água perto de você, e sei que essa é a sua camiseta favorita dos Beatles — Reviro os olhos e ele desiste, tira os fones e abre a porta do carro – É isso aí – Sorrio e ele liga o rádio na estação da cidade – Você não entende, não é?
– O que eu não entendo?
– Posso te colocar no topo também, é só falar e faço acontecer. Sabe que faço acontecer.
– Eu não quero o topo, Ally, quero andar de bicicleta com você sem que se preocupe com a sua unha, isso que você não entende.
– E de novo, não dá pra conversar com você.
– É, acho que não dá mesmo.
Olho para os cabelos castanhos claros de Adam ao meu lado e sorrio. Esse cara que costumava ser meu melhor amigo de porta andava estressado e sensível, sem me dar nenhuma chance de redenção. Eu não sabia mais o que fazer pra recupera-lo sem manchar meu histórico. Somos todos atores fazendo parte da mesma peça, e temos que dançar conforme a música, seguir os padrões.
– Você vai assistir ao jogo de lacrosse? – Ele perguntou mexendo no chaveiro da mochila cheia de desenhos feitos com canetinha hidrográfica. Meu nome ainda estava assinado lá. Encarei minha mochila de couro bege no banco de traz e sorri. Quando foi que nós dois fomos parar em mundos tão diferentes?
– Bom, o Jake vai jogar, então...
– Claro, o Jake, eu esqueci que você é a cachorrinha do Jake– Ele murmura – Eu te vejo lá então?
– Sim. Vou torcer por vocês. E Summers, cuidado com a boca, posso te colocar no topo, mas não me irrite, ou vou te rebaixar ainda mais.
Ele ri e depois me encara.
– Ally...
– O que?
– Me desculpe por não ter ido a sua festa de aniversário, fiquei sabendo que a sua mãe fez tacos.
– Tá tudo bem, mesmo.
– Não infle o seu ego, Ally, é uma pena para mim, adoro os tacos dela – Meu sorriso fica ainda maior – Agora que você tem dezoito, tá sentindo alguma coisa estranha?
– Estranha como?
– Sei lá, só estranha.
– Sim, pra falar a verdade tem uma coisa muito estranha... – Ele se vira de novo e eu rio com sua expressão de curiosidade – Bom, é você. Você tá muito estranho.
– Ah, qual é – Adam sorri e eu junto as sobrancelhas. O que estaria acontecendo comigo que Adam poderia saber e ajudar? Eu poderia contar da sombra da janela e do vulto em meu quarto? Poderia contar das pequenas mudanças que estou sentindo no meu corpo? Ou era melhor conversar sobre isso com Jessica e Hazel? Jess me acharia uma retardada e Hazel diria que só estou distraída – Quais são os planos para a tarde?
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Flor da meia-noite
FantasyDizem que quando estamos prestes a morrer, um filme da nossa vida passa na nossa cabeça. Mas não foi bem isso que aconteceu comigo. Vi apenas os espinhos brilhantes de uma bela flor branca e azul. E os espinhos representavam cada péssima decisão que...