Acordei com o despertador do celular tocando na soneca pela terceira vez, então resolvi que era hora de encarar logo o dia e resmunguei ainda debaixo das cobertas. Não queria ir para o colégio, tirar fotos, agir normalmente e conversar assuntos do tipo "Qual vai ser o tema do baile?". Eu deveria ter pensado melhor quando me inscrevi para o comitê de eventos há três anos, mas parecia uma ótima ideia na época, pois Jake era do comitê de eventos.
Jake, Jake, Jake... Adina resmungou, bola pra frente, Ally.
— Bom dia — Jordan disse e revirei os olhos.
— Se perdeu suas asas, por que ainda dorme na minha poltrona?
— Porque estar com você, Flor, em qualquer nível, é melhor do que nada, e mesmo que eu não seja mais sua Anjo da Guarda, não posso correr o risco de te perder.
— Tudo bem, faz o que quiser.
— Ainda tá brava comigo?
— Não, eu disse que tudo bem — Bati a porta do banheiro com força e peguei minha escova de dentes.
— É, ainda tá brava comigo — Ela disse e ouvi a janela sendo aberta. A energia do quarto ficou mais calma na mesma hora.
Estar com o Jordan nesse nível me deixava aflita, ela não era uma Caída quando nos conhecemos, eu nunca me envolveria com um Caído. Ela era um Anjo importante no céu, com uma ordem social boa e respeitada, até que a mandaram para me vigiar, e tudo foi por água abaixo.
Não me lembro das vidas depois de mim, mas se eu era humana, não era capaz de distinguir, então o erro era aceitável. Um Caído tem a alma negra, e assim que entra em algum recinto, o lugar todo fica com a sensação de estar envolto em espíritos fugitivos. Eu não conseguia não ficar com medo, era amedrontador.
Jordan, Jordan, Jordan... resmunguei de volta, bola pra frente, Adina.
Eu não estava literalmente com raiva de Jordan, mas ela ainda escondia coisas de mim, eu podia sentir, ver na sua alma. Eve não teria aparecido do nada, já que ela sabia das asas, e o contato extremamente íntimo entre as duas me deixava intrigada. Se os diurnos da floresta sabiam quem era o Mestre, era óbvio que ela também saberia, então por que Jordan ainda não tinha comentado nada sobre o assunto? Nem uma palavra sequer.
— Ei Allyson, erraram as cores do colégio, esse não é o azul que pedimos.
— Allyson, o fotógrafo ainda não chegou, o que fazemos?
— Ally, temos que levar a proposta de decoração para a diretoria, mas tem um problema na edição.
— Eu preciso de um tempo, gente — Sussurrei sentindo a cabeça doer. Ter Adina comigo já não era fácil, e esse tanto de problemas só aumentava ainda mais minha enxaqueca.
Saí daquela sala e andei em círculos pelo corredor, massageando minhas têmporas, pensando no que fazer. Eu poderia desistir da escola, assim teria mais tempo. Não, tinha que me formar para entrar na faculdade. Nephilins correndo risco de morte não deveriam se preocupar com tubos de ensaio. É a minha vida! É a minha também! Eu cheguei primeiro! Não chegou, não!
— Inferno! — Gritei para o vazio e escorreguei pelo meu armário até chegar ao chão, onde enterrei a cabeça entre os joelhos.
— Dia difícil? — David se senta ao meu lado.
— Vida difícil.
— Já sei do que você precisa.
— De férias?
— Da quadra, qual a última vez que treinou com as meninas? — Ele diz tocando seu ombro no meu.
Quase me retraí. Ainda não tinha me acostumado com a presença de David tão em cima de mim. Meu primeiro instinto era dizer algo cruel e deixá-lo se tocar a ir embora, mas as coisas estavam diferentes agora. David ainda era esquisito, só que ele estava disposto a ajudar, e eu não estava em condições de dispensar ajuda. Seja ela qual for.
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Flor da meia-noite
FantasyDizem que quando estamos prestes a morrer, um filme da nossa vida passa na nossa cabeça. Mas não foi bem isso que aconteceu comigo. Vi apenas os espinhos brilhantes de uma bela flor branca e azul. E os espinhos representavam cada péssima decisão que...